Cartas, hoje em dia é algo quase que arcaico, afinal de contas quem escreve e manda cartas hoje em dia quando se existe e-mail, whatsapp e etc.
Não estarei contando mentiras aqui, Carmem Frufru é uma garota bonita, e ela sabe disso. É óbvio que ela teria pretendentes — e não estava interessada em nenhum deles. É a mais pura verdade, ela gosta de chamar atenção, que garota não gosta de ouvir elogios e receber declarações? As únicas vezes em que viu uma carta na vida, foram as vezes que recebeu palavras bregas escritas em um papel sobre como ela é uma garota bonita e como é desejada.
Ela nunca dava atenção a essas coisas, para ela, era apenas lixo. Não queria o amor de garotos. Até porque, para eles, ela era só um troféu para mostrar por aí, "eu namoro carmem frufru", e ela sabia disso.
Mas dessa vez não eram declarações de um garoto, e isso fez com que ela estranhasse toda a situação.
O envelope dizia "de sua querida admiradora, que não tem coragem de se declarar cara a cara", e isso a fez travar por um segundo.
"Uma garota? Eu estou sendo amada por uma garota? Uma garota sente vergonha de se declarar para mim… Eu li errado? Não, é isso mesmo."
Uma sensação estranha percorreu seu corpo e ela sentiu arrepios, ali parada com os papéis na mão sem coragem para abrir. Mas ela estava curiosa para saber se era alguma piada de mal gosto ou se ficaria com as bochechas coradas ao ler.
Carmem sabia que gostava de garotas, no fundo, por mais que dissesse a si mesma que não, que estava fora de cogitação, que ela não podia, ela sabia que gostava. E era isso que estava fazendo seu coração bater mais forte enquanto decidia se leria as cartas, ou se jogaria no lixo e fingiria que isso nunca havia chegado a seu endereço.
Subiu para seu quarto, quase tropeçando nas escadas devido a sua pressa. Trancou a porta do quarto e pulou em sua cama, olhou fixamente para os envelopes e resolveu, que se não os abrisse agora, não abriria nunca mais.
Ao abrir, puxou o papel dobrado que se encontrava lá dentro e o desdobrou. Começou a ler para sanar sua curiosidade, que quase fazia seu coração pular para fora de seu peito.
De, Mônica
MÔNICA? Ela já estava surtando ali mesmo. Como assim a garota com quem ela nunca se deu bem, com quem ela vivia brigando, com quem ela sempre saía por cima por ser mais bonita, mais rica, e, consequentemente acabava sempre ganhando mais atenção de todos ao seu redor, como assim ela não só escreveu uma carta, como também deixou claro que eram coisas que ela não tinha coragem de dizer pessoalmente. Ela deu um gritinho, arregalou os olhos, colocou a mão por cima da boca. Ela não sabia como iria reagir ao que estava para ler neste exato momento.
Eu sei que é estranho, e me perdoe por não conseguir falar isso em uma conversa com você, mas eu sou melhor escrevendo, então é isso que eu decidi fazer.
Eu tenho gostado de você há, hm, dois anos eu acho? Eu não sei dizer exatamente, mas é por aí. Eu andei reparando que, toda vez que eu te via minha atenção ia para você. Eu passei um tempo achando que isso era inveja, que eu queria ser como você, que eu queria ser igual você, eu demorei um tempo para me tocar que na verdade eu queria você.
O que eu achava que era inveja, e, às vezes até ciúmes, porque você roubava toda a atenção de qualquer garoto (e, aparentemente, qualquer garota também) e, todos paravam para admirar o quanto você é linda, e de fato, você é muito linda. Seu cabelo cacheado, seus olhos azuis, seu rosto delicado que parece ter sido esculpido por um anjo, Carmem Frufru é a garota mais linda que eu já vi.
Eu não sentia inveja de você (ok! talvez um pouco) mas era mais um sentimento de "quero que ela seja minha" do que "quero ser ela" e isso me fez martelar a cabeça por dias.
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Declarações em papel de carta {Carmem x Mônica}
RomanceCarmem já estava acostumada a receber cartas, mas ao perceber que o remetente era uma garota, ela se surpreendeu.