1. Cabelos Vermelhos

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— E quem quiser participar, é só assinar seu nome na prancheta aqui. – A garota, que estava falando sobre o "correio elegante" explicou, incentivando alguns alunos a se levantarem de suas cadeiras.

Afinal, o que é o correio elegante? Bom, todos os anos, em todas as turmas e séries, a escola se reúne para comemorar o dia dos namorados. No correio elegante você pode fazer uma cartinha, digamos assim, para a pessoa que você gosta ou admira. Mas eu nem preciso falar que é um saco, né? Quero dizer, não para os garotos e garotas populares que, querendo ou não, algum deles irá receber uma carta de alguém, já que o autor da carta não precisa se apresentar. Sendo assim, eu também nem preciso falar o porquê é um saco para a minha espécie. Uma  pessoa quase que invisível na escola, nunca receberia uma carta assim, se um dia acontecesse, a Terra colidirá com o Sol, a galáxia de Andromeda colidirá com a via láctea, o mundo será dominado por robôs. Tudo isso por uma mísera cartinha de amor adolescente.

Ouvi a risada de Paulo, meu amigo e colega de classe. — Tenho certeza que você vai receber tantas dessas que não irá caber na sua mochila, Oli. – Me virei para ele, que carregava um sorriso sarcástico. Paulo era assim, passava o tempo todo me irritando.

— Desculpa, por que ainda sou sua amiga mesmo? – Retruquei, rápido. Ouvindo mais uma de suas risadas, com certeza não a última que soltará naquele dia.

O professor de matemática interrompeu a garota na frente da sala, que parecia querer explicar mais coisas sobre o correio elegante. — Obrigado, Luna. Pode voltar para sua sala. – Ele sorriu forçado, provavelmente querendo passar alguma das atividades insanas dele.

— Cara, se ele passar mais um trabalho... – Eu olhei para Paulo, que estava revirando os olhos, soltando um longo suspiro.

A aluna agradeceu e saiu da sala rapidamente. O professor se virou e escreveu uma frase no quadro. "TRABALHO DE MATEMÁTICA." Eu resmunguei. Aquele professor sempre dava matéria demais, ninguém suportava ele. Tem umas 5 frases pixadas no banheiro com o nome dele, e eu prefiro não citar nenhuma delas.

A sala inteira se encheu de resmungos e xingamentos. — Se acalmem, por favor. – Ele disse, tirando seus óculos finos e colocando sobre sua mesa. — O trabalho vai ser em dupla – como se fosse automático, todos os alunos se olharam, um para o outro, combinando suas duplas. — Mas, como tudo não é um mar de rosas, eu irei juntar as duplas. – De novo, a sala ficou inquieta. Enquanto o professor pegava uma bolsinha de lápis.

— Vou fazer um sorteio agora. Por favor, gente, não quero conversinhas agora. – Ele balançava a bolsinha, pronto para pegar os nomes de dentro.

Depois de muitos nomes, e alguns protestos de alunos não satisfeitos pela sua dupla, eu escuto o professor dizendo meu nome, sendo interrompido por uma tosse. — Olívia Guzman e... – ele fez uma pausa para pegar um outro papelzinho. – Cecília Marques. – Na mesma hora que ouvi o nome, meus olhos se direcionaram para a garota de cabelos vermelhos. Ela pareceu me olhar de volta, com um olhar misturado de tédio e surpresa.

Eu sabia quem ela era, nós nós conhecemos no primário, mas meus pais me obrigaram a me afastar dela porque disseram que ela seria uma "má influência" para mim. Quando ouvi o nome dela sair da boca do professor de matemática, meu coração parecia disparado, ela era muito diferente de mim. Ah, para! não tinha ninguém pior pra ser minha dupla?

It Was a Bad Idea?Onde histórias criam vida. Descubra agora