Pode passar quantas eras, anos ou séculos forem, mas eu, até hoje, não entendo por que, de todas as pessoas do mundo, planetas e universos diferentes, eu fui escolhido. Por que eu tenho que carregar tanto peso? Acho que a resposta é a ironia. Afinal, posso passar anos assistindo essas pessoas, vendo-as nascer, crescer e morrer, mas para mim é a mesma coisa, um ciclo sem fim, como se nunca houvesse um fim. Eles acham que têm controle sobre suas próprias vidas, mas no final das contas, isso não vai passar de uma ilusão. Nem mesmo antes de seus últimos suspiros.
Nem eu, que deveria ser onipotente e saber todas as respostas, sei a diferença entre mim e esses seres desprezíveis. Talvez seja o fato de não matar por prazer, ou o fato de não fazer guerras apenas porque eles querem mais, ou porque acham que são melhor, ou porque um tem mais riquezas que o outro. Ou porque não querem aceitar o novo. É porque a ignorância para eles é uma dádiva, uma dádiva que os destrói. Como eu sei disso? Eu, que tenho o dever de manter a destruição em controle, aprendi que ela é alimentada todos os dias por eles. E alguém precisa manter isso sobre controle, ou o que pode acontecer seria o fim dos tempos.
Que saber uma curiosidade bem interessante! Essas coisas existem porque são alimentadas a cada dia de uma forma diferente. Sim, a destruição é alimentada com tudo que há de pior neste mundo. E claro, a tão bela criação e por tudo de bom lógico. O perfeito equilíbrio. Aquela frase 'onde há luz, há trevas. Onde há bondade, há mafaldade. Onde há o ruim, tem o bom e outras coisas que sinceramente todos devem saber sobre'.
Quando eu acordei, já sabia tudo que era certo e errado, o que deveria ser feito e o que não deveria ser feito. Eu não precisei de um pai ou de uma mãe para isso, porque eu sabia tudo. Algumas vezes, algumas pessoas nem precisam disso para ter caráter ou ser mal caráter; afinal, nem sempre é culpa da criação. Talvez eu tenha sorte de nem ter que lidar com uma. Eu tenho sorte de não ter que lidar com isso.
17/03 é uma data sem dúvida interessante, pelo simples fato do que vai acontecer às 17:30 deste dia. No entanto, se eu contar o que vai acontecer, isso acabará com a magia desse momento.

DIAS ATUAIS: 17/03O barulho da chuva caindo fora da livraria, o som dos ponteiros do relógio, o entra e sai das pessoas, sem parar, os diferentes sons de sapatos no chão de madeira, os burburinhos de alguns e as conversas de outros. Em momentos assim, o silêncio parece ser difícil e é nesses momentos que minha única vontade é simplesmente fechar a loja, mas é claro que não farei isso porque hoje é um dia especial, e ela precisa estar aberta para qualquer um, sem exceção.
Então, sem pensar muito, me levanto, indo em direção a uma das salas que eram proibidas de entrar para todos. As salas assim são um refúgio para mim, às vezes, minha cabeça não consegue filtrar todas as informações ao mesmo tempo e fecha-se. Então, eu fecho a porta e vou em direção a algum sofá. Depois de passar algum tempo em completo silêncio, eu joguei minha própria cabeça para trás, sentindo o acolchoado daquele móvel nas minhas costas. a sensação de ser abraçado por algo quente e acolchoado me traz paz e conforto, ajudando a clarear meus pensamentos e me acalmar.
- Maldita hora que eu inventei de abrir uma livraria.- Falo enquanto mantinha meus olhos fechados, passando minhas mãos pelo meus cabelos enquanto, ao mesmo tempo, escutava o rangido da porta sendo aberta por Alex.
- Deixe-me adivinhar: sua sensibilidade auditiva, você devia fazer algo a respeito, sabe? - Disse a garota de 17 anos, funcionária da livraria por algum tempo, com um ar de superioridade, como se trabalhasse como uma teenager fosse uma escolha popular.
- Primeiro funcionária, depois patrão, depois funcionário, né? -disse eu apontando para mim mesma e para ela, vendo ela se sentar no sofá à minha frente, e revirando os olhos enquanto eu falava, fazendo com que eu nem desse a mínima, afinal, o que se espera de uma adolescente? - Sim, eu sei que devo fazer isso, mas mesmo assim já estou ótima assim, obrigada pela preocupação com a minha pessoa.
- ...nossa, você sabe que é bom ter um senso de humor, né? - disse ela, cruzando os braços à sua frente.
- ...e é claro que eu sei, só não sou obrigada a agir como um palhaço, né? - Disse eu, dando um sorrisinho irônico para ela, fazendo ela mover a cabeça em forma de negação - Por sinal, você sabe quanto tempo falta para dar 17:30, Alex?
- Sabe, eu acho que faltam apenas duas horas e meia, mas porque você está tão preocupado com isso desde hoje de manhã? - Disse ela enquanto me olhava, vendo que mantinha uma cara de que nunca falaria -Vamos adivinhar, você não vai falar, né? Sabe, às vezes, é bom contar as coisas para as pessoas.
- Eu conto afinal você saber quem eu sou de verdade. - Falei sem nenhum rodeio, me levanto do sofá e vou caminhando em direção à saída, mais antes de sair paro no meio da porta e olho para ela. - Assim que a primeira mulher passar pela porta às 17:30, diga para ela subir as escadas para a parte de cima da biblioteca.
- E como você tem tanta certeza que vai ser a pessoa que você deseja ver?...- ela olha para mim vendo o meu sorriso, um sorriso que dizia que sabia exatamente tudo que precisava saber. Ela ficou de boca aberta tentando achar alguma palavra, mas depois ela fecha a boca instantaneamente, cruza os braços e coloca as mãos nas pernas e se levanta no impulso para ficar em pé.
- Quem disse que eu quero ver ela?- Olhei para o rosto dela e depois virei minha cara, saindo daquele ambiente e andando até a escadaria.
Subo as escadarias da livraria que dava para a parte mais importantes, onde ficavam os livros mais antigos. Todo esse lugar ninguém pode entrar, nem mesmo pode ser visto. Só quem pode ver é quem eu desejo que veja ou alguém como ela. Afinal, não ser pode esconder algo de alguém que sabe tudo, até mesmo o futuro.
Espera... espera uma coisa que exige muita paciência, algo que eu precisei aprimorar por vários anos... Eu olho para o relógio, para as escadas, para a varanda e esse virou meu círculo. Porque mais de duas horas e meia e, como eu não passa-se o tempo, o tempo nunca foi tão demoro, tanto quanto agora...
Eu olho mais uma vez para aquele relógio, e mais outra, e outra. Eu praticamente implorava para que o tempo passasse rápido, talvez ele tenha me escutado porque, quando eu o olho agora, falta apenas alguns minutos. Então lá vou eu, me levantando da cadeira que eu estava sentada e indo para a frente da varanda que dava para ver toda a livraria, incluindo a porta. Foi aí que eu ouvi a última badalada do relógio, marcando as 17h30, e o barulho do rangido da porta sendo aberta.
Lentamente, a porta se abria e lá estava a mais pura bondade, felicidade, amor e outras coisas assim. Eu não precisava vê-la para saber que era ela, apenas os sons dos passos dela, o som dos sorrisos que eram necessários. Talvez seja impossível não mudar em mais de 500 anos, mas há coisas que não têm como mudar. Aqueles olhos cor de âmbar, a cor da luz, ela ilumina, isso não há como discordar. Aqueles cabelos tão pretos quanto a galáxia, a galáxia não pode ser comparada, e nunca será, até mesmo o jeito de andar continua o mesmo, confiante, mas não arrogante, decidido, mas ainda restam dúvidas.
Mas foi aí que aconteceu algo inesperado. Quando ela levantou a cabeça em minha direção, não eram os mesmos olhos. Eu não esperava que fossem os mesmos, é claro que não. Como eu poderia esperar que fossem, sendo... não importa. Isso deve ficar no passado, afinal, o passado fica no passado e às vezes não podemos voltar e saber o que eu fiz diante daquele olhar de ódio. Simplesmente acenei e sorri.
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Até a Eternidade
FantasíaAnos e anos separados, sem ao menos escutar o som dos passos um do outro. Mas quando o destino quer algo, ele tenta de tudo para conseguir. O destino controla, ele decide, nada sai do controle, mas será mesmo isso? No dia 17/03, algo mudou. Algo sai...