Capítulo 4 - Mate amargo (PR x RS)

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Rio de Janeiro tinha ido com São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo buscar Minas Gerais e Mato Grosso do Sul para a reunião de emergência que Brasília convocara no Distrito Federal. Nem todos os Estados estariam presentes, o restante, quase todo o Nordeste, acompanharia a reunião por vídeo-chamada.

Bahia, Mato Grosso, Goiás e Paraná dirigiram direto para o Distrito Federal, e já estavam lá quando os outros chegaram, assim como Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, Amapá e Pará.

— Muito obrigado por terem vindo tão depressa. – disse Brasília, fechando a porta da sala a prova de som e olhando para todos os cantos.

São Paulo não pode deixar de reparar no gesto da mulher. Ela não parecia bem e estava mais cansada que do habitual, e como se isso não fosse o suficiente, agora parecia estar paranoica também, olhando a sala a procura de câmeras ou de pessoas olhando pelas janelas.

— Nada do Brasil ainda? – perguntou Bahia.

— Não, ele ainda não entrou em contato. Três dias atrás eu encontrei uma pasta com o cronograma dele. Aparentemente o Brasil andou se esforçando para adiantar serviço o suficiente para quase dois meses, pelo visto ele resolveu sair sem avisar ninguém. – ela parecia magoada. – Mas agora nós temos novos problemas. – disse Brasília, que se sentou na sua cadeira à direita da cadeira do Brasil, olhando brevemente para ela, como se verificasse pela milionésima vez se o chefe estava lá, torcendo para que fosse apenas ela alucinando o tempo todo. Ela abriu uma tela para que os presentes visualizassem no telão as informações e os que que estavam na vídeo-chamada acompanhassem em suas próprias telas.

— Nós temos monitorado uma ameaça que nos preocupa há um bom tempo. Eles são o Trem de Aragua, um grupo criminoso, dá até para chamá-los de máfia da Venezuela. Volte e meia alguns deles são detidos no norte do país e nós tentamos impedir a entrada deles no nosso território, mas isso é muito difícil, e agora eles acabaram de se tornar um problema maior. – Brasília trocou um olhar com São Paulo.

— Perdoe a minha ignorância, mas o que eles têm feito aqui no Brasil para começo de conversa? – Rio fez a pergunta que muitos Estados estavam com vergonha de fazer.

— Eles são um grupo criminoso influente na Venezuela, como o Primeiro Comando Capital de lá. – disse São Paulo, que tinha ficado um pouco mais tenso. – Eles fazem extorsão, sequestro, roubo, contrabando de alimento, fraude e lavagem de dinheiro, mas como se isso já não fosse preocupante o suficiente, eles também estão envolvidos no garimpo ilegal, contrabando de imigrantes, homicídio, venda de armas, tráfico de drogas e de pessoas. Eles vendem armas para o PCC dentro do território brasileiro e provavelmente traficam ouro garimpado ilegal daqui de dentro para fora. Mais de trinta por cento do nosso ouro, provavelmente muuuito mais, é extraído ilegalmente no norte e vendido no mundo todo, esse é um esquema grande demais para o Trem de Aragua ficar de fora. Quando um negócio não é mais lucrativo, eles focam em outra coisa.

— É verdade. – disse Roraima. – Muitas operações já foram feitas no meu Estado. Você se livra de alguns, mas outros sempre vem, não só eles.

— Eles são muito parecidos com o PCC, eles nasceram e operam de dentro dos presídios, mas o que torna difícil acabar com eles é que o poder que eles têm entre os políticos da Venezuela. – continuou São Paulo. – Eles já têm pessoas até nos Estados Unidos, algumas das armas que eles traficaram pra cá não são só da Venezuela. – Rio reparou que São Paulo fez um movimento involuntário com os dedos, como se estivesse manuseando um cigarro.

Ele devia estar mesmo nervoso.

— Eu elaborei um plano de contenção. – continuou Brasília, enquanto os outros olhavam para o mapa disposto na tela. – Os pontos em vermelho são os locais onde recebemos relatórios e denúncias de movimentações suspeitas. – todos os Estados que faziam fronteira estavam marcados, os irmãos Mato estavam bem, mas Pará, Roraima e Rondônia estavam numa situação bem ruim. – A minha ideia é colocar alguns Estados com experiência para ajudar na fronteira e os outros ficam responsáveis por administrar os Estados dos ausentes pelo tempo que for necessário.

Como é que se diz Eu te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora