alinhamento de planetas

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Crianças corriam por todo o pátio do colégio. O verão estava escaldante, parecia ser o dia mais quente do ano. Conseguia ouvir os gritos mesmo quando estava longe de todas as outras crianças, que brincavam ao longe, suadas, mas não se importando com o calor. Tobirama as observava da janela da sala de aula, que ficava no térreo. Ainda era pequeno, por isso tinha que subir em uma das cadeiras — enquanto nenhum professor via — para conseguir olhar para fora. Sua expressão estava apertada, o cenho franzido e o queixo enrugado. Sentia as lágrimas descerem rapidamente, como a de qualquer outra criança quando chorava.

Mesmo que estivesse confortável ali, a lancheira aberta na carteira naquela sala de temperatura ambiente, queria mais do que nunca poder sair e jogar futebol com os outros meninos, ou até mesmo brincar de adedonha com as garotas. Mas ali estava de novo, sozinho, com ninguém o acompanhando na hora do recreio, só a professora que no momento não lhe dava atenção.

Não havia questionado quando sua mãe disse que não poderia ir para fora da sala de aula no verão e primavera, mas agora se sentia triste por não poder fazer isso. Reclamaria com ela, mas de certa forma entendia que não poderia se juntar com o resto. Sabia que era diferente quando entrou no início do fundamental, vendo as crianças perguntarem o que tinha de errado com o Senju para a professora, que mesmo os repreendendo, ainda faziam perguntas parecidas. Elas tinham medo de tocar em si, pois sabiam que sua pele era mais sensível que as demais, e que seus olhos não poderiam suportar tanta luz. As meninas às vezes eram enfeitiçadas pelos seus cabelos quase brancos, ou seus olhos em um castanho tão exótico que parecia vermelho, mas não era como se fossem suas amigas. Sabia que caso não fosse impedido de sair dali, e se fosse brincar com os outros, sua pele ficaria tão vermelha quanto seus olhos pareciam, que doeria no seu rosto, que arderia como se puxasse muitos fios de cabelo de uma vez, e não conseguiria manter os olhos abertos por muito tempo.

Por mais que todo mundo não tivesse nada contra Tobirama, não se aproximavam, com medo de o ferir, mesmo que não fosse tão fácil assim. Elas o encarariam mais do que iriam brincar. Iriam o excluir, pois caso algo acontecesse consigo, levariam uma bronca dos adultos. Ninguém gosta de levar bronca.

E mesmo depois de anos, não mudando de escola, amadurecendo junto com seus colegas que sempre conheceu, aos dezessete anos nunca viu ninguém que se atreveu a chegar perto o suficiente, ou então, que arriscou uma amizade maior do que perguntar uma dúvida sobre a matéria. Talvez tenha sido isso que o deixou egocêntrico e antissocial, de acordo com seus irmãos, que sempre disseram que nem tudo que as pessoas sussurravam pelos corredores era sobre si, que a maioria não conversava muito por sua cara feia na maior parte do tempo, e que não ficavam com raiva quando a sala tinha que se adaptar para não o prejudicar em sua condição. E ainda assim, sempre insistia que era.

— Quem é ele? — uma vez uma novata perguntou, no sexto ano, para um outro garoto

Talvez ela estivesse fascinada, ou assustada, realmente não lembrava.

O garoto riu, abaixando o tom de voz para que não escutasse, mas ainda deixando completamente audível, em contradição.

— É o alien da sala. Ele veio de Marte.

Não deu atenção para eles no momento, mas foi um grande baque saber que pensavam assim dele. Soube, por outros sussurros, que o chamavam de marciano por seus olhos de aparência vermelha, e pela primeira vez quis arrancá-los das órbitas. Depois parece que o apelido pegou, as pessoas usavam para falar de si sem saberem que tinha conhecimento. No início, deu uma de durão, fingindo que não ligava; mas às vezes, quando já era tarde da noite, quando já estava deitado na sua cama, de vez em quando com a pele irritada, coçando por ter ficado tempo mais que devido exposto ao sol, chorava do nada. Era como se lembrasse o quanto sua condição era terrível, e quem dera fosse só a impressão das pessoas que o faziam pensar nisso. Ninguém o confortava, porque ninguém sabia. Às vezes tinha vontade de contar, mas já dava muito trabalho com os tratamentos que recebia de vez em quando.

Eu, você e as luas de Marte (TobiIzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora