No fim, é sobre amor. Amar e ser amado.

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Na infância, quando choramos alto em nosso quarto escuro por termos imaginado um monstro no lugar das roupas dobradas, somos abraçados e acalentados. Quando dizemos que há algo no armário ou debaixo da cama, nos é mostrado que foi apenas uma simples miragem e não tem nada a que realmente temer.

Porém, quando crescemos, o monstro do armário ainda está lá quando abrimos a porta e o que é da escuridão continua a nos assombrar mesmo na luz. Não temos o acalento, o abraço-casa para nos confortar e mandar o medo embora. Choramos em silêncio e nossas lágrimas se tornam segredos incontáveis.

Os fantasmas continuam em nossas costas, grudados, pesados o suficiente para curvar-nos em cansaço. Até os ombros doerem com a carga do passado e do destino nos sobrecarregando. O fardo da existência e de viver.

Como se estivéssemos navegando em um barquinho de madeira velha e a cada nova micro-onda de um mar sereno, tudo se tornasse cada vez mais alagado e sem saída. Sufocante. Desesperador. Tentando avidamente não naufragar.

A sensação de estar afogando no mar de pensamentos imparáveis, sem ter controle nenhum sobre seu barco, sua mente. Sem ter uma vela para lhe direcionar ou apenas uma bandeira branca para estender à vida, sinalizando sua desistência por estar de mãos atadas. Indefeso e inútil. Sem ajuda.

Quando estamos frente à frente com nossa redenção, é quando vemos quão abstrato é simplesmente estar quebrado. Há muitas camadas e profundidades em um quebrantamento.

Na verdade, se estar quebrado fosse uma forma de arte, essa seria a maior obra prima de Kim Seungmin.

Andava cansado. Lutando em seu pequeno barco contra as investidas do mar revolto. Tentando tapar cada novo buraco para não afundar, mas se recusando a estender a bandeira.

Os seus monstros interiores ainda tão bem despertos, o lembrando que estavam ali desde sempre e para sempre estariam. Seus fantasmas, seu passado. O difícil presente e o medo constante do futuro. Tudo parecia constantemente afogar Seungmin, o deixar sem saída.

Sobrecarregado. Pensando demais. Transbordando.

Tudo sobre ele ao mesmo tempo. Coisas demais para uma criança de vinte e dois anos.

Ele não havia aprendido ainda. Não sabia como crescer, como lidar com a vida adulta, assim como nunca soube lidar com a adolescência e toda a complicação que essa fase lhe trouxe. Não estava pronto. Não se sentia apto a crescer e desenvolver mais maturidade. Desenvolver uma nova personalidade, passar por novos e piores problemas.

Se sentia constantemente frustrado pelas expectativas quebradas. Quando adolescente imaginava que tudo de ruim ficaria no passado quando fizesse vinte e dois. Esperava já estar estável o suficiente em sua mente, esperava que as coisas fossem ligeiramente mais fáceis de encarar. Desejava ser um homem forte, corajoso, tão diferente do que cresceu sendo. Não estava cumprindo com as expectativas alheias impostas em si, tampouco suas próprias.

Novamente, analisando o retrato de seu eu despedaçado, crescido e afadigado, não teve escolhas se não chamar pelo único que poderia lhe ajudar.

Não que ele fosse o salvar de si mesmo, que era o que precisava, mas ele sempre se dispusera a ajuda-lo com apoios, palavras doces e chocolate quente.

Quando, coçando os olhos, Bangchan abriu a porta de madeira não tão velha quanto a de seu pequeno bote imaginário, Seungmin conseguiu fingir normalidade.

Na verdade, nada estava muito normal. Ele estava batendo na porta de seu amado às 4h58 da manhã apenas por não saber o que fazer para calar aquelas vozes tão perturbantes de sua cabeça. Não havia como fingir aquilo, Seungmin, porém, aprendeu a pôr sua indecifrável expressão facial e disfarçar.

Disfarçava sentimentos, pensamentos, as pequenas confusões dentro de si. Encobria tudo, não importava o que e o quanto estava ruindo por dentro. Entretanto, não para Bangchan. Este via no fundo de seu olhar quando – o que era bem mais constante do que gostaria de ver – algo estava errado.

Quando o silencio se fez presente o bastante, os lábios de Seungmin tremeram delatando que vinha uma onda maior naquele mar, este que marejou em seus olhos. Só de ver Chan e seu olhar tão reconfortante e carinhoso.

Chan apenas o puxou para dentro, tirou seu casaco pesado de couro falso e o abraçou. Não sabia bem se era por tamanho conforto do cheiro de lar, mas uma parte do peso que o acompanhava em sua vida pareceu ter saído de seus ombros junto da peça de roupa.

Bangchan, sem dizer nada, o encaminhou para o sofá e o entregou uma coberta, segundos depois. Um beijo casto foi deixado no topo de sua cabeça junto a uma caricia em sua nuca. Seungmin já pôde respirar um pouco melhor.

Os poucos minutos que se seguiram com Chan na cozinha, não pode evitar a maré que subia cada vez mais. Se encarou no reflexo na TV desligada à sua frente e viu sua imagem pouco atraente. Seus cabelos um pouco bagunçados pelo vento frio da madrugada de Seoul, as grandes olheiras mal acobertadas pelo corretivo, os olhos pouco vermelhos pela relutância em deixar as lagrimas rolarem.

Estava uma bela bagunça. Tudo soava muito estilhaçado, muito perdido. Muito velho e cansativo. Lidar com tudo aquilo era assim, muito fatigante.

Por um momento, quis ir embora e quebrar a promessa que fez a Chan sobre procura-lo quando se sentisse à beira de um colapso, porém, quando o cheiro do chocolate e dos pães recém esquentados invadiram seu olfato, foi um incentivo a mais para ficar.

O principal foi Chan e aquele sorriso brilhante que ele o dava.

Bangchan o incentivava dia após dia a ser uma pessoa melhor. Não que fosse preciso uma mudança radical de personalidade, não havia nada errado com a de Seungmin, ele apenas precisava mostra-la ao invés de esconder algo tão belo atrás de seus traumas e sua proteção tão bem murada que impôs.

O mais velho ainda o olhava solidário e carinhoso, se perguntando quando havia feito sua última refeição. Parecia tão abatido. Chan se preocupava com as mínimas tarefas que o Kim não conseguia fazer. Sempre o ajudava a varrer o chão de sua casa, esporadicamente fazia suas refeições e o ajudava com os trabalhos.

Sempre percebia quando ele estava mal e talvez fosse esse o motivo de ser seu ponto de segurança. Bangchan entendia Seungmin nas entrelinhas e nas explicitas.

Quando não achava palavras para se explicar, Chan o entendia pelo olhar, tamanha era a conexão de almas.

Entretanto, não era como se Chan não tivesse seus próprios problemas. Não. Ele também tinha seus monstros do armário e fantasmas do passado para encarar. Ajudar Minnie não era sinônimo de ser deixado de lado, Seungmin nunca seria “egoísta” – ao seu ver, pois para Bangchan autocuidado, reconhecer seus limites e egoísmo não era uma linha tão tênue assim – de não retribuir toda a ajuda que recebia, mas por vezes Chan escolhia colocar sua máscara e não falar sobre si.

Para Chan, ele conseguia se cuidar sozinho. Inclusive, era melhor que se cuidasse bem sozinho para então poder cuidar de Minnie. Nada o fazia tão forte quanto o frágil coração de seu amado.

E pode até ser que magoa nos nossos corações nos impeça de ver além do lado negativo dessa frase, mas Chan apenas gostava de reafirmar toda vez o quanto Seungmin era sua fonte de força e energia, pois era pensando nele que conseguia ter o vigor necessário para enfrentar seus problemas.

Sempre reafirmando que estava tudo bem ele mostrar sua fragilidade.

Era fascinante desse jeito.

Ele se fazia forte para fortalecer Seungmin. Se fazia uma rocha para sustentar as estruturas dele.

Bangchan apenas queria ama-lo. Amava-o cada dia mais com todo o seu coração, com tudo o que tem a oferecer e sabia que era amado na mesma intensidade.

Seu amor era como um mar; poderia ser com a força considerável de um poderoso oceano ou como as aguas tranquilas. Poderia ser tão apaixonado e avassalador para bagunçar tudo por completo, ou tão calmo e gentil para pôr tudo em ordem novamente com um beijo.

Se amavam com a alma, com tudo o que tinham, sem pedir nada em troca.

Seungmin o ensinava todos os dias a ser forte e Bangchan o ensinava todos os dias como quão belo é termos nossas falhas também, é o que nos torna humanos.

Sendo assim não tão mais inútil quanto pensamos. O mar não é assim tão revolto como imaginamos. Os fantasmas e monstros não são tão aterrorizantes.

Dividindo a coberta quentinha com quem tinha seu coração, Seungmin pôde respirar ar novamente, sem aquela sensação de afogamento e medo constante. Pôde apaziguar sua mente enquanto o ouvia murmurar alguma música e acariciar seus cabelos.

Pode enfim descansar com a pessoa que escolheu para ser seu lar e seu lugar seguro.

A vida não é assim tão difícil. Claro, se temos alguém a quem amar e por quem ser amado.

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Me deixem saber o que acharam através dos comentários. É sempre bem vindo.

Tratei muitas outras Seungchan/Chanmin para esse site e eu espero ter o apoio de vocês, pois nós, seungchanas, sobrevivemos de fanfics incompletas :')

Até logo! ♡


(Be)loved - Chanmin/SeungchanOnde histórias criam vida. Descubra agora