— Senhores passageiros, dirijam-se para fora do avião. Agradecemos pela total confiança em nossa tripulação e desejamos a todos uma boa noite.
Foi o que ouvi anunciarem ainda de olhos fechados e me espreguicei no assento, logo percebendo que a dona Hikari não estava lá quando estiquei os braços no lugar vazio.
Levantei as pálpebras, porém estava tudo embaçado e mal conseguia distinguir qualquer coisa dois metros à minha frente. Vi apenas o topo de uma cabeça com cabelos escuros próximo de mim.
Notei a mão daquela pessoa ao meu alcance e apenas a segurei, uma pena que não era minha mãe.
Um rapaz alto, evidentemente japonês, virou para mim confuso e com os olhos arregalados, sem reação como eu.
Minha ação desesperada foi puxar minha mão com certa força depois de um tempo segurando a dele.
— Perdão, pensei que fosse minha mãe — falei séria e me desculpei.
— Tudo bem, não se preocupe — ele disse com um sorriso rápido, ajeitando o cabelo com uma das mãos. — Qual seu nome?
— Kato Harumi**, e o seu?
— Hamada Tadashi. Prazer em conhecê-la, Kato-san***.
— Prazer, Hamada-san. — Estava sendo o mais neutra e informal possível.
— Filho? Ah, aí está você. — Um jovem senhor ficou ao lado dele, já que o avião estava quase sem passageiros naquele momento. Ele se curvou ao me ver e se apresentou. — Hamada Aoto, muito prazer.
— Filha, perdão! Precisei falar com a aeromoça e saí sem avisar — Ela finalmente voltou, mas não notou os dois até o momento. — Ah, perdão. Sou Kato Hikari, muito prazer — Estava agitada e respirava ofegante pela pressa.
Depois dos cumprimentos, mamãe e o Sr. Hamada conversaram por mais um tempo enquanto o rapaz e eu descobríamos termos o mesmo gosto por C.S. Lewis e livros.
— Você já leu Cristianismo Puro e Simples? — Ele perguntou com o livro que abracei praticamente a viagem toda nas mãos, observando os detalhes da capa.
Talvez estranhasse por ser uma edição em português, não em inglês.
— Já, sim. Conhece O Senhor dos Anéis?
— Tolkien? Como poderia não gostar? — Havia um pouco de entusiasmo na voz grave e seu rosto se iluminou enquanto falava das histórias que viveu sem sair de casa.
— Com licença, senhores, mas queremos pedir encarecidamente que deixem o avião para os funcionários fazerem a limpeza para o próximo voo — uma aeromoça com coque e roupas perfeitos pediu em inglês.
Nós quatro ficamos envergonhados e rápido saímos da aeronave, então olhei o celular: era quase meia-noite, mas eu estava plenamente feliz por estar em Tóquio de volta. Depois, mamãe e eu paramos de frente para eles, já no saguão.
— Foi um prazer conhecê-los, quem sabe um dia não nos encontramos de novo — ela disse com seu melhor sorriso. Me admirava o quanto ela era sociável e espontânea, o oposto de mim.
— Esperamos que sim, não é, Tadashi? — Ele virou para o filho.
— Com certeza, então podemos continuar falando sobre todos os mundos que já visitamos — seus olhos castanhos pousaram em mim e dei um sorriso muito tímido de volta.
— Sayōnara! — Dissemos juntos enquanto mamãe e eu íamos encontrar a tia Hatsumi no estacionamento.
Glossário:
*okāsan: mãe, em japonês.
**Em japonês, quando você se apresenta para alguém, sempre se diz primeiro o sobrenome e depois o nome.
*** Quando duas pessoas não são íntimas, chamam-se pelos sobrenomes e a terminação “-san” ao final como sinal de respeito. Apenas amigos e parentes tratam-se pelos nomes.
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Nunca Estive Sozinha - Conto Cristão
RomanceLivro 1 da Duologia Memórias Classificação: +14 Atenção: contém gatilhos de abandono paterno e luto. ✨Sinopse Qual o tamanho da ferida que a ausência pode causar no coração humano? Bem, Harumi nos mostra que pode ser enorme. Como uma casa totalmente...