Atrás dos Sonhos

Capítulo 2

"Todas as noites e todos os dias, eu vou fazer do meu jeito. Portanto, não se preocupe comigo. Vou ficar bem."

-Do My Thang, Miley Cyrus.

Parecia uma névoa serena, nuvens cor de rosa se espalhavam por todo o céu. Vovó estava cuidando do seu jardim de Cerejeiras e Lírios Stargazer, suas flores favoritas. Apareci na sacada do meu quarto, e ela me chamou com um aceno. Desci correndo a clássica escada de degraus largos e corrimão de madeira. Ao chegar próximo da vovó, ela me abraçou tão forte que surgiu um misto de saudade e tristeza. Vovó me contara da história desse jardim quando eu tinha 7 anos. Meu querido vovô plantou essas lindas flores assim que se casaram, e era o símbolo do amor que nascera a anos atrás. Todos os dias, eu admirava a forma como ele era preservado, e o aroma doce que as flores liberavam no ar. Esse jardim levou anos para tomar forma, cheiro e cor. Foi preciso regá-lo e podá-lo, do mesmo jeito que é preciso cultivar o amor.

Eu odiava sonhar. Quando criança, eu era uma menina que planejava o futuro, plantava sonhos e corria o máximo atrás deles. Mas, a vida me fazia tropeçar para todo lado que eu caminhava. Essa noite recordei, através de um sonho, a época que eu passava as férias na casa dos meus avós. Senti uma leveza que há muito tempo não sentia. Parecia que eles queriam deixar uma mensagem, mas eu não conseguia escutar. Foi bem estranho, para falar a verdade.

Merda, meu celular. Pensei, ao lembrar na noite passada. O medo tomava conta de mim, e eu só conseguia pensar no que ia acontecer. Levantei da cama, andei de um lado para o outro no pequeno quarto que eu dormia. Apesar do meu elevado status na empresa, o meu salário ainda não era tão alto. Isso se explicava por eu, teoricamente, não possuir muita experiência no mercado de trabalho. O que eu achava uma injustiça, já que era considerada uma das melhores na empresa. Mas, o que eu iria fazer? Não tinha outra opção. Ainda precisava conquistar meu espaço na cidade, no país, no mundo. Sim, eu penso alto.

Abri a comprida porta de espelho que dava para o meu closet. Escolhi um vestido preto, saltos nude e a bolsa mais desejada por todas as mulheres no momento. Eu era viciada em moda e muito consumista. Se não fosse os meus planejamentos mensais, o meu salário não daria para sustentar meu ego fashionista. Essa correria da manhã me fez esquecer o que eu teria que enfrentar hoje. Mas, ao chegar à empresa meu coração disparou. Só de pensar que meu futuro promissor como publicitária poderia acabar agora, eu sentia vontade de voltar para casa e me enfiar de baixo dos cobertores. Contudo, eu era dona das minhas atitudes e precisava enfrentar a situação.

Entrei correndo no meu escritório. Mas, para a minha decepção Jade veio atrás de mim.

— Senhorita, o Sr. Carter te espera no escritório dele.

— Ah, já estou indo. Me da só um tempo. — falei, nervosa.

— Devo avisar a ele que vai demorar?

—Não precisa. Dez minutos e eu vou até ele.

Eu precisava tomar coragem. Precisava sair daqui de cabeça erguida independente do que fosse acontecer. E foi isso que eu fiz.

— Oi. — disse, ao entrar no escritório do meu patrão.

— Olá Maju. Tudo certo?

— Uhum.

— Então... Precisamos conversar. — comecei a tremer.

— Você vai me demitir?

— Por que eu te demitiria? Que eu saiba você não fez nada que pudesse prejudicar a empresa...

— Ah... uhum... Não é nada. Só pensei...

— Você está bem? Está ficando pálida, vou pedir para trazer um pouco de água.