1 - A cidade estrangeira

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VEJO as árvores passando rapidamente pelo meu campo de visão, quase como borrões verdes e com alguns toques de marrom. Me endireito no banco de couro do carro, sinto minhas pernas grudarem um pouco devido ao short que estou usando, isso me causa uma vergonha absurda. Sei que, ao me levantar, a marca das minhas coxas vão ficar aqui, certinhas. Começo a tentar limpar de forma disfarçada enquanto continuo olhando a janela, mas logo desisto. Pego o telefone dentro da minha bolsa que estava do meu lado, desbloqueio e começo a mexer. Entro no Instagram e começo a rolar o feed, vejo alguns amigos meus saindo juntos para um evento das quais eles foram convidados e eu não.
Bloqueio o telefone mas logo ele acende com uma notificação de SMS. Era minha mãe perguntando se eu já estava chegando e se estava tudo bem, porque até agora eu não havia dado um sinal de vida. Digito uma mensagem rápida para tirar suas preocupações e explico que falta pouco para chegar no destino.

Guardo meu telefone na bolsa e volto a apreciar a vista. A vista que antes era preenchida pelo verde agora se mescla com prédios, vejo os vultos das pessoas andando normalmente, vivendo suas vidas. Algumas riem, outras xingam alguém do outro lado da tela do telefone, outros só correm apressados para o trabalho. Começo a pensar que estou de narradora na história dessas pessoas, meio engraçado pensar assim. Contar uma história a partir do que vejo, a história de vida da pessoa, seus traumas, seus erros, seus acertos, seus amores eternos e marcantes. Não tenho muito o que dizer sobre a minha vida, então é mais interessante falar dos outros. Me entretenho muito nesse mundo que nem percebo que cheguei ao destino, o motorista me chama e avisa que chegamos. Agradeço, pego minhas coisas e saio do carro.

Finalmente cheguei ao lugar que deveria estar. Bem... na cidade que eu deveria estar. Havia alugado um hotel para ficar, obviamente dentro do meu orçamento. Olho o prédio de baixo para cima, ele não é tão alto o que é bom, mas ele consegue se destacar. Talvez porque os outros tem um ar mais mais atual e ele mais... não sei. Ele é apenas mais velho, pelo menos é passado essa sensação. Abro a porta de madeira que me leva ao salão principal, ela range o processo todo, até que eu consiga deixar um bom pedaço para que eu pudesse passar. Vou até a recepcionista com as minhas coisas, meio desengonçada mas chego lá.

— Oi, boa tarde. Eu havia alugado um quarto de hotel aqui, no nome de [Nome]. — digo enquanto pego a minha identidade para provar que sou eu. Começo a mexer e revirar a minha bolsa, até finalmente encontrar. Assim que encontro entrego para ela. Ela checa tudo e depois me entrega a identidade.

— Seu quarto é... — ela digita algo em seu computador e depois abaixa para pegar algo, quando levanta ela está com uma chave cujo o chaveiro é o número do quarto — É o 28.

— Tá bom, obrigada. — começo a ir em direção ao elevador quando ela me chama.

— Senhorita, o elevador está ruim. Ainda sem previsão para funcionamento. Você terá que subir pelas escadas. — ela aponta a escada e sorri.

— Tudo bem. Obrigada.

— O quarto fica no terceiro andar.

Começo a sentir uma preguiça enorme quando me direciono a caminho da escada. Olho para cima e vejo a quantidade de degraus, lembro que ainda tem as minhas coisas e suspiro. Finalmente dou o primeiro passo para subir essa escadaria, só conseguia pensar que para descer seria mais fácil, meu único consolo naquele momento.

Quanto mais eu subia, parecia que mais longe ficava o terceiro andar. Degrau após degrau, parei no segundo andar para sentar e respirar um pouco. Fecho os olhos e jogo minha cabeça para trás, acabo batendo a minha cabeça na parede e sinto ela latejar, passo a mão como um ato involuntário e verifico se não fiz nenhum machucado. Junto todas as minhas forças para continuar, pego minhas coisas e continuo subindo as escadas, quase me arrastando.

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⏰ Última atualização: Jul 03, 2023 ⏰

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𝐒𝐔𝐍𝐒𝐄𝐓z - Nathaniel CarelloOnde histórias criam vida. Descubra agora