O significado da visão

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160.22-03

Estudo sobre visão tenta resolver enigma filosófico

[NEW YORK TIMES]

Se de repente um cego pudesse ver, ele seria capaz de reconhecer de vista a forma de um objeto que antes só conhecia pelo toque? Apresentado a um cubo e um globo, ele saberia distingui-los só de ver? Faça uma pausa e pense na resposta. Depois continue lendo.

A pergunta ataca diretamente um problema da filosofia da mente: o espaço tem um conceito inato comum à visão e ao tato ou só aprendemos essa relação através da experiência? Uma pesquisa divulgada no dia 10 de abril pela publicação "Nature Neuroscience" pode ter finalmente respondido essa questão, que inquieta filósofos e cientistas há mais de 300 anos.

William Molyneux, político e cientista irlandês, foi o primeiro a levantar a dúvida numa carta enviada a John Locke em 1688. Locke analisou o que veio a ser conhecido como o problema de Molyneux em "Ensaio acerca do Entendimento Humano", publicado poucos anos depois.

A resposta de Locke foi "não". "Ele não seria capaz de afirmar com certeza qual era o globo e qual o cubo, tão somente ao vê-los, embora certamente pudesse nomeá-los após tocá-los". Para Locke, a ligação entre os sentidos era aprendida.

Dezenas de filósofos, como George Berkeley, Gottfried Leibniz, Voltaire, Diderot, Adam Smith e William James, já consideraram o problema. E houve tentativas de responder a dúvida experimentalmente começando nos primeiros anos do século 18 com estudos com pacientes cuja catarata congênita foi removida quando eles já eram adultos e que continuam sendo feitos até agora, pela observação de recém-nascidos.

Contudo, segundo os autores de uma nova experiência, esses estudos eram inapropriados, nunca estabelecendo a nitidez com que o paciente poderia enxergar mais tarde ou não conseguindo fazer o teste logo após a cirurgia, quando o paciente ainda fosse completamente inexperiente com a visão.

A nova pesquisa parece comprovar que Locke estava certo. O cérebro não consegue entender de imediato o que os olhos estão vendo e o cego que passou a enxergar não tem a capacidade de distinguir os dois objetos, mas pode aprender a fazer essa distinção rapidamente.

Trabalhando com um grupo que oferece tratamento médico a cegos e com deficiência visual em países pobres, os pesquisadores testaram cinco pacientes do nordeste rural indiano; quatro meninos e uma menina com idades entre 8 e 17 anos. Todos eram cegos de nascença, quatro em função de catarata e o último devido a um distúrbio na córnea. Antes da cirurgia, eles percebiam a luz e dois discerniam a direção, mas nenhum via objetos. Na sequência, todos tiveram a visão avaliada em 20/160 ou melhor, o suficiente para distinguir objetos e realizar tarefas cotidianas.

As crianças passaram pelo experimento 48 horas após a cirurgia. Os pesquisadores colocaram 20 pequenos objetos parecidos com blocos de Lego numa mesa em que podiam ser vistos, mas não tocados. Depois as fizeram sentir blocos idênticos debaixo da mesa, onde eram invisíveis, tentando apontar quais combinavam. O desempenho médio em parear um objeto com outro somente pelo tato ou visão foi alto, perto de 100%. Só que quando deviam formar pares entre um objeto tocado e outro visto, o número médio de respostas corretas caiu para pouco acima da mera sorte.

Mas a melhora foi rápida. Um dos autores do estudo, Yuri Ostrovsky, pesquisador de pós-doutorado do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), afirmou que uma criança ficava proficiente em menos de uma semana. Em três meses, o número médio de respostas certas ao parear um objeto visto com outro tocado era superior a 80%.

O autor principal, Pawan Sinha, professor de visão e neurociência computacional do MIT, acredita que solucionar a dúvida filosófica não é o único benefício. "O estudo reforça a hipótese de que o aprendizado transmodal é possível mesmo após anos de privação. Isso é muito importante do ponto de vista clínico porque defende a disponibilização de tratamento para todos, independentemente da idade. Crianças com mais de seis ou sete anos não estão acima da idade passível de correção. O cérebro retém sua plasticidade até no fim da infância e mesmo na idade adulta".

Teorias da percepção visual

O maior problema no estudo da percepção visual é que o que as pessoas vêem não é uma simples tradução do estímulo da retina (ou seja, a imagem na retina). Assim, pessoas interessadas na percepção têm tentado há muito tempo explicar o que o processamento visual faz para criar o que realmente vemos.

Inferência inconsciente: Hermann von Helmholtz é frequentemente citado como o fundador do estudo científico da percepção visual. Helmholtz sustentava que a visão é uma forma de inferência inconsciente: visão é uma questão de derivar uma interpretação provável a partir de dados incompletos.

Inferência requer assunções prévias sobre o mundo: dois fatos que sabidamente são assumidos no processamento de informações visuais é que a luz vem de cima e que objetos são vistos de cima e não de baixo. O estudo de ilusões de óptica (casos em que o processo de inferência falha) lançaram muita luz sobre que tipo de informações são presumidas pelo sistema visual.

A hipótese da inferência inconsciente foi recentemente retomada nos chamados "Estudos Bayesianos" de percepção visual. Proponentes dessa abordagem consideram que o sistema visual executa alguma forma de inferência bayesiana para derivar uma percepção do estímulo sensorial. Modelos baseados nesta idéia têm sido usados para descrever vários subsistemas visuais, tais como a percepção de movimento e de profundidade. Uma introdução pode ser encontrada em Mamassian, Landy & Maloney (2002).

Teoria da Gestalt: A psicologia da Gestalt em trabalhos das décadas de 1930 e 1940 levantou muitas das hipóteses que são estudadas pelos cientístas da visão atualmente.

As leis de organização da Gestalt têm guiado os estudos sobre como as pessoas percebem componentes visuais como padrões organizados ou conjuntos, ao invés de suas partes componentes. Gestalt é uma palavra alemã que significa "configuração" ou "padrão". De acordo com essa teoria, há seis fatores principais que determinam como nós agrupamos coisas de acordo com a percepção visual.

Proximidade: Os objetos mais próximos entre si são percebidos como grupos independentes dos mais distantes.

Similaridade ou semelhança: Objetos similares em forma ou tamanho ou cor são mais facilmente interpretados como um grupo.

Fechamento: Nossos cérebros adicionam componentes que faltam para interpretar uma figura parcial como um todo.

Simetria: Elementos simétricos são mais facilmente agrupados em conjuntos que os não simétricos.

Destino comum: Itens movendo-se no mesmo sentido são mais facilmente agrupados entre si.

ContinuidadeUma vez que um padrão é formado, é mais provável que ele se mantenha, mesmo que seus componentes sejam redistribuídos.

Também já foi demonstrado que certas diferenças individuais, como a acuidade visual ou habilidades espaciais também podem afetar a percepção visual. Há também outros fatores que podem influenciar a interpretação das coisas vistas, como a personalidade, estilos cognitivos, sexo, ocupação, idade, valores, atitudes, motivação, crenças, etc. Conceito

É o complemento de uma idéia sugerida pelo autor da propaganda despertando em quem vê, o desejo de possuir objeto.

É o estimulo que o cérebro recebe para imaginar como o comercial seria completado se bem elaborado cria a necessidade do consumidor.

Os consumidores tendem a perceber os objetos como o todo e o cérebro dá continuidade ao que está incompleto. A percepção é a imagem mental que se forma com a ajuda das experiências e das necessidades. E o resultado de um processo de seleção é interpretação das sensações.

Ex: Quando lemos algumas frases, logo completamos com o que vem em seguida - Exceto o Chapolin Colorado, que sempre erra os ditados populares:

Água mole em pedra dura........... (tanto bate até que fura)

Pau que nasce torto .................... (nunca se endireita)

Casa de ferreiro............................ (espeto é de pau)

Psicologia ecológica: O psicólogo James J. Gibson desenvolveu um modelo teórico da visão que difere radicalmente do de Helmholtz. Gibson considera que há percepção visual suficiente em ambientes normais para proporcionar uma percepção verdadeira (percepção acurada do mundo). Gibson troca, em sua teoria, a inferência pela coleta de informações. Apesar da maior parte dos pesquisadores atualmente se sentirem mais próximos da teoria da inferência inconsciente de Helmholtz, as teorias de Gibson têm um papel importante na identificação do tipo de informação que está disponível ao sistema visual.

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