A desavença entre os irmãos

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Ptolomeu Aulete morreu em 51 a.C. Deixou quatro filhos. Em seu testamento, designou para sucedê-lo no trono, sua filha mais velha, Cleópatra (para sermos mais exatos Cleópatra VII), então com dezesseis anos, e seu filho mais velho, Ptolomeu XII, com treze. Segundo o costume egípcio, o irmão casou-se com a irmã. Porém, Cleópatra jamais consumou este casamento, pois, para ela, seu irmão, ainda uma criança, não estava à sua altura. 

O preceptor do jovem Ptolomeu XII, o eunuco Potino,  certo de que dominava o espírito de seu aluno, pensava em dirigir os negócios do Egito sob o novo reinado. Esbarrou, no entanto, na voluntariosa Cleópatra, hábil, instruída e inteligente. Como admitir que esta mulher, tão orgulhosa e dotada, poderia abdicar sua parte na soberania em benefício de um subalterno? Era evidente que logo adquiriria domínio absoluto sobre seu irmão. Potino bem o compreendeu e recorreu a todos os meios para perdê-la.

A ocasião surgiu quando Cneu Pompeu, o filho do grande Pompeu, rival de Júlio César, foi para Alexandria em busca das legiões romanas ali acantonadas. Elas iam combater sob as ordens de seu pai, o maior general da época, e contra o próprio Júlio César! Cleópatra não só liberou as tropas como deu aos romanos cinquenta navios para que os usassem como transporte. 

Potino espalhou a notícia que ela havia se tornado amante do jovem Pompeu e que este era o motivo de ela ter entregue a esquadra egípcia aos romanos. Bastou que um romano influente se apresentasse para que ela ficasse enfeitiçada. Que coisas poderia fazer uma soberana desse tipo? Na certa, iria se entregar e entregar o Egito de mão beijada ao primeiro romano poderoso que aparecesse.

Os boatos surtiram efeito e o povo de Alexandria sublevou-se contra a jovem rainha. Cleópatra percebeu que se tratava de trama urdida por Potino e fugiu para as imediações do Mar Vermelho. Porém não renunciou à coroa do Egito que já fulgurava há três anos em sua cabeça. Ali, com a ajuda de seus partidários, recrutou um exército e resolveu confrontar seu irmão.

Por coincidência, dois exércitos muitíssimo mais poderosos do que os de Cleópatra e de Ptolomeu XIII se enfrentavam, nesta mesma época, em Farsália na Grécia. Pompeu lutava contra Júlio César por nada menos que o domínio do mundo. 

A derrota de Pompeu foi absoluta e a notícia correu pelas costas do Mediterrâneo. Os homens influentes da região tremeram, pois todos haviam dado apoio a Pompeu que, até a véspera, era considerado invencível. As notícias logo chegaram ao Egito e Potino resolveu adiar o enfrentamento entre os exércitos dos dois irmãos até que a situação dos poderosos de Roma se clareasse. 

Não demorou para vir uma nova notícia, ainda mais espantosa do que a primeira, sobre o resultado da guerra civil romana. O poderoso Pompeu era agora um fugitivo e encaminhava-se para o Egito com dois mil homens, tudo o que restou de seu exército. Vinha solicitar asilo ao filho do Flautista.

Potino, virtualmente o chefe do governo, resolveu conceder-lhe asilo. No entanto, assim que  o romano derrotado aportou, mandou matá-lo. Acreditava estar fazendo um favor a César, o novo senhor do mundo. Era também uma forma de evitar que a guerra continuasse em território egípcio, entre o exército remanescente de Pompeu e os combatentes de César que não tardariam a chegar.

Três dias depois do assassinato de Pompeu, César desembarcava em Alexandria. Potino apresentou-se imediatamente, entregando a Cesar, como prêmio, a cabeça embalsamada de Pompeu. César desviou os olhos daquele horroroso troféu e o reprovou duramente pelo crime brutal. Potino sabia, no entanto, que acabava de prestar a César um grande serviço, livrando-o do seu mais poderoso inimigo, e conhecia bastante os homens para compreender que podia esperar a magnanimidade de César em forma de velada recompensa.

O Senhor de Roma logo que desembarcou, tomou conhecimento da disputa entre os esposos, cujo desfecho, qualquer que fosse, seria prejudicial aos interesses de Roma e mandou que Potino enviasse imediatamente mensageiros a Cleópatra e a Ptolomeu para que suspendessem as hostilidades. Deviam licenciar seus exércitos e se apresentar o quanto antes no palácio, onde o tribunal do cônsul os aguardava para dirimir as pendências e restabelecer a ordem no Egito. 

A Cleópatra, Potino mandou dizer que, por ordem de César, licenciasse seu exército, sem comunicar-lhe, porém, que era esperada em Alexandria. A Ptolomeu, que se dirigisse imediatamente a César, porém que conservasse seu exército em armas. Deste modo, Potino pensava livrar-se do exército de Cleópatra ao mesmo tempo em que levava o jovem rei a ser considerado de forma favorável por César, posto que, dos dois herdeiros citados pelo cônsul, somente Ptolomeu aceitara o convite.

Alguns dias depois, Ptolomeu chega a Alexandria e faz a César mil protestos de amizade.  Expõe a desavença que existe entre ele e Cleópatra, lançando a ela toda a culpa. César, entretanto, não se deixa convencer tão facilmente.

Potino calculou que a ausência de Cleópatra irritaria a César, porém este era experiente demais para admitir que a jovem rainha declinasse sem mais nem menos de seu convite. César desconfiou que haviam sido colocados obstáculos à sua vinda. A fim de certificar-se da verdade, mandou secretamente um enviado a Cleópatra que estava acampada nas proximidades de Pelúsio.

Julio Cesar e CleopatraOnde histórias criam vida. Descubra agora