Puerpério

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Por Heloísa

Ser mãe é a coisa mais difícil que existe no mundo. Ser astronauta ou neurocirurgião não chega aos pés de ser mãe, porque nas duas profissões existem a folgas. Quando engravidamos ninguém fala isso, tem uma amiga que fala que é porque a experiência não é difícil para todas. Besteira! É complicado pra caramba. Eu hoje completo quinze dias sem dormir direito, minha cabeça dói, meu humor está péssimo, choro constantemente e me pergunto pelo menos uma vez por dia "em que fui me enfiar?".

Em um desses dias eu acordei de madrugada para amamentar, arrotar, trocar e quando a Minna adormeceu, não consegui dormir. Comecei a chorar muito e resolvi sair do quarto para não acordar o meu marido. Tolice minha, eu sabia que se eu o acordasse, ele ficaria comigo até eu me acalmar e dormir novamente. Era incrível a alternância constante de euforia e depressão com a exaustão e as minhas limitações de atividades que fazia com um barrigão sem algum problema. A vontade que eu tinha de sair de casa e andar o condomínio todo era imenso, mas, eu sabia que nada seria resolvido. Era madrugada e eu me encontrei sentada em uma cadeira de frente a piscina com um copo de suco no apoio do braço e olhando aquele monte de água, só me vinha uma coisa na cabeça. "Se joga!". Descansei a cabeça em minha mão e senti as lágrimas grossas e quentes que brigavam com o fino do sereno gelado. Fechei os olhos e permiti o meu desmorono.

Tive um reencontro com o puerpério quando a Minna estava com um mês e dois dias de vida. Memo dia em que cheguei em casa. Provavelmente ele chegou assim que eu pisei no quarto da minha filha, dia 28 de julho que ele veio, apertou a minha mão me deu aquele abraço e demorou para soltar.
Lembro muito desse dia, porque eu não consegui comer, tomar banho, amamentar e tínhamos que levar a Mina para o pediatra depois de uma semana. O carro parava o choro dela enquanto eu não conseguia fazer ela parar. Eu chorava, o trânsito parava mais, a cicatriz da cesárea doía e o peito também. Estavam cheios de leite e amamentar doía tanto, meu bico estava ferido, parecendo que ia cair a qualquer momento e o meu emocional estava ferinamente pior porque eu não conseguia alimentar a minha menina por completo, uma missão em que eu achei que bateria um bolão!

Apoio a mão sobre os pontos que estavam se recuperando de uma inflamação anterior, era uma cicatriz maior que o normal de uma cessaria, já que dali também saiu o meu útero. Faço careta a cada quebra-molas, tento disfarçar a cara quando Stenio olhava para mim, me viro para a parte de trás do carona e Minna estava dormindo totalmente tranquila na cadeirinha, ponho meus óculos de sol e viro a cabeça para o lado da janela, sinto a mão do meu marido sobre a minha coxa e prefiro ficar na mesma posição. Ele sabia que eu estava chorando, mas não falou nada, só me deixou em paz.

Stenio

Chegamos ao hospital e Heloísa estava em um extremo silêncio. Na verdade, ela estava quase sempre em silêncio, minha esposa estava triste por não conseguir amamentar a nossa filha, todas as vezes ela fazia caretas de dores e eu não sabia como ajudá-la. Ao final de cada amamentação eu a via lamentando por mais uma vez depois de jogar um saquinho de leite na lixeira. Sabe o leão quando tem filhote e não quer que ninguém chegue perto? A Heloísa estava assim, acho que por não conseguir fazer certas coisas para nossa bebê, ela se obrigava a cuidar e proteger a nossa pequena princesa.

Perdi as quantidades de quantas vezes que ouvi vomitar no banheiro, ela de vez enquanto tinha crises de ansiedade e passava mal, além das crises de choro que ela tinha de madrugada, o meu amor estava completamente inerte de qualquer coisa ou assunto, ela estava cansada e se sentindo incapaz, não era preciso palavras para eu saber, o olhar dela transmitia isso e... cara como está sendo difícil ver a minha mulher assim!

- Chegamos! – Saio do carro para pegar as bolsas e vejo Heloísa pegando a nossa pequena com agilidade e cuidado.

HELOÍSA

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