Ven a casa

94 23 0
                                    

O brasileiro sempre pensou que o reencontro com seus pais seria algo incrível, que o faria voltar a sorrir durante dias a fio. Mas a sensação em seu peito enquanto caminhavam pela floresta escura era simplesmente o contrário disso.

Depois que ajudaram Roier e Quackity a sair das cápsulas e entenderem o que estava acontecendo, viu seu pai Cellbit indo quase correndo até o mexicano. Já sabia que eles tinham algo, mas não iria os forçar a assumir (ainda). Foi uma cena um tanto triste ver seu pai e o futuro padrasto chorando, não estava preparado realmente para os reencontros. Estava tão acostumado a ficar sozinho que tudo isso já havia começado a ficar esquisito. Mais de dois dias unido de novo com seus amigos, depois de tanto tempo enfiado num porão.

A terra úmida era pisoteada por seus tênis já sujos enquanto seguiam o caminho de volta, Richarlyson sempre à frente de todos, mesmo que os adultos quisessem o fazer chegar para trás, eles já não tinham o direito de o dizer o que fazer na visão do garoto.

Sua mente estava um caos, não muito diferente de todos os dias, mas agora era um caos maior ainda, nem mesmo Tallulah conseguia chamar sua atenção com as conversas bobas ou Dapper com suas brincadeiras rotineiras.

— Richas, - Ramón chama correndo até sua frente, o tirando de sua própria mente - vamos fazer uma pausa, comer alguma coisa.

— Hm? - ele pergunta ainda raciocinando sua volta ao mundo real.

— Tall já tinha te falado. Você tá bem aí? - pergunta o outro preocupado, ajudando a garota a estender a toalha.

— Ah, sim sim. Estou bem. - fala cruzando os dedos das mãos, esticando os braços para se alongar - podem comer, não estou com fome.

— Teu rabo. Senta aí seu boiola. - fala Leo o empurrando pra baixo, o fazendo cair por conta da prótese.

— Leo, para. Eu comi em casa, não tô com fome. - diz se levantando novamente.

— Mentirosinho. A gente saiu de casa duas da manhã. - Tallulah diz deixando as mãos na cintura.

— Não enche! - fala irritado andando um pouco pra longe, deixando a garota confusa para trás.

Ele caminhava lentamente, chutando as pedrinhas. Se desculparia com a menina depois, com todos eles na verdade. Apenas precisava de um tempo sozinho.

Ele vai até uma árvore afastada, se sentando escondido atrás dela. Seus olhos se fecham pela exaustão, seu semblante irritado escondendo seu medo do que aconteceria a seguir.

Estava quase a ponto de ter um colapso, quando sentiu uma mão tocando seu ombro. O olho esquerdo se abre, espiando quem era o indivíduo, vendo o cacheado o olhando com um sorriso preocupado.

— E aí, garotão? - Felps se senta ao seu lado, o olhando se sentar direito - quer me contar o que está acontecendo?

— Não tá acontecendo nada. - fala o encarando, as pernas dobradas perto do peito.

— Filho. - ele chama cauteloso - eu sei que deve estar sendo difícil. Eu não quero nem imaginar o quanto você sofreu enquanto estávamos longe. O quanto deve ter sido horrível ouvir os outros falando sobre seus amigos supostamente mortos ou como você chorou em alguns aniversários. Mas... Eu continuo seu pai, meu amor... Eu continuo te amando como minha vida, eu continuo aqui pra você sempre, sempre e sempre. Eu nunca te abandonei de verdade, Richas. Nunca.

O rosto do garoto queima de vergonha. Vergonha de ser tão egoísta as vezes, de ter tido tanta raiva no fundinho de sua alma por eles terem partido, vergonha de não ter perguntado como eles estavam ou se preocupado mais. Seus olhos se enchem d'água, mas não se via no direito de deixá-las cair.

New Times for ordoOnde histórias criam vida. Descubra agora