Capítulo 6: Dolentia

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No quarto, Ezra ainda dormia. Casamos rápido demais, mas não por pressa, por certeza mesmo. Eu o conhecia a tão pouco tempo, mas sabia com toda a certeza que eram seus olhos e sorriso que gostaria de ver todas as manhãs. Aliás, era a feição que queria para os nossos filhos. Mas agora, todos os meus sonhos estavam ameaçados e nosso amor posto a prova a cada nova informação e acontecimento.

Notei alguns acessos instalados em seus braços, contudo, ele parecia estar bem.

— O que houve com você, meu amor... — sussurro delicadamente enquanto lágrimas deslizam pela minha face cansada. Acaricio sua mão por alguns instantes, e então deito no pequeno sofá ao lado e durmo.

Desperto com o abrir súbito da porta. Um homem de jaleco e cabelos brancos, vestindo um cavanhaque e óculos entra rapidamente no quarto.

— Doutor Perpétuo? — Pergunto com o rosto amassado e olhos que abrem com dificuldade — me desculpe, não deveria estar aqui ainda.

— Não, senhora Prüton, agora é exatamente a hora e lugar onde deveria estar! Ezra precisa de você. E, sim, sou o doutor Perpétuo. Muito prazer. — Ele estende a mão para me cumprimentar com a feição séria e olhar desconcertante.

— O prazer é meu, Doutor. Me diga o que houve com meu marido, por favor! — já não estava mais pedindo, isso era uma súplica.

— Deixe-me verificar algumas informações aqui, e já conversamos em minha sala, tudo bem? — Assinto positivamente. — Contarei tudo que precisa saber sobre seu marido, e, não, ele não está maluco.

Sua fala foi o suficiente para me acalmar no momento.

Aguardei por mais alguns minutos enquanto ele folheava os resultados dos exames, impressionado. Logo em seguida ele me convida a segui-lo até sua sala, onde eu saberia a verdade sobre tudo o que estava acontecendo nos últimos três dias.

— Por favor, senhora Prüton, queira se sentar. — ele gentilmente afasta a cadeira para que me acomode nela, e então segue para a cadeira por trás da mesa.

— Doutor, sem delongas... Preciso sab...

— Eu sei, eu sei... Vamos logo ao assunto... — ele corta minha fala, antecipando as respostas. — Senhora Prüton, as informações que receberá são ultrassecretas, e é possível que sua vida corra risco caso fale sobre elas com qualquer pessoa. — Assenti, temendo que Ezra estivesse envolvido em algo ruim demais que não tivesse me contado. — Seu esposo comunicou a uma agência secreta da divisão da saúde do exército de que passava mal, por isso conseguimos salvá-lo. Ele está estável, mas foi por pouco...

Minha mão vai a boca.

— Exército? Mas o que..., mas os agentes que estiveram em minha residência disseram que eram federais! Há uma divergência de informações, doutor! — falo desconfiada.

— Não, não há, senhora Prüton.

— Por favor, me chame de Violeta.

— Tudo bem... Bom, os agentes federais eram um disfarce, apenas isso. Como disse — ele pigarra — é uma divisão secreta do exército. Seu marido nunca te falou nada sobre isso? — Ele incita.

— Nunca mencionou nada sobre exército ou "Divisão Especial de Saúde" ..., Ele sempre trabalhou na área da programação e tecnologia. Doutor! O que o Ezra tem? Não é possível que uma pedra no rim tenha causado tudo isso! — Sugiro veementemente.

— Seu marido pode ter muitos segredos, Violeta... Deve ser difícil lidar com esse fato, ainda mais no estado em que se encontra... — Ele parece querer me atingir emocionalmente, — seu marido desenvolveu uma doença desconhecida, não catalogada, nunca identificada antes, mas muito semelhante ao vírus do HIV e ao Câncer.

— O quê?! — a cadeira parece desequilibrar e minha cabeça parece ter entrado em um redemoinho. O peito esfria novamente e sinto que vou cair.

— Violeta? Você está bem? Ah! Você está com a pressão baixa! Aqui, deixe te ajudar!

Ele me auxilia a deitar no pequeno sofá ao lado de sua mesa, erguendo meus pés acima da altura da cabeça.

— Se sente um pouco melhor, Violeta?

Assinto e alcanço o copo nas mãos do doutor.

— Ah, sim! Aqui está. Água com açúcar.

Após alguns segundos vou recobrando as energias e consigo sentar-me novamente.

— Doutor Perpétuo, como sabe de tudo isso? Afinal, esse é um hospital psiquiátrico... Quem garante que o senhor esteja falando a verdade?

— Por que acha que escolhemos esse local para mantê-lo? Saia daqui falando isso, e voltará usando uma camisa de força com rosas vermelhas.

Parei para pensar por um momento... Fiquei indignada. Aquilo tudo havia sido planejado. Ou eu entrava no jogo dele, ou me tornaria mais um de seus pacientes.

— Isso se eu conseguir sair daqui, não é? — ele exprime um sorriso de canto, um tanto maléfico — É por isso que Ezra está aqui também... Não é?

— Exatamente, Violeta. Mas não apenas por isso. O equipamento que precisamos para tratá-lo tem apenas um no mundo inteiro, e está dentro daquele quarto.

— Doutor, chega de tantas informações sigilosas... Só quero saber se meu marido vai ficar bem. — Recordei de tudo que estava passado nos últimos dias, principalmente em vê-lo morrer por alguns segundos em casa, e fiz um jogo emocional que não exigiu esforço algum, já que eu realmente estava muito preocupada e aflita. Desabafo em lágrimas novamente.

Essa definitivamente não era a vida que imaginava para nós.

— Sinceramente, Violeta, tenho a mesma dúvida que você. Isso tudo é novo para todos, inclusive para mim. Entretanto, faremos tudo que estiver ao nosso alcance para restaurarmos a vida de seu marido. Eu lhe prometo. Esse é o trabalho da minha vida!

Em seu olhar havia firmeza, mas não apenas isso. Ele trazia em seu olhar uma vontade intrigante e perturbadora.

— Ok, doutor. Obrigada!

O ramal do doutor toca.

— O quê? Saiu do coma induzido? Ótimo! Já estou a caminho! — disse o doutor Perpétuo, desligando o telefone — Venha, Violeta! Ezra acordou!

— Coma?! — me preocupo novamente.

Saímos imediatamente em direção ao quarto de Ezra.

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