1

5 2 0
                                    

Ainda não tínhamos experimentado o banho de chuva. Mas já chovia quando olhei pra cima. Jacob estava bem ao meu lado, falando algo sobre suas tarefas da próxima semana, não tínhamos dormido juntos no sentido de ambos terem se perdido nas curvas um do outro, mas havíamos acabado de acordar. E o chuvisco conseguia ser visto da pequena janela de seu quarto escurecido pelo fim de tarde. Meu queixo apontava pra cima, observando o caimento daquele clima perfeito.

A sensação de que a chuva estava sendo apreciada fazia parte de mim. Umedeci os lábios e retornei meu olhar pra ele. Ainda perdido nas palavras, estava acostumado a eu não estar olhando-o exatamente nos olhos enquanto falava, e mesmo que eu tivesse colocado minha atenção momentos antes à algo, minha cabeça e pensamentos estavam nele. Exatamente nele.

A chuva só havia me feito lembrar de pequenas e pequenas coisas que eu gostava e estava vivenciando. Coisas que antes eram pequenos flashs de memória do que eu imaginava.

— Você precisa acordar em alguma hora. — disse ele. Dei risada, enquanto foquei meus olhos nas suas íris escuras. Os olhos levemente puxados dele estavam presos à mim. A boca avermelhada e bonita por seus contornos me aguardavam. Mas eu apenas respirei fundo antes de me erguer.

— Estou acordada dessa vez.

— Perdida nos seus pensamentos... — ele sussurrou. — No que você tá pensando?

Encostei a cabeça na parede, bloqueando a luz que me impedia de vê-lo de uma boa forma, e finalmente soltei o suspiro que eu queria dar.

— Em nada. Por que? — o movimento que ele fez com a boca e o sorriso convencido que deu me causaram borboletas e mais borboletas no estômago.

Haviam se passado tantos meses e eu não entendia como aquela pequena sensação se mantinha tão viva conforme nos víamos.

— Nada. Sua boca está tão distante da minha — percebi ele choramingar. E foquei meus olhos nos seus novamente. Os traços avermelhados em sua pele quente me lembravam chocolate e cacau em pó, ou o ébano e o café. Tão lindo e irresistivelmente lindo. — Venha me beijar.

Soltei o riso. Seus olhos divertidos pareciam sussurrar a mesma coisa que seus lábios. E me aninhei perto de seu corpo, demorei em observar sua pele e sentir a saudade que eu estava dele. Mesmo que a semana tivesse nos proporcionado pequenos encontros entre as responsabilidades, eu queria estar cada vez mais presente em quem ele era, no que ele queria ser. E o beijei.

Esquecendo de respirar, ou não me importando com outra coisa senão com o perfume que ficaria em minha pele e me lembraria dele. Minhas mãos estavam em seu rosto, trazendo-o para mim, me entorpecendo tanto quanto a primeira vez. A maciez da sua boca, a sensação do encaixe entre nós, o voo da borboleta em meu estômago.

Sorri assim que me separei dele.

— O que foi? — Ele perguntou.

Pensei em todas as pequenas coisas em que minha mente focou durante aqueles longos segundos.

— Nada.

E deixei meu sorriso escapar.

Três Coisas que Amalie Harris Não FaziaOnde histórias criam vida. Descubra agora