008

117 17 30
                                    

                                   Point of view
                                          Enid

Eu não queria ter falado tanta coisa assim pra Wandinha. Mas se ela me pediu a verdade, eu falei a verdade. Dane-se o que o Xavier pode falar depois, eu já estava querendo dar com a língua nos dentes mesmo.

Eu não sei o que ela vai fazer, se ela vai se aproximar, se afastar, se vai tentar recuperar as lembranças.
A verdade é que ela não aceita que é capaz de amar e ser amada. Sendo ela como ela é, eu até entendo certos pensamentos.

Mas agora só estou preocupada. Não sei onde ela pode estar a essa hora da noite.

                                  Point of view
                                    Wandinha

Decidi voltar pra escola. É mais difícil entrar depois que os portões se fecham. Mas não voltei pro dormitório, não queria encontrar com a Enid, não agora.

Comecei a andar pela escola. Parece que diminuíram a vigilância por aqui, não vi nenhum inspetor por aqui. É interessante andar pela escola de noite. Entrei em algumas salas, nada de mais.

Decidi ir no salão de esgrima, quero ver como é esse ambiente a noite. E é bem calmo, não parece nada com o ambiente de aula durante o dia, agitado, barulhento.

Perfeito para colocar os pensamentos no lugar. Mas parece que eu não sou a única pessoa que pensa assim.

Vi Xavier sentado num canto do salão. Pensei em sair dali, mas decidi ficar, sei lá, algo me pediu pra ficar.
- Não sabia que vinha a noite no salão de esgrima - digo quebrando o silêncio.

- É porquê eu não venho, - Xavier diz - eu só estava andando pela escola e decidi vir pra cá.
Pensamentos bem ordenados, eu diria.
- Precisando ficar sozinho com seus pensamentos? - abri um sorriso fraco, quase invisível.

- Basicamente isso, - deu de ombros - é bom colocar os pensamentos no lugar as vezes.
- Se quiser... eu posso sair - sugeri.
- Não. Não precisa, não se preocupe. - ele diz - O salão é grande o bastante pra ficar um no norte e outro no sul - brincou.

Eu sei que os pensamentos dele estão em todos esses acontecimentos. Me lembrei do Enid disse. Acho que vale a pena tentar continuar a amizade, talvez as coisas não fiquem tão estranhas assim.

Fui até ele e me sentei ao seu lado, não precisei olhar pra ele para perceber que ele estranhou isso, mas ao mesmo tempo, parecia ter costume.

- Não acho que precise desse distanciamento social - falei humorada.
- Bom, como você desejar - ele diz. Pude ouvir ele respirar fundo. Colocou uma mexa solta de seu cabelo e colocou atrás da orelha.

Uma coisa que eu me conformei nas últimas horas foi sobre a minha sensibilidade. Se eu me apaixonei por alguém, é claro que eu passei a sentir mais, a me importar mais.

O fato de se importar não é uma questão de lembrança, é algo que já está em você, mesmo que você não tenha nascido com isso.

Então, de certa forma, estou sim me importando um pouco com Xavier em toda essa situação. Queria? Não. Não vou ser hipócrita e dizer que sim. Mas eu não tenho escolha. E no fim das contas, não a pior sensação do mundo, só é um pouco estranho.

- Me conta mais - falei soltando um suspiro pesado.
- Sobre o que? - perguntou.
- Sei lá, sobre meus costumes, como eu costumava agir. Ou o que a gente costumava fazer. Nada muito impactante, mas nada que você não possa falar. - dei de ombros.

- Bom... tem certeza disso?
- Tenho, Xavier. Eu não sou uma criança que não pode lidar com as coisas. Sei que deve achar que eu não devo ouvir certas coisa por causa da minha personalidade, mas se te conforta, não sou tão ruim como pensa.

- Okay. Quando a gente virou amigo... - começou a falar - você costumava ir no meu quarto...
- O que?
- Calma, deixa eu terminar - soltou um riso frouxo.

- ...você costumava ir no meu quarto pra ler, pra gente conversar, ou simplesmente ficar de bobeira, fazendo absolutamente nada. Não quero me gabar, mas você sempre optava pela minha companhia.
- Idiota. Agora eu entendo porquê as pessoas achavam que a gente tinha algo a mais.

- Se arrepende disso?
- Eu não lembro de nada para dizer ao certo se me arrependo ou não... - falei com a voz baixa - mas eu creio que se eu tivesse de me arrepender, teria me afastado há mais de cinco meses atrás.

- Pelo menos é sincera - riu um pouco. E falando de sinceridade, acho que é hora de ser sincera em alguns aspectos.

- Xavier... você não é a pior companhia. Descobri isso nos últimos dias, mesmo depois de ter esquecido de tudo isso. E é por isso que, de certa forma, eu entendo porquê eu optava por estar perto de você, e também porquê a Enid consegue ser bem insuportável às vezes. E eu não sei o que pensar disso tudo. Porque, ao mesmo tempo que eu não lembro de nada e fico confusa com isso, eu me sinto bem e aparentemente sem motivos.

- Bem... quem você se torna depois de coisas que acontecem na sua vida, não muda se você esquecer de algo. Talvez esse seja o motivo. Acho que se você entender isso, as confusões diminuem.

- Às vezes eu paro pra pensar nisso... - suspirei - Xavier, eu sinto que não quero me afastar, mas eu fico com receio porquê... eu perdi lembranças que não eram só minhas...
- Não importa como... mas nós faremos novas.

Uma pessoa que está disposta a lutar por alguém que sequer se lembra das coisas que viveram...

Nota da Autora: "O amor é uma flor roxa, que nasce no cu dos trouxas-" Até o próximo capítulo <3 (Não sejam leitores fantasmas, votem e comentem, please)



More than friends | Wavier - 2° Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora