No quarto de Ezra...
— Amor... Você está aqui... — ouço-o comentar baixinho, tentando expor seu melhor sorriso.
Ele estava muito debilitado, e eu tinha que esconder todo o medo de perdê-lo, e tentar conter meus olhos de derramar gotas de aflição por meu rosto.
— Claro que estou, meu amor! Não vou sair daqui até que você saia também!
— Estou bem Vi, é aquela maldita pedrinha... Lembra? — ele comenta com olhos entreabertos, apresentando cansaço extremo.
— Claro que lembro! Logo você sai daí e voltaremos à nossas vidas normais! — respondo-o, compartilhando as migalhas de esperança que ainda possuía.
— Ezra, sou o doutor Perpétuo... Se lembra de mim?
Ezra pisca rápidas e incontáveis vezes como se estivesse entrando em colapso nervoso por alguns breves segundos.
— Ezra! Está tudo bem?! Doutor! Ajude ele! — Digo aflita com a situação.
— Ah, não! Vamos perde-lo de novo! — Doutor Perpétuo balbucia alto o suficiente para que eu ouvisse.
Ele então, subitamente ao parar, olha para mim com olhos estalados e responde: — Eu me lembro dele, Violeta.
— Sim, amor! Ótimo! Você esteve com o doutor Perpétuo nos últimos três dias. — Comento em um misto de alegria e aflição.
— Isso mesmo, Ezra! Muito bem! — o doutor se aproxima do leito — Vou colher mais uma amostra de sangue para fazermos nova bateria de exames, tudo bem? — a agulha penetra a pele de Ezra, mas ele está tão vidrado observando o homem de jaleco branco em sua frente que parece não sentir a agulha entrar ou sair. — Obrigado! Vou deixar vocês a sós. Assim que os exames estiverem prontos conversamos novamente. Obrigado, Ezra. — O doutor deixa o quarto.
Ezra observa-o deixando a sala, e então se ajeita na cama, apoiando suas costas no encosto da cama. Tiro os travesseiros para facilitar seus movimentos.
— Fiquei tão preocupada com você, meu amor. Você não faz ideia do que aconteceu nesses últimos dias! Eu... — sou interrompida.
— Violeta. Me escute.
— Hã? O que foi, Ezra. — Sua atitude me congela. Por um minuto, aquele não parecia ser meu marido.
— Eu não me lembro de como cheguei aqui, muito menos dos últimos dias... A última coisa que me lembro, foi de cair no chão do nosso quarto, me contorcendo de dor, vindo a perder os sentidos. Só isso.
— Hã? Como assim? O doutor Perpétuo disse que você pediu ajuda aos militares, por isso conseguiram salvar sua vida!
— Violeta... — ele respira fundo, refletindo ao observar o lençol branco por cima de suas pernas, e então volta seu olhar a mim — me lembro de ver ele quando tinha apenas um ano de idade.
— O quê?! Mas, como?! — perco o chão novamente.
— Não tenho a mínima ideia. Mas já tenho noção que meu problema não é um cálculo renal — ele solta uma breve risada seguida de resmungos de dor —, temos que sair daqui Violeta. Não sei porque, mas meus instintos dizem para não confiarmos nesse médico.
— Também acho que não devemos confiar nele... Só tem um problema — digo ao me aproximar dele, diminuindo o tom da voz, — para chegar até aqui passei por três portas de aço bem trancadas. Isso parece mais uma prisão do que um hospital!
— Você não viu nenhuma placa de saída alternativa pelo caminho, Vi? Tem que ter!
— Não vi, Ezra... Infelizmente não vi...
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Molécula
General FictionNa tentativa de desenvolver os soldados de guerra perfeitos, dois oficiais cientistas da Força Aérea Brasileira tentam eliminar o traço humano mais poderoso, a capacidade de amar. Os experimentos fogem do controle de ambos, e acabam desenvolvendo h...