"Eu vejo tua cara e teu querer perverso, a gente fica bem aqui no chão da sala. Eu te queria a vida toda, te confesso... por mim, a gente nem precisa mais da estrada" - lisboa
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Camomila. Tudo que passava na mente de Diana quando via Fátima. O perfume dela, sua pele macia sob seus dedos quando se abraçavam, o cheiro do cabelo macio, o sorriso brilhante e o som que saia do piano quando seus dedos gentis e mágicos tocavam as teclas. Diana era apaixonada pela a amiga em segredo desde sempre. Desde a primeira vez que a viu, depois de mudar para o condomínio em angras. Grudadas pelo destino. Sorriu com a lembrança de uma Fátima adolescente e sorridente, toda tímida em frente a sua porta, segurando um bolo de boas vindas. E agora naquele momento, sua cabeça só conseguia assimilar como a amiga ficava linda de vermelho. Assim como em um dia chuvoso, quinze anos atrás, e quando as palavras eram sim necessárias, mas por medo não haviam sido ditas. Onde medos bobos não deixavam as palavras saírem tão fáceis. Mesmo hoje, agora adulta, ainda não saiam... Por medo e algo mais, casamentos infelizes, de ambos os lados. O coração parecia querer saltar do peito, quando Fátima descia do palco e andava devagar em sua direção. O tempo desacelerando. Camomila... Em tudo!
- E aí como eu fui? - perdeu-se em seus olhos, tão brilhantes quanto constelações inteiras.
- Excelentemente bem, princesa - proferiu o apelido e tocou sua covinha direita, fazendo Fátima abrir um imenso sorriso, lembrando os tempos onde ela sempre fazia isso. O fôlego lhe escapou quando sentiu os braços da amiga enlaçar seu pescoço, a puxando levemente para baixo e fazendo o coração de Diana desenvolver um tipo novo de batida, como se refletissem as notas do piano de Fátima. Pele sob pele, quente e macia fez com que o corpo dela não soubesse mais o que sentir e os joelhos pareciam areia de tão moles, prestes a desmoronar a qualquer segundo. Sorriu sentindo o perfume de camomila, característico da morena, invadir seus sentidos e desnortear sua mente, algo que sempre acontecia em sua presença. O beijo na bochecha que veio logo em seguida lhe parecia extremamente desnecessário, já que isso só servia para deixá-la ainda mais apaixonada, em todos os sentidos.
- Você sempre fala que eu fui bem, será que não tá mentindo? - estreita os olhos para a loira, que depois de um tempo em choque ri, jogando o cabelo pra trás e olhando Fátima nos olhos
- Impossível mentir pra melhor pianista do mundo - seu sorriso se alargou ainda mais e Diana pensou que poderia morrer ali mesmo, com o sorriso de Fátima - Afinal, você ainda me deve aquelas aulas de piano...
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Fátima sempre foi uma pessoa confusa. Tinha dúvidas sobre o que vestir, o que comer e tinha dúvidas sobre sua vida amorosa. Quando conheceu Diana, todas as dúvidas do seu coração pareceram ir embora, tudo sumiu. Toda vez que via a amiga sentia o coração dançar como uma escola de samba, como se fosse o dia mais lotado da liberdade. Mas assim que Diana iniciou seu romance com Hugo, ela enterrou todos esses sentimentos no fundo do peito, ignorando as batidas frequentes do coração, começando novamente a ter dúvidas. Com certeza Diana não sentia o mesmo, era apenas uma paixão platônica e inútil. Tentou desistir, mas era difícil quando a loira parecia tornar tudo tão impossível, sorrindo, jogando o cabelo de lado, tendo um perfume tão inconfundível...
Fátima suspirou, olhando novamente seu reflexo no espelho. O rosto visivelmente cansado pela noite não dormida, devido aos inúmeros pensamentos em turbilhão da sua cabeça. Depois do concerto tudo que passava em sua mente era em como tinha que acabar de vez com aquela paixão adolescente, ela era casada e obviamente hétero. Como tinha se apaixonado por ela? Não! Na verdade a pergunta era: como não se apaixonar por ela? Seu jeito carinhoso de ser, suas mãos gentis toda vez que se abraçavam, a ausência do calor de seu corpo quando ia embora. Mas era isso que matava Fátima por dentro, a presença da ausência do amor dela... Não sabia se suportaria continuar vendo ela e Hugo se beijando mas reuniões que faziam, entre amigos. Como quando foi convidada para a piscina e depois de uma gracinha, onde Diana havia puxado levemente sua canga (e diga-se de passagem, Fátima imaginou mil e uma coisas sentindo a mão da loira puxar o pedaço de pano que cobria seu corpo), sentiu um ciúmes descomunal com o marido dela quase a engolindo. Onde estava o respeito?