Uma semana depois – dia da Festa do Peão
Minas Gerais estava numa alegria de menino e não parava de agradecer São Paulo sempre que via o amigo pelos corredores da pousada onde estavam. Ele conseguira ingressos para o rodeio de Barretos. Barretos. Aquilo devia fazer sentido para os dois, mas Espírito Santo e Rio de Janeiro estavam boiando. Aliás, surpreendentemente São Paulo deixou que Rio viesse, depois que a garota contou que ela tinha dito a Mato Grosso do Sul que ele convidara todo o sudeste, mais os irmãos gêmeos e Bahia. Ele providenciara ingressos para todos, acendendo um cigarro logo em seguida para aliviar o estresse de lidar com imprevistos, mas não ficara zangado com ela.
Uma parte dela estava aliviada por ver Minas feliz, e a outra parte com medo. Ela esperava que todo mundo estivesse comentando que ela batera no Mato Grosso do Sul, mas tudo estava quieto. Nem mesmo Rio que era fofoqueiro das redes sociais não vira ninguém comentando o caso. Ao que tudo indicava, o acontecido estava somente entre os seis – por hora. E neste momento, a única certeza que ela tinha era que a paz duraria somente até a noite. Ninguém sabia se Mato Grosso do Sul viria ou não e nenhum deles achou jeito de perguntar ao homem, nem à irmã dele. São Paulo apenas enviara os ingressos e somente Bahia respondeu que viria. Minas parecia ter se esquecido de perguntar se ela descobrira porque Mato Grosso do Sul estava bravo com ele, e ela estava grata, pois não teria coragem de responder de qualquer forma.
Mato Grosso do Sul passara a última semana remoendo o dia da reunião no Distrito Federal. Durante o dia, ele não tinha fome para comer e passava a maior parte do tempo em que não estava trabalhando junto do gado na fazenda ou na sombra de alguma árvore, tentando inutilmente espairecer. Durante a noite, não conseguia dormir e relembrava suas memórias com Minas Gerais.
Todo mundo o apelidava de Queijinho, por motivos óbvios, mas ele tinha seu próprio apelido para o amigo, e aquilo o fazia sorrir.
As famílias deles eram amigas desde que eles eram toquinhos de gente. Ele gostava de brincar com o branquinho mais do que com os primos. Eles pegavam caixotes de madeira de feira e fingiam que eram tratores, brincavam de lutinha e de correr um atrás do outro e claro que isso dava em acidentes.
Uma vez, quando eles tinham onze anos, Mato Grosso do Sul caiu no chão, ralando os joelhos e cortando as palmas das mãos ao amparar a queda em cima de uma pedra escorregadia perto de um riozinho. Ele começou a chorar de desespero, seu rosto ficou muito vermelho e as lagrimas salgadas caíam quentes e pinicando seu rosto. Doía muito e não parava de escorrer sangue, sua mãe bateria nele por ter se machucado e rasgado os joelhos das calças novas e seu pai gritaria e ficaria bravo com ele por ter chorado, ainda mais na frente de "outro homem".
Naquele momento, um Minas Gerais magrinho e miudinho o abraçara.
— Calma, Matinho, eu tô aqui cocê, eu te salvo.
Ele então o pegou com seus bracinhos fininhos pelos sovacos e o arrastou mais até a borda do rio, e limpou suas feridas com água. Mato Grosso do Sul silvou de dor:
— Tá ardendo.
Minas então soprou os machucados, e vendo que aquilo acalmava o amigo continuou soprando e abanando com suas mãozinhas. Mas seus olhos grandes estavam cheios de medo ao ver que ele voltara a chorar:
— Que foi? Tá doendo mais?
— Eu num quero volta pra casa. – disse ele baixinho, escondendo o rosto com as costas das mãos.
— Por que não?
— O pai e a mãe vão briga com eu.
— Eu vô ficar do seu lado e não vô deixa.
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Como é que se diz Eu te amo
FanfictionComo você se aproxima da pessoa que faz seu coração bater de um jeito quase doloroso no peito, como se cada batida fosse a última, olha em seus olhos e confessa o segredo que mais lhe causa medo? Medo de se declarar e perder essa pessoa de vez? Se v...