Nota da autora: Dependendo da resposta de vocês e da situação do meu comoutador, eu faço uma continuação pra esse capítulo, pra não cortar esse clima tão calminho dos dois aqui. E o título do capítulo é um trecho da música que coloquei na multimídia.
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— Tente usar a faca assim, Manu.
Reviro os olhos, mesmo que sorrindo, enquanto Miguel envolve minha mão com a dele, alterando a forma como a lâmina pressiona a carne clarinha do peixe. Permaneço cortando o que faltava, deixando que ele me guie, apesar de eu saber muito bem como usar uma faca e seu jeito não alterar quase nada.— Mas como é exibido…
— Exibido, não. Amostrador de conhecimento.
— Se gosta tanto de mostrar conhecimento, vai me mostrar como sossegar o facho? — Respondo, ele apenas me dá um olhar acusador, mas seus lábios curvados o entregam.
Deixo ele cortar o peixe e pego o que já deixei na bancada. De onde estamos, dá pra ver o mar e as ondas quebrando nas pedras, o sol refletido na água chega a doer os olhos. Mas é lindo,brilha feito uma estrela na terra.
A casa de madeira é alugada, apenas três dias das férias aqui antes de voltarmos para a nossa casa. É bom lembrar como é bom termos a companhia um do outro, sem mensagens do trabalho, sem a luz em meia-fase, sem tudo que pode haver de mau no mundo.
Começo a cortar a pimenta, que logo vai para a um prato fundo e grosso, com Miguel misturando ao peixe e ao sal. Começo a descascar cebola, e, ao começar a cortá-la, agradeço pela brisa no rosto, diminuindo a ardência dos olhos, apesar de já estar acostumado e nunca separar a raiz da cebola antes de terminar o corte das plumas; o som da faca afiada cortando o bulbo é familiar, me faz pensar em qualquer dia bom em que cozinhei ao lado dele.
Olho de relance para a aliança que o homem cortando limão aqui do lado tem no dedo e é igual a minha, a visão faz um calor agradável se alojar no meu peito. Continuo mutilando a cebola, sorrindo inconscientemente, lembrando que, na primeira vez que eu o visitei, fui convencido a fazer ceviche com ele. Miguel sempre gostou de cozinhar e de conhecer suas tradições mais a fundo, tanto que eu o conheci quando trabalhava na biblioteca e me interessei pelos livros que ele sempre buscava. De início, achei que ele fosse algum metido à besta que tentava fazer trabalhos diferenciados por ponto extra. Mas, não: sua voracidade consumia aquelas prateleiras e me consumiu em pouco tempo da forma mais genuína possível.
Deixo a cebola de lado e pego o alho para tirar os dentes, olhando de relance, outra vez, para a mão forte espremendo o limão, mas nunca até o fim, ou o amargor da casca vai junto com o sumo.
— Se olhar mais, vai me tirar um pedaço.
Me sobressalto com a fala de Miguel, que mal tirou os olhos da fruta que aperta para dizer isso. Me aproximo dele, andando de lado, deixando o calor do meu peito me guiar até ele.
— Então eu paro, te quero inteiro mais tarde — Coloco a cebola cortada junto ao peixe, livrando as mãos.
Vou para mais perto dele, como foi feito comigo mais cedo, passando a ponta do dedo pelas tatuagens escuras em sua pele, já que ele cedeu ao calor e tirou a camisa, brincando, fazendo uma espécie de carinho, subindo o braço e rodeando o peito.
— Disse que era pra mais tarde, Manu…
— E é — Respondo, tirando a mão com um deslize longo e indo misturar, direito, a cebola — Eu não fiz nada.
A única resposta recebida foi uma risada baixa e o recipiente cheio de suco de limão. Viro, com cuidado, por cima do que já está ali; minha cabeça nunca vai processar Miguel coloca a louça na pia e joga as cascas no lixinho, pegando o detergente e a esponja para lavar a louça. Podem falar muita coisa sobre esse homem, mas nunca que ele é preguiçoso ou desleixado.
Deixo o prato cheio descansando no balcão e vou até a porta aberta que dá para a varanda que circunda a casa toda, sempre envolvida pela brisa. Aproximo as duas cadeiras de madeira que cobrimos com mantas coloridas, com a mesinha redonda entre elas, sempre de frente para o mar; Miguel observa a cena com certo interesse através da janela, estendendo o pescoço como uma lhama.
O que eu tinha para fazer, eu já fiz. Apoio os cotovelos contra o parapeito, dando uns passinhos para relaxar o corpo e poder olhar para o nada, aproveitando a brisa e a maresia fraca contra o corpo. Seria uma boa hora para puxar um cigarro.
— Ô vista boa — É Miguel saindo pela porta que me desperta, e caminha ignorando as cadeiras que arrumei, preferindo apoiar o prato no parapeito entre nós.
Agradeço por ele ter trazido a comida antes de puxar um cubo esbranquiçado com o garfo que ele me entregou.
— A vista é boa mesmo — Respondo, antes de colocar o peixe na boca — Você trouxe a gente pro paraíso por acidente.
— Tenho que concordar. Qualquer dia desses, você me leva pra um paraíso, também, para não ficar desequilibrado. — Sua voz é calma ao falar — Ou pode fazer um inferno na minha vida, tanto faz.
— Se quiser, te mando para um paraíso mais tarde, ali no nosso quarto, e você fica quietinho. Que tal? — Digo, arrumando o cabelo para trás.
Ele para de mastigar por um segundo e me olha, com as sobrancelhas erguidas. Engole com força o suficiente para estremecer seu pescoço.
— Que bicho te mordeu hoje, hein? — Fala, olhando direto para mim e seu aproximando mais.
— Ah, eu não sei. Devo ter me mordido sozinho — Replico, voltando a comer. O ceviche realmente está bom demais.
Ele ri, se afastando de novo para comer, mas sem tirar os olhos de mim.
Mal percebo o sorrisinho sincero que se forma em meu rosto, chamando, mais uma vez, o calor no meu peito.
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Aproveitem os ABPCs!
Pro dia 26 do ABPCdays,meio atrasadinho, mas chegou, e a fic do dia 24 (Incumbido) já foi postada.
Sem dúvida essa foi a coisa mais água com açúcar que eu já escrevi, pois pra mim os PeChi juntos passam muito a vibe de 8 ou 80: ou estão destruindo o mundo ou estão isolados dele, abraçadinhos.
Espero que tenham gostado! E comentem sobre o que coloquei lá em cima <<33
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Limão doce
Fiksi PenggemarQuerendo aproveitar um pouco das férias a sós, Manu e Miguel vão para uma casinha em uma praia na costa peruana, que Manu afirma ser o paraíso.