𝙨𝙚𝙡𝙚𝙯𝙞𝙤𝙣𝙚

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CAPÍTULO DOIS

Family Line


Olhando para o castelo, à essa altura, sua sensação de estar liberta virou uma saudade avassaladora. Saudade daquilo que seu coração jura ter largado no passado, mas se sente apertado só de pensar. Lembrou de seu pai, Adolph. De um sorriso que não dava há semanas. Um abraço que não recebia há meses. As lembranças dele eram como uma cicatriz na parede de sua mente. Eram como uma rádio, que só tocava memórias, o único trem que constantemente a levava para passear no passado. É um cheiro que ela jamais fora capaz de esquecer. É o fogo costumeiro que insistia em atear saudade e dor. Um lembrete da vida dizendo "Ainda há muito para ser vivido!". E foi nisso que a garota se agarrou para ter coragem e se reerguer diante do pior momento de sua vida.

Adolph sempre foi o único a estar ao seu lado de verdade, com o tempo, Vitto também. Mas em geral apenas ele a dava a devida importância e ouvidos. Mesmo sem poder fazer muita coisa, sempre se mostrou estar com ela. Nunca passava muito tempo em casa, mas o tempo que conseguia, se transformava em seus únicos momentos de felicidade genuína.

Os dois conversavam sobre tudo - ou quase tudo. Porque Victorie nunca teve coragem de o contar sobre o que acontecia em casa quando ele não estava. Não queria que se preocupasse com coisas bobas, enquanto tinha assuntos mais importantes para resolver do que ela; a intitulada "garotinha indesejada". Como nenhum dos dois falava sobre o presente, suas conversas favoritas eram sobre o passado, o passado de Adolph. Ele gostava de contar sobre suas aventuras adolescentes e as loucuras que já cometeu com seus amigos.

Aos 6 anos, Vic já tinha ouvido falar de quase toda Hogwarts, mesmo sabendo que lá não seria seu destino. Aos 8 anos sentia um vontade enorme de viver toda a felicidade que seu pai sentiu por lá também. Via Hogwarts como seu sonho inatingível. Aos 10 anos teve suas asas cortadas após uma enxurrada de palavras más vindas de Margaret, dizendo muito além do que ela se quer conseguiria lembrar. Mas se recorda de ter escutado que nunca teria perfil para tal instituição e que mancharia - mais do que já manchara - o nome da família se não fosse para Ilvermorny. As duas discutiram, foi a primeira discussão grave que tiveram. Depois desse dia, depois de finalmente contraria-lá, nada foi igual. Aos 11 tinha seus sonhos e carta em mãos, ela já sabia à qual escola pertencia o papel que segurava, mas se lembra da sensação de poder sonhar por alguns instantes.

Naquela manhã Vic acordou bem cedo, tomou seu café enquanto ainda era escuro lá fora, e se sentou na porta da frente esperando por qualquer sinal de correspondência. Não se lembra por quanto tempo ficou alí, sentada, olhando para o nada, sonhando com qualquer coisa que fosse melhor do que a sua realidade naquela casa. Mas se lembra muito bem de se sentir catastroficamente ansiosa quando avistou uma coruja branca voando aos arredores com um pedaço de papel preso ao bico, e a angustia só aumentou quando percebeu que ela vinha em sua direção. Lembra de segurar a carta, sem ler absolutamente nada e imaginar que, de repente, daria a sorte de receber uma carta de aprovação de Hogwarts.

Ainda relutou muito para ler. Ela já sabia que não era a carta que eu estava esperando, mas a sensação de poder se agarrar em um fio de possibilidade e expectativa era tão reconfortante que poderia passar a sua vida inteira naquele momento, sendo feliz à base de esperança e imaginação.

Respirou fundo, tomou coragem e abriu. Mais do mesmo. Estudaria em Ilvermorny, assim como Margaret, seus dois irmãos mais velhos e, futuramente Vitto também. Sem escolhas, sem saídas.

Depois do falecimento de Adolph, os Phoenix LeBlanc saíram as pressas da América e tiveram que se estabelecer na Inglaterra. Os irmãos teriam que ser transferidos para Hogwarts, a contra gosto da mãe. Mas já não haviam outras opções. Vic sentiu seu estômago revirar quando ouviu aquilo. Sem Add ao seu lado, lhe contando sobre o incrível castelo-escola, aquele sentimento de querer viver como o pai já não fazia mais sentido. Algo que a fez sonhar por tanto tempo, rapidamente se reduziu a nada.

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2023 ⏰

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