Abróteas

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Alicia tomava sua xícara de chá tranquilamente, feliz por, enfim, não haver mais um fanático lhe perseguindo.

Encontrou o indivíduo pela primeira vez em um recital na casa da sua amiga. Vez em quando ela olhava em volta, quando sentia a nuca queimar. E lá estava o sujeito, até bem-apessoado, encarando-a. Quando, por fim, o recital encerrou e Alicia estava se despedindo dos anfitriões e de alguns amigos ele a abordou. Não foi uma conversa desagradável. O sujeito parecia até bem interessante, mas os olhos vidrados e arregalados lhe incomodavam um pouco.

Desde então, encontrá-lo em lugares aleatórios durante seus passeios tornou-se algo normal. Era uma amizade interessante, até que as coisas ficaram estranhas.

Repentinamente, começou a ser questionada, ou interrogada, sobre coisas bem específicas, que ela não se lembrava de ter compartilhado. Até justificativas por coisas que ela supostamente escondia lhe foram cobradas. Seus pretendentes a pretendentes começaram a se afastar, e suas amigas estavam preocupadas.

Mas nada foi pior do que, quando estava saboreando seu chá na varanda do seu quarto, a figura do indivíduo com pitadas de psicopatia se fez presente atrás de uma árvore. Se dirigiu até ele pisando forte e bufando de raiva. O sujeito deu uma desculpa esfarrapada, mas quando foi questionado sobre a câmera pendurada em seu pescoço ele ficou ensandecido. Parecia que toda a sanidade que restava em seu corpo havia evaporado em questão de segundos.

Alicia nunca tinha escutado declarações de "amor" tão malucas. Nem mesmo de seus antigos romances. Transtornada não era o suficiente para descrever como a moça estava naquele momento. Até quando ela se virou para retornar à sua casa o maluco a seguiu. E nem mesmo a porta tendo batido na sua cara foi o suficiente para fazer com que ele fosse embora.

Por sorte, Alicia tinha bons contatos. Ligou para Ernesto, um amigo policial, e explicou toda a situação. Ele garantiu que apareceria ali para tirar o sujeito dali, mas antes de dizer isso fez uma piada sobre o dedo podre da amiga. Ernesto não precisou de muito para fazer com que o maluco sumisse dali de uma vez. Ele realmente desapareceu. Mas depois de receber as Abróteas em casa, decidiu ficar em alerta.

"Minhas saudades vos seguirão até o túmulo."

A Linguagem das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora