Fim do Começo

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Parados em frente a porta de ferro, corpos caídos pelo chão, sangue em suas mãos. O corpo de Cucurucho com um pé em sua cabeça, amassando seu pescoço, não que fizesse mais diferença, a respiração simplesmente não fazia falta no cadáver.

O tênis amarelo dando um chute na cabeça da entidade, fazendo o corpo sair de seu caminho. A escrita de canetinha preta na lateral denunciando quem era o adolescente dono do objeto.

— Richas... - Tallulah chama, deixando a mão em seu ombro - se acalma.

— Tô calmo, Tall. - disse com a respiração ofegante, apenas olhando fixamente para a porta de ferro em sua frente - Dapper, a senha?

— ddli. "44129". - diz ele vendo o brasileiro teclar com dificuldade por conta da mão trêmula.

— Hey, calma, Richarlyson. Eu te ajudo. - diz Ramón com seu sotaque, puxando levemente o amigo para trás, digitando a senha e ouvindo uma tranca se abrir - Bem... É isso...

O corpo do rapaz trava no lugar, facilmente teria vacilado e caído no chão se não se apoiasse em sua prótese. Depois de tanto tempo, tantos anos analisando as pesquisas de Cellbit, tantas horas em luta com as entidades daquele lugar, a porta estava aberta. E ele não tinha coragem de entrar.

Leo chega por detrás do líder, dando um tapinha em sua cabeça.

— Às suas ordens. - diz ele com um sorriso tentando o encorajar.

"Ninguém entra antes de mim", lembrava de suas próprias palavras. "Ninguém pisa naquele lugar até eu ver que está tudo limpo."

Ele então respira fundo, o coração pulsando, quase saindo pela boca. Sua mão vai de encontro à maçaneta, abrindo a porta lentamente, dando de cara com uma escadaria.

Seus passos são lentos, até por medo de cair, mesmo com 17 anos ele continuava meio manco. A pouca luz que havia no fim da escada o fazia repensar todas as suas escolhas de vida.

— Puta merda. - diz Leo logo atrás de Richas, chegando na sala junto dele. Cápsulas com o vidro embaçado rodavam a sala, tendo duas de pé com um líquido estranho, diferente das outras que pareciam conter apenas uma fumaça.

O garoto com os cachos castanhos andava lentamente pelo lugar, passando suavemente as mãos pelas cápsulas. Duas de pé e as outras na horizontal. Viu quando Tallulah se abaixou, mexendo no sistema de fios, lembrando de seu pai Cellbit quando ele estava o sistema da casa. Era tão estranho lembrar do pai assim, meros detalhes, lembrava da cor dos olhos, dos fios de cabelo loiro escuro, do sorriso de canto quando ele queria o pregar uma peça, mas não mais conseguia se lembrar dele por inteiro, não sabia mais como juntar as partes e vê-lo novamente em sua mente. Mas o que mais o chateava e, as vezes, o fazia chorar por horas em seu quarto, era o fato de nem lembrar do timbre de sua voz, o que era ainda mais forte com Felps. Se lembrava apenas dos cabelos, que seriam exatamente iguais aos seus se não fosse tão curto e do sorriso tranquilizante que o mais velho tinha, mal se lembrava de seu rosto. Ele nem sequer havia nascido quando eles se foram.

Os pensamentos invadiam sua mente, lembranças da época em que estava tudo bem, da época em que brincava com Bobby, jogava futebol perto da casa de seus pais e xingava o melhor amigo.

— Eu não entendo isso! - diz a menina, mesmo com a ajuda de Ramón.

— Eu entendo. - diz o brasileiro sacando a glock, presente de seu pai Forever, e mirando no sistema, metendo bala em tudo.

— Richas não é assim que funciona! - ela o olha repreendendo.

O garoto iria protestar, até sentir seu pé se molhando, uma corrente rasa de água percorrendo a sala, saindo das cápsulas que foram entreabertas.

Um turbilhão de pensamentos tomam seu corpo novamente quando viu uma das cápsulas se abrir por completo, como num susto. Os cabelos loiros encharcados, as mãos trêmulas e frias, e um semblante de raiva ainda de olhos fechados, parecia exatamente igual a última vez que o viu.

Lá estava ele, de pé em sua frente, seu corpo tremia. Depois de tanto tempo ele o achou, mas agora estava ansioso. Se passaram quase 18 anos, ele nem sequer havia nascido quando Cellbit foi tirado dele. Ele nem deveria mais o reconhecer.

A visão do homem era embaçada, seu corpo estava frio e ele estava confuso. Mas um rápido olhar foi o suficiente para ver a silhueta, reconhecendo quase imediatamente a figura.

— ... Richarlyson? - sua surpresa é ainda maior quando escuta a cápsula ao lado se abrir após um tempo, vendo o de cabelos mais escuros se levantando ainda meio tonto dela, mas claramente com uma visão melhor por ter esperado para abrir os olhos.

— Papai?.. - ele da passos calmos na direção de Cellbit, vendo Felps se levantar, o olhando com um brilhinho no olhar.

— Meu Deus, Richas!.. - o cacheado anda meio caindo até o garoto, o dando um abraço forte

Uma dor invade o peito do mais novo, uma dor forte, porém muito bem conhecida pelo rapaz, a dor da saudade.

— Meu filho, você tá bem?! Meu Deus, você cresceu tanto... Quanto tempo se passou?? - O loiro envolvia ambos num abraço repleto de sentimentos, beijando sua bochecha com os lábios gélidos - Você tá tão grande, moleque...

— Eu matei ele, pai. - diz deixando as lágrimas escaparem livres por seu rosto, tendo o mesmo segurado com delicadeza por Felps, que passa o polegar, secando suas lágrimas - eu matei o arrombado do Cucurucho. A gente tá livre.

— Eu sempre acreditei que esse trabalho era seu. - diz com um sorriso sincero - Meu filho claramente ia ser ainda melhor que eu.

— Nada convencido - o outro pai ri baixo, dando um abraço forte em Cellbit - me perdoa... Eu devia ter te escutado...

— Isso não importa agora. Tá tudo bem... - fala o loiro, olhando de canto para Richarlyson - O Richas tem seu cabelo - ele ri.

O garoto sorri tímido, olhando alegre para os pais. Ouvindo alguns tiros, que imaginou ser Leo liberando as outras cápsulas.

— É, eu acho que cresci um pouquinho. - diz brincalhão os olhando.

— Cresce mais um pouco pra ver se a barriga espalha.

Seu rosto se vira em uma cara indignada para trás, vendo um garoto de cabelos castanhos lisos, sentado na tampa de umas das cápsulas, com um sorrisinho sínico.

— ... Bobby?

— E aí, bolota?

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