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Tudo começou quando eu completei meus dezessete anos e contei sobre os meus sonhos ao meu bisavô.

Ele era um velhinho bem confuso.

Tinha seus quase cem anos, e se brincar tinha até mais. Seus documentos a muito evaporaram e nem os filhos ainda vivos tinham mais certeza de quantos anos ele tinha. Por isso, em seus últimos anos, todos os bolos de aniversário que minha mãe fazia para ele era com uma vela que tinha o formato de um ponto de interrogação.

Vcs podem estar pensando; Nossa como sua mãe é uma boa neta, cuidando do seu bisavô até essa idade e aparentemente cuidando bem.

Pois deixe-me lhes contar algo.

Minha mãe não é da família dele.

Ele é meu bisavô por parte da família do meu pai.

Um pai que eu vi pouquíssimas vezes devo deixar claro.

Quando eu tinha por volta de cinco anos, o meu bisavô teve um "acidente no trabalho" e teve que ficar de cama por alguns "anos".

Meu bisavô teve sete filhos e cada filho dele teve sete filhos. Meu pai era o filho mais novo do filho mais novo do meu bisavô. E como meu pai, na época, era o mais novo entre os netos o mais estável financeiramente de toda a gigantesca família.

Foi decidido entre os irmãos que meu pai cuidaria do meu bisavô, até pq ele era o que morava mais perto do hospital no qual o vovô estava.

No começo foi tranquilo, eu amava, meu bisavô era o velho mais vida loca que eu já conheci, eu amava suas histórias e suas fugidas, eu o encobria muitas das vezes que ele saia a noite.

Mas como uma criança pequena eu não percebia as dificuldades de um adulto.

Minha mãe sempre disse que não era problema ter meu bisavô ali, pq ela tbm gostava das longas conversas cheias de historias de "fantasia" que ele contava.

Só quando eu fiquei alguns anos mais velho foi que eu fui realmente entender o motivo do meu pai ter nos deixado quando eu ainda tinha por volta de dez anos.

Um dia quando eu tinha quase dez anos eu acordei de manhã cedo como fazia todas as manhãs, dei bom dia para o meu bisavô, já que dividíamos o mesmo quarto, pq apesar de vivermos bem financeiramente a casa só tinha três quartos, em um ficava as camas para que eu e meu bisavô dormíssemos e no outro ficavam roupas e coisas do tipo, e o outro era o quarto dos meus pais claro.

Naquele dia, quando cheguei a cozinha para tomar meu café da manhã e levar o do meu bisavô já que meu pai estava em casa na noite anterior e quando ele estava meu bisavô não tomava o cafe com a gente na mesa, me deparei com a minha mãe com uma marca de mão vermelha no rosto e com os olhos vermelhos.

Quando perguntei o que tinha acontecido ela só me deu o seu mais belo sorriso e me disse que daquele dia em diante, erramos só nós três.

Ela, eu e meu bisavô.

O que só descobri mais tarde foi que, meu bisavô era visto por todos os de fora, quer fossem conhecidos, enfermeiras, médicos e até mesmo seus filhos, netos e o restante da família, como um inválido que vegetava em uma cama, um doente as portas da morte.

Até aquele dia fatídico, todas as vezes que até mesmo meu pai ia ao meu quarto para ver meu bisavô na cama, tudo que eles viam era um velho moribundo que não falava e nem mesmo piscava.

Aquilo me deixou muito confuso, ver meu bisavô parecendo meio morto sentado na cama com baba escorrendo da boca enquanto ele olhava para o nada sem piscar, mas então meu bisavô me deu Aquele olhar que eu conhecia muito bem, e só depois minha mãe me explicou a verdade.

 Yin E Yang.Onde histórias criam vida. Descubra agora