Capítulo 1

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    -Bom dia Fabiano.
   
    Mais quem caralhos é...

    -É você Vitoriano, como vai? Disse o velho com sua longa barba grisalha.

    -Vou indo sabe, estou indo até a cidade ver se consigo comprar algumas coisas.

    -As coisas andam caras que só vendo, antigamente era melhor tu lembra? Era no rádio toda hora notícias do progresso, não se acanhe homem de Deus sente-se um pouco antes de seguir rumo.

    -Se o amigo faz tanto gosto.

    Tanto tempo e ainda com essas formalidades todas, gosto de Vitoriano, é um cabra de respeito, um bom amigo.

    -E essas obras que não acabam nunca? É um vai e vem de caminham levando brita.

    -Vemos as britas indo... Mais cá estamos, levam as britas pro progresso porém o progresso não vem a nós.

    -Não diga isso o pogresso demora mais ele vem.

    -Eu não confio muito nesse novo presidente, tem cara de bonzinho e um cabra tenque ter pulso firme, não ser um frouxo com cara de bom moço.

    Antes que Vitoriano falasse ele é interrompido: "Luziaaaaa trás duas xícaras de café pra nós."

    -O amigo vai aceitar um café quentinho, Luzia acabou de passar... LUZIAAAAAAA TRÁS LOGO A PORRA DO CAFÉÉÉÉ!!!

    Dava para sentir o cheiro do café, realmente estava com um cheirinho bom e convidativo afinal um bom café faz bem a alma. De dentro da casa vem Luzia trazendo uma tabuleta de madeira com duas xicrinhas de ferro com a bebida da paz. - Por que demorou tanto? Fabiano pega uma das xícaras e Luzia entrega a outra a Vitoriano que agradece com doçura. Enquanto dar um primeiro gole no café que estava quente, Fabiano nota um olhar um tanto suspeito ao seu ver entre seu amigo: A Vitoriano seu filho da puta.

    -Pode entrar Luzia aqui é conversa de homem.

    A garota adentra a casa, olhando para baixo, retraída Luzia era a única companhia do velho Fabiano e Fabiano era sua única companhia, bem ou mal como ele dizia: "Família nunca quer ver o mal da família"

    -Então o amigo dizia... Tentou ele de tirar o foco do amigo em Luzia...

    -Bem... É... O café está ótimo, Luzia é uma menina de mão cheia e muito educadinha, da gosto de mais de se ver...

    Tantos elogios... Elogios não enchem barriga Vitoriano.

    -Como eu dizia, o progresso nessa tar de Nova Constituinte é só pro povo do litoral pros bacanas da cidade grande.

    Vitoriano saboreia o café divino que a menina Luzia preparou, realmente era muito bom e toda vez que provava era como se fosse a primeira vez que o consumia. -Bem amigo meu, a cidade não tá tão ruim assim, veja também, já temos até luz elétrica... Aparelho de televisão...

    -Esse trem ainda é estranho para mim, como pode transmitir imagem e som? Não sou nenhum matuto do mato mais esses progressos são cabulosos.

    -A isso sim, agora da pra ver arté futebol em cores... Vê se pode um trem desses?!

    Ambos bebem mais um gole de café, quase que em sincronia, um passarinho amarelo pousa na árvore que fazia sombra e começa a cantar, ele parece tranquilo e só o canto dele corta o silêncio, começa a ventar e a brisa faz o mensageiro do vento tilintar. Fabiano e Vitoriano permanecem quietos olhando para o nada.

    -Soube que teve um forró bom na Sinhá Dalva com as meninas outro dia.

    -Lugar de pouca vergonha, onde já se viu homem passa batom e peruca... Parece até que estamos no garimpo.

    -Você lembra como era não é verdade? Vitoriano fala com um tom irônico.

    -No nosso tempo havia respeito, homem era homem e os frozô era o que são.

    -Havia uns e outros... Você lembra da Paulette...

    Fabiano olha com reprovação Vitoriano, parecía que não gostava de certas recordações do passado: -O que quero dizer é que bem, os tempos mudam amigo...

    -Onde já se viu? No nosso tempo já era imoral, hoje em dia é tudo escancarado, não há respeito.

    -Tarvez o amigo tenha razão, mais Sinhá Dalva até que é uma pessoa animada, pelo menos da um ânimo ao local.

    Fabiano olha o amigo de baixo a cima, como se o julgasse ou tentasse intender, essa modernidade hoje em dia, que o cabra faça mais tenha respeito. Tentou não rir mais acabou deixando um risinho de escarneo passar

    -Não vai me dizer que o amigo depois de todos esses anos está se tornando um transviado...

    -Mais que idéia é essa Fabiano, sou homem sério, sou humilde, trabalhamos no garimpo juntos sabe que meu negócio é muié alias e como sabe bem que eu gosto de uma mulher, não é verdade?

    O silêncio reina novamente e o passarinho amarelo agora pousa no chão para pegar bichinhos. Dava pra ouvir o vento uivando. Vitoriano termina o café.

    -Agora o amigo se me der com toda licença eu tenho que ir na cidade, agradecido pelo cafézinho. Vitoriano se levanta e deixa a xicrinha na cadeira, se espreguiça tentando espantar a leve canseira que deu: -Obrigado pelo café Luzia, tava muito bom, Deus lhe pague. Disse ele olhando pela porta, porém sem ver ou ouvir um sinal da jovem que estava na cozinha, ele coloca seu chapéu e caminha até a estrada.

    -Te espero sexta-feira meu amigo. Disse o velho totalmente com sarcasmo. O caboclo aqui e havia saído finge não ouvir o que seu amigo disse. Fabiano com o restinho de café espanta o passarinho amarelo: -Diacho de pássaro, ainda faço um frango a passarinho com você, Luziaaaaaaa cadê o almoço? Falou o velho se levantando de sua cadeira, pega sua bengala e caminha para dentro levando as duas xícaras. -Luziaaaaaaa me responda quando eu te chamar!!!

    A menina Luzia vai até o velho, retraída de cabeça baixa, ele entrega as xicrinhas a ela: -Estou com fome Luzia vamos comer, melhor vamos na venda comprar alguma coisa o que você acha?

    A jovem só balança a cabeça concordando, ela leva as xícaras para  pia.

    -Ponha uma roupa bonita, não as da missa, pois você sabe que roupa da missa é só pra se usar na missa.

    Luzia vai se tomar um banho para por uma roupa limpa, não parecia mais ela estava empoeirada pelo pó da estrada, o vai e vem de caminhões era quase impossível de deixar as coisas limpas, a rota principal dos caminhões era rumo ao litoral seri usadas britas nas construções civis, o povoado ficava bem nessa encruzilhada de um lado a rota pro litoral uma reta sem fim no horizonte, na direção contraria a pedreira, a frente a cidadezinha onde as pessoas iam para comprar, buscar, enviar correspondencias.... Essas. Era quase como se todo mundo se conhecesse, a e claro um pouco mais afastada estava a casa de Sinhá Dalva a zona local, Sinhá Dalva que também era dona de duas biroscas na cidade e de uma pensão local, vamos dizer que era uma mulher de negócios e mesmo sendo uma travesti consegue bater de frente com qualquer malandro folgado que tente relar a mão nas suas meninas.

    Fabiano desliga a tv e começa a fechar a casa, rápidamente ele olha Luzia de costas se trocando com todo seu auge de juventude, ela se enxuga após um banho de caneco, põe suas roupas íntimas e logo seus shorts jeans, enquanto ela se vira deu para ver bem os seios já bem proeminentes, Fabiano disfarça.

    -Mais tá bunita por de mais, vamos, deixa eu pegar o meu boné.

    O velho de barba branca fica desconcertado, tenta não demonstrar excitação: -Vai saindo que já estou indo filha.

    Fabiano pega seu boné, suas chaves, sua bengala e claro seu inseparável revólver calibre 38 que esconde por de baixo da camisa, o velho tranca a casa e mancando ele vai até Luzia que estava com seu olhar perdido na estrada como se passasse mil coisas e nenhuma delas fosse a resposta para o que procurava.

    -Vamos.

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⏰ Última atualização: Jun 30, 2023 ⏰

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