I

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Entro correndo em meu apartamento e subo a escada de dois em dois degraus por que a saudade que eu estava sentindo dela era infinita.
Apresso meu passo para chegar o mais rápido possível no quarto, mas já perto da porta, o que vejo me faz parar de repente. Minha esposa dorme apoiada em dois travesseiros, quase totalmente sentada, suas mãos segurando protetoramente a barriga de quase seis meses. Sinto meus olhos encherem de lágrimas. Quando penso que não posso amá-la mais do que já amo, cenas simples como essa acontecem para me mostrar que não há limite pro amor que sinto por Clara. Contrariando a pressa que me consome, tiro os sapatos, coloco a bolsa do lado do mesmo e entro no quarto na ponta dos pés. Sei o quanto tem sido difícil pra ela dormir com esse barrigão. Idas e vindas infinitas ao banheiro, dificuldade pra respirar, um neném agitado dentro de si nas horas mais inesperadas. Não tem sido fácil, mas tem valido cada segundo. Ela respira fundo e se mexe, virando levemente a cabeça para onde estou. Ela abre os olhos lentamente e sorri quando me vê, aquele sorriso que sei que é meu, e que só aceito dividir com Rafael e aquela pessoinha que até então, ainda mora dentro dela.

- Oi, meu amor. - Ela diz um pouco rouca, e se ajeita melhor na nossa cama.

Finalizo minha distância até ela e me sento ao seu lado. Tomo sua boca em um selinho demorado e encosto nossas testas.

- Me perdoe por hoje. - Olho em seus olhos.

- Se essa criança herdar seus olhos, Deus terá que ter piedade de mim, por que nunca mais serei capaz de dizer um não dentro dessa casa. - Ela ri e me beija, dessa vez fazendo questão de juntar nossas línguas.

- Quero que ela seja igual a você. - Falo acariciando seu rosto. - Você não ficou mesmo chateada?

- Claro que não, amor. Eu sei como as coisas no estúdio estão corridas. - Ela fala e se vira para sentar entre meus braços e pernas, suas costas apoiadas em meu peito. Ela encaixa sua cabeça em meu pescoço  e eu coloco minhas mãos em sua barriga, acariciando nosso pequeno ser.

- E aí? Conseguiu ver? -Pergunto sem conseguir me conter. Ela mexe a cabeça negativamente e coloca suas mãos sobre as minhas, entrelaçando nossos dedos.

- Nadinha de nada, como das outras vezes. Super preguiçoso, praticamente a mesma posição, pertinho fechadas e orelha presa na mãozinha. - Ela se vira e olha pra mim. - Será possível que eu vou ser somente a pessoa a carregá-lo?

Dou risada e a beijo, aproveitando cada segundo daquele momento que eu sempre quis viver. Clara me mudou desde nosso primeiro encontro. Desde o nosso encontro na festa de imprensa eu sabia que seria ela a mulher que guiaria o resto dos meus dias.

Tenho certeza que é uma menina. - Digo, já imaginando os traços de Clara desenhados no rosto de um bebê, do nosso bebê.

- Engraçado, eu também tenho essa sensação. - Ela se aconchega mais ainda em mim.

- Eu proponho que não tentemos descobrir de novo. - Ela me olha com uma cara de interrogação, então continuo. - Faz três meses que estamos tentando descobrir o sexo. Vamos deixar ela chegar, ou ele, claro, e aí saberemos. Não vai fazer diferença.

Ela franze as sobrancelhas, e sei que está pensando no que acabei de dizer. Então ela sorri, e seus olhos fecham levemente.

- É, não vai. Você tem razão. E sabe porque? - Ela agora vira o corpo todo para mim, abraçando meu pescoço da melhor forma possível.

- Porque? - Eu franzo as sobrancelhas. Ela ri e eu cheiro seu pescoço, sentindo um arrepio percorrer seu corpo.

- Porque essa criança é nossa, fruto do nosso amor, só isso que importa. - Ela segura meu rosto entre as mãos e toma meus lábios. Ambas rimos entre o beijo e quando tento puxa-la para mais perto sou impedida por sua barriga. Não vejo a hora de ter nosso neném nos braços.

- Eu! - Me afasto rapidamente com os olhos arregalados. - Esse chute foi forte.

- Parece que a troca do dia pela noite, espero que não seja assim quando nascer. - Ela suspira.

- A barriga já está incomodando?

- Não muito, mas começou a pesar. E minhas costas doem um pouco também.

- Você quer uma massagem? - Pergunto baixo, sei muito bem onde nossas formas de relaxar chegam. Com a gravidez o processo ficou um pouco complicado mas ainda prazeroso e Clara parece ter dobrado seu apetite sexual.

- Bom, eu ia tomar um banho agora mesmo. - Clara ri travessa.

- Eu posso te ajudar? - Faço uma cara de menina pidona e ela assente.

Helena sai do quarto e vai checar se Rafael está em casa, percebendo que o menino havia saído com a namorada pois a casa estava silenciosa demais.

*****

Helena checa a temperatura da água antes de me puxar para o box, desde que descobriu que seria mãe ela se tornou ainda mais protetora. Liga para saber se eu comi ou me hidratei, se dormi bem e até mesmo quantas vezes fui ao banheiro. Eu sempre reviro os olhos para todas as recomendações exageradas.

A água quente vai em minhas costas e alivia meu cansaço, eu sinto os músculos relaxarem, a água escorre pela pequena grande protuberância em meu ventre, enquanto Helena passa o sabonete líquido de lavanda em minha pele com cuidado. Seus olhos ternos me enchem de amor quando ele me olha como se eu fosse a coisa mais importante da sua vida.

Quando termina de me banhar, ela ergue uma grande toalha e faz questão de secar toda partezinha de meu corpo.

****

- Deita na cama e me espera. - Sussurro em seu ouvido a empurrando gentilmente para o quarto. Troco minha roupa colocando apenas um pijama branco e leve, procuro entre os armários de nosso banheiro até achar um pequeno vidro de líquido roxo. Minha mãe havia nos presenteado com esse óleo de massagens após uma de suas viagens para a Europa. Deixo o banheiro e encontro um quarto de luz baixa e silencioso, o único barulho vem do ar condicionado ligado. Clara está deitada de lado, meio inclinada, tudo que cobre seu corpo é uma pequena calcinha preta.

Me aproximo devagar sentando na beirada e me ajeitando melhor, minha mulher está de olhos fechados e respirando calmamente, mas eu sei que ela não está dormindo. Despejo um pouco de essência na mão e passo uma na outra antes de tomar suas costas, e a sinto estremecer levemente. Começo uma passagem lenta, tentando pegar os pontos certos, ela se retrai quando eu acerto alguma área mais dolorida e, minutos depois, está totalmente relaxada. Puxo o edredom e dou um beijo em sua testa.

- Boa noite, meus amores. - Sussurro para ela que dorme serena.

- Boa noite, amor - Ouço sua voz fraca e sonolenta antes de apagar a última luz que resta acesa.

Admiro ela e faço carinho no seu rosto que faz um biquinho fofo e  um barulhinho, fico observando ela até cair no sono junto com ela.

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