O fumo embaciava muito ligeiramente o ambiente do bar em que aquele homem estava, o peito e a cintura destacados pela fina camada de tecido de sua regata branca. Reclinando-se sobre a mesa de sinuca diante de si com um cigarro à boca, acomodou o alongado taco amadeirado de bilhar entre seus dedos polegar e indicador.
— Uoh! — exclamou Porchay ao ver seu colega de trabalho realizar um lance certeiro, responsável por encaçapar duas bolas de uma vez.
Não havia ninguém que fosse páreo para Porsche naquela pequena cidade, desde que ele se mudara para lá pouco após tornar-se policial. Era um jogador invicto. A fim de manter o título, aproveitava os domingos de folga para visitar o estabelecimento de Vegas, que assistia às partidas tediosamente enquanto mantinha-se atrás do balcão de madeira maciça. Tratava-se de um ponto de passagem conhecido na região, o qual era muito frequentemente visitado por forasteiros, por mais que também contasse com clientes fiéis.
— Você não dá nem pro cheiro, Porchay — zombeteou o barman, lustrando pacientemente um copo de vidro antes de colocá-lo sob o tampo do móvel à sua frente.
— Você também escutou os móveis falarem, cara? — Chay perguntou sarcasticamente a Porsche, que riu enquanto esfregava um cubo de giz na ponta do taco. Realmente, o homem passava tanto tempo ali, que parecia ser parte da mobília.
— Não me meta na briga de vocês — sorriu o policial, posicionando-se de costas para a entrada do botequim a fim de angariar um melhor ângulo para a próxima tacada.
Nesse momento, um desconhecido adentrou a porta de balanço do local, que era todo decorado à moda faroeste. Vegas abriu um sorriso discreto e acenou brevemente com a cabeça.
— Boa tarde — disse.
— Boa tarde — um tom de voz rouco e maduro respondeu educadamente. O desconhecido, que trajava uma camisa social branca — os dois botões superiores abertos e as mangas arregaçadas — e uma calça jeans surrada de cor azul, sentou-se numa das banquetas diante da bancada. — Um uísque, por favor. Qualquer marca serve.
— É pra já — Vegas recolheu, de sua estante de madeira repleta de bebidas dos mais variados tipos, a opção mais popular da casa. Serviu-lhe um copo old fashioned* com agilidade.
— Filho d'uma puta! — exclamou entusiasmadamente Porchay, interrompendo a interação entre os dois homens diante de mais um lance preciso de seu oponente.
O xingamento estridente levou o desconhecido a olhar para trás, e uma risada divertida de Porsche antecedeu uma inevitável troca de olhares entre ele e o estranho, os quais, em razão da disposição de seus corpos, estavam praticamente de frente um para o outro. A figura até então sem nome voltou-se inteiramente para a mesa de sinuca, localizada entre a entrada e a bancada do bar — entre ambos, portanto —, e cruzou as pernas, interessado na interação.
— Você é o cara que sempre vence na sinuca?
Aquele homem tinha o olhar magnético, diante do que Porsche engoliu em seco, hesitante, e passeou a língua pela face interna de uma das bochechas. Recolheu um cigarro de seu bolso após apoiar seu bastão no tampo da mesa à sua frente, e acendendo-o, respondeu à pergunta alheia apenas ao expirar um tanto de fumo através dos lábios carnudos e morenos:
— Ele mesmo — "As notícias correm rápido em cidade pequena", pensou.
Foi respondido com uma risada anasalada. O homem ergueu-se de seu banco e aproximou-se, encarando-o demoradamente.
— Arranje-me um taco — fez sinal para o confuso Porchay — que, diante da imponência alheia, afastava-se —, a fim de que ele lhe cedesse o bastão de sinuca que empunhava. — Eu adoraria jogar uma partida contra você.
Outros frequentadores do local, que até o momento estavam conversando em suas mesas, pararam para espiar a tensão que se formava. Estava lançado o desafio, e todos colocavam-se a postos para assistir.
◇◇◇
Lembro-me bem de quando conheci aquele homem alvo de braços fortes e parcialmente desnudos. Encarando seu peito, era capaz de entrever um par de músculos salientes e bem definidos no vão entre os botões abertos, e estes ficavam ainda mais expostos quando ele inclinava-se próximo à mesa de sinuca e me encarava de baixo, o olhar oblíquo, antes de passar a língua pelo lábio inferior e efetivamente preparar-se para sua jogada.
Ambos sabíamos o que aqueles gestos entre lances significavam e, como dois delinquentes, divertíamo-nos com a eletricidade proibida que passeava por nossos torsos a cada troca de olhares.
Ele estava flertando comigo.
Gradualmente, o desafio ali travado tornou-se outro, e continuaria, independentemente de quem vencesse a partida que se sucedia diante dos olhos curiosos dos demais. Tratar-se-ia de uma disputa dentre becos em lençóis — eis algo que nós previmos desde o princípio, ao cruzarmo-nos naquele bar. Entretanto, dificilmente poderia eu, Porsche, prever uma outra coisa: que, após aquele dia, haveria muito mais em jogo do que uma noite de prazer.
Notas do capítulo:
*modelo de copo próprio para o consumo de uísque.
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Nota da autora:
Oi, minhas amoras. Vão bem? Bom, quis deixar um pequeno rascunho do que tentarei trazer para vocês nesse desafiador plot, "As algemas da carne". Ainda não tenho data para início da publicação, mas não resisti a deixar um gostinho da progressão de minha escrita após esses dois meses de hiato.
Espero que apreciem.yuudae.
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[KinnPorsche] As algemas da carne.
FanfictionCerta noite, Porsche avista um homem desconhecido enquanto joga sinuca no bar onde ele costuma beber durante as folgas. Após uma madrugada ardente com o forasteiro, ele descobre que a pessoa por quem se interessou é um criminoso nacionalmente procur...