A FLORESTA QUE DEVERIA SER UM DESERTO

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Do outro lado, a luz do dia de um céu sem Sunna (o sol) de imediato ofuscou o homem, mas sem ferir seus olhos.

Recuperando a nitidez, ele nota que estava dentro do segundo círculo, que era uma grande região descampada. E à suas costas a fenda se fecha, mostrando mais campos verdejantes que parecia não ter fim, sob um céu azul sem nuvens.

Debaixo de seu sobretudo se escondia uma pequena bolsa, de onde ele retira uma bússola diferente da outra. Ele poderia tentar passar por esse desafio da forma mais correta, seguindo suas regras, mas ele não tinha tempo para tal e além do mais, a magia estava corrompida e desgastada, causando alterações nas funções originais do que deveriam ser o desafio de verdade. A bússola que parecia simples, mostrava a direção correta a seguir, mas se fosse qualquer outro desavisado (depois de passar pelo labirinto), poderia ficar preso vagando nesse nível para sempre.

Andando alguns milhares de passos moderados a frente. Ele se depara com a primeira pista de que o levaria a destrancar a passagem para o terceiro círculo. Além desse, haveria mais dezoito, todas sendo placas que sinalizavam direções, com palavras escritas nelas, as quais formariam uma frase que seria usada como chave para abrir a porta de saída. Esse desafio parecia outro tipo de labirinto, fazendo o homem notar que qualquer mortal despreparado, morreria ou pelos seres encontrados pelo caminho ou pela sede e a fome.

Por vezes, sob o capuz preto olhava para aquele céu falso, como se sentisse algo vagando acima do planalto sob a tempestade de neve que se mantinha perpétua lá fora.

Após a nona encruzilhada, ele se depara com algumas placas adulteradas e outras quebradas. Parecia que algo ou alguém não quisesse que aqueles que chegassem ali, conseguissem encontrar o caminho correto. Mas já que possuía a bússola e a frase que deveria ser dita no final, ele não precisaria se preocupar com nada. Assim ele continua seu caminho.

Na décima segunda placa, o ambiente começa a ser alterado. Ali, assim como as planícies deixadas para traz, havia um imenso pantanal com um pequeno gramado que se mantinham abaixo d'água cuja era tão cristalina que ao longe se unia ao céu refletido nela.

Á água era límpida, mas extremamente venenosa, ele podia ver a magia tóxica misturada nela. "Parece que tudo nesse lugar quer impedir que qualquer indivíduo medíocre tenha acesso a última árvore." ele sussurra.

Na décima segunda área do segundo círculo, haveria uma grande enguia que possuía a habilidade de mergulhar na superfície espelhada do lugar, transitando intangível em um plano espelhado, fazendo raios descerem do céu eletrificando a água. Mas ela estava morta. Seus ossos se mostravam sobre o espelho d'água e sua parte submersa flutuava no céu refletido. Ela se encontrava nem dentro, nem fora, mas no meio entre os dois planos.

Observando marcas em seus ossos, ele identifica rasgos, fraturas e resquícios de incineração. Mostrando que ela havia se envolvido numa batalha com algo poderoso, vindo de dentro, não de fora. "Nada de fora poderia matar uma criatura daqui de verdade" ele pensa consigo. Elas sempre ressurgiam assim que o desafio fosse concluído, deduzindo-se que a morte veio de um dos seus habitantes internos.

Continuando sua jornada dentro do segundo círculo, ele se depara com mais criaturas desafiantes mortas. O que o deixa intrigado, pois se alguém quer que ele não avance, porque estaria matando as criaturas guardiãs do próprio desafio? Mas logo a resposta veio a sua mente. Todas as placas estavam danificadas, então, é possível que os guardiões das áreas tentaram impedir o invasor interno de corromper o desafio. Então o intuito do corruptor é que os desafiantes fiquem perdidos nos desafios para sempre.

O homem avança seguindo as direções indicadas pelo ponteiro da bússola e logo já se encontrava na saída do lugar. Ele deveria dizer a frase em frente a grande porta, mas esta, também estava destruída. Ele atravessa se preparando mentalmente para talvez um encontro com aquele que não o quer seu avanço, mas ele se depara com uma floresta tropical fechada.

Ali, naquela grande floresta, pela primeira vez desde que chegou, ele se surpreende. Não estava como nas especificações que recebera. Não era para ter uma floresta ali e sim um deserto cheio de galerias abaixo. Confuso, ele salta, subindo até a copa de umas das árvores próximas dele, todas tinham centenas de metros de altura. Lá em cima, nada mostrava pra ele um caminho a seguir, nenhuma pista. Isso o preocupa um pouco.

O homem era rápido e possuía uma força monstruosa. Ele estava a horas correndo através dos gigantescos troncos das árvores e sua velocidade era tão grande que o som era rompido, causando pulsões no ar, formando buracos nos locais os quais ele pisava para se impulsionar. Ele não estava cansado, mas não notava nenhuma diferença ou pista chave que indicasse o caminho certo a seguir e sua visão oracular, não mostrava o futuro disso, não mostrava a melhor probabilidade. Tudo era turvo.

Então ele decide parar de lutar contra o ambiente, decidindo se entregar a ele. "O que uma pessoa normal faria numa situação dessas?" ele pensa.

Ele anda pacientemente, procurando por água e comida. Ele encontra um rio, o qual não havia notado em seu frenesi anterior. No rio haviam peixes os quais ele pesca com facilidade. Mas nesse momento surge uma dúvida. Seguir o rio em direção a fonte, em direção ao desague ou acender uma fogueira para comer o peixe? Ele decide pela primeira e terceira opções.

Ele segue em direção à nascente do rio e assim com o anoitecer, ele limpa o peixe, acende uma fogueira e come. Os condimentos que possuía deixou tudo mais gostoso.

No dia seguinte ele faz um pequeno teste, usando sua velocidade para avançar mais rápido para seu destino. O que não funcionou. Era como se o tempo parasse e o ambiente se repetisse em torno dele, mostrando que ele deveria seguir o caminho como se fosse realmente uma pessoa normal paciente. Aliás, já que a noite, mesmo em uma velocidade normal o mesmo efeito ocorria. Esse desafio exigia paciência.

Quanto mais envolvido com ambiente ao redor, sem pensar no destino. Mais as coisas se modificavam em torno dele. Porém, foi assim por três longos meses, até que finalmente chegou a uma montanha, onde havia uma queda d'água vinda de uma caverna. Com medo que algo acontecesse se caso usasse sua força, ele escala a montanha normalmente, chegando finalmente ao local. Lá dentro, ele encontra não apenas a fonte, mas também uma estrutura aparentemente construída por mãos "humanas". E na parte superior das paredes do lugar estava escrito como num tom sarcástico. "Depois de uma longa jornada, nada melhor que um banho quente". Ele retira suas roupas, revelando finalmente sua face. Um homem maduro, troncudo, aparentando uns cinquenta anos, cabelos cor de fogo e barba cheia já que estava ali há meses. Ele se deita, e pela primeira vez em centenas de anos ele adormece. A magia depositada ali era realmente poderosa, pois feitiços oníricos nunca funcionaram nele.

O ANDARILHO E A ÁRVORE DA VONTADEOnde histórias criam vida. Descubra agora