Memórias não podem ser refeitas, que tristeza.

40 7 30
                                    

Mingi nunca gostou de café, testou um pouco de todos que conheceu e odiou todos esses. Havia algo no sabor que nunca o agradou, não importa quantas colheres de açúcar sejam colocadas na xícara, ele ainda sentia o sabor peculiar da bebida. Ele nunca foi o tipo de pessoa que expressava seu desgosto sem ninguém ao menos ter tocado no assunto. Quando ele respondia às pessoas que não gosta de nenhum tipo de café, o olhavam indignadas e exclamavam: "Como alguém pode não gostar dessa bebida?! Todo mundo ama café, a melhor bebida que há!" Ele só as olhava inexpressivo e erguia os ombros, por algum motivo as pessoas sempre ficam mais neutras ao ver sua resposta, mesmo que haja alguém que sempre faz piada sobre isso.

No horário do almoço, ouviu de um colega de trabalho que abriu uma cafeteria nova, onde antes era uma lanchonete simples. Apesar de não ter gostado do fato de terem reformado a lanchonete, onde guarda lembranças maravilhosas com seus amigos e familiares, compreende que o antigo dono estava tendo muitas dificuldades pra administrar o estabelecimento, não havia familiares pra ajudá-lo e seus contratados pisaram na bola com ele, vender a lanchonete era a melhor solução que encontrava pra se livrar de suas dores.

Mingi soube disso ouvindo do próprio senhor, numa noite de domingo em que o rapaz não conseguia decidir se já iria pra casa se preparar pro dia seguinte ou se iria acompanhar o dono da lanchonete até a hora de ele fechar o local. Os dois estavam sentados nas cadeiras de madeira, o mais novo apoiava seus braços e cabeça nas costas da cadeira enquanto o mais velho se sentava normalmente com sua muleta na mão esquerda. O jovem apenas ouvia o senhorzinho falar, gostava de ouvir o que ele tinha a dizer. Conversa vai, conversa vem, o senhor toca em um assunto delicado:

— Sabe, rapaz? - o senhor segura sua muleta com as duas mãos enquanto Mingi levanta a cabeça interessado. - Depois de quarenta anos com essa lanchonete, eu vou vender isso tudo aqui.

— Mas por que? - levanta as sobrancelhas preocupado.

— Eu tive muitos momentos bons aqui, é verdade. Conheci teu vô, teu pai, tua mãe e você. Fiz muitas festas aqui e lucrei muito com as minhas receitas. - o senhor respira fundo se apoiando na muleta e continua. - Mas uma hora isso acaba, tudo acaba. Minha mulher não está mais comigo, meus filhos foram embora e não há mais familiares que queiram continuar com essa lanchonete. Meus funcionários só me passam a perna e roubam meu dinheiro, dá pra ver que só tem três funcionários.

— Eu posso te ajudar se o senhor quiser. - o jovem supõe.

— Adoraria, mas os tempos de ouro já se foram. Não há nada melhor pra fazer do que vender isso aqui. Vou recuperar meu dinheiro e partir pra outro lugar. Passar o resto da minha vida tranquilo.

— Já não aguenta mais a cidade?

— Tsc, tsc, tsc. - nega. - Só quero sossego agora.

— Entendo... E quando irá vender a lanchonete?

— Daqui a uns dias os corretores virão pra determinar o valor desse lugar. Quando for comprado só recebo o dinheiro e me parto daqui!

— Nunca mais vem pra cá? Nem pra me ver?

— Eu adoraria te ver mais vezes! - riu apertando a bochecha de Mingi, logo solta fazendo com que o rapaz passe a mão por doer um pouco. - Mas eu não tô aguentando nem ir daqui pra casa, de casa pra cá... Muita dor, seu... Seu...

— Mingi. - o lembra sorrindo.

— Ah, sim! Mingi! - riu alto. - Até os nomes que mais gosto eu tô esquecendo.

— Acontece. - responde com um sorrisinho.

— Posso esquecer do seu nome, mas ainda lembro de tu correr por aqui pequeninho, com esse seu sorriso. Como adorava o suco de laranja daqui, e pedia toda vez que vinha pra cá! E quando passava o dia com seus amigos aqui há poucos anos atrás, nunca vi crianças tão atentadas como vocês.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 07, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

"Não gosto muito de café." - yungi [ateez]Onde histórias criam vida. Descubra agora