Sempre gostei de ler, era a única forma que eu tinha de viver vidas, viajar mundos e amar pessoas. O gênero que mais me prendia era ficção, mundos repletos de magia e fantasias que me tiravam o fôlego. Os que eu mais detestava eram fanfics, clichês idiotas onde a garota era vendida para o chefe da máfia e perdia-se de amores por ele.
Fala sério Blanka Lipinska, em que mundo um mafioso te sequestra e você se apaixona pelo cara? A época do Estocolmo foi-se a muito tempo! Pensei jogando o livro na cabeceira da minha cama.
A batida na porta me arranca dos meus insultos, me fazendo encarar algo bem pior do que um livro sobre um mafioso que só sabe trepar.
- Alysha, seu pai pediu para descer.
No mundo real, a mocinha não é sequestrada, ela é vendida pelo seu próprio pai para beneficiar os negócios da família para um cara doze anos mais velho.
Me levantei da cama alisando o vestido idiota que meu pai me obrigou a usar, estava me sentindo uma maldita boneca de porcelana, montada para agradar o comprador. Wayle, o capanga do meu pai, me acompanhou até o escritório, e abriu a porta para mim.
Não vou dizer que estava tremendo, ou ansiosa, ou qualquer coisa do tipo, no mundo real eu não caí de paraquedas em uma fanfic de um amor tóxico, aqui eu sei desde que aprendi a falar que meu destino estava traçado com tinta de caneta, vivi dezoito anos me preparando para este dia, não vou dizer que estava pronta, acho que poderia viver cinquenta anos que nunca estaria pronta para ser entregue como um cavalo a ser domado a um estranho, mas também não estava surtando, estava apenas vivendo mais um dia, como vivi os últimos anos.
A porta do escritório foi aberta e eu entrei por ela, encontrando os olhos do meu pai, que me observaram de baixo a cima verificando se eu segui todas as suas ordens de vestimenta, ele não expressou nenhuma reação, aquilo era o mais parecido a um elogio que eu receberia.
- Alysha, deixe-me apresenta-la a Damon Weldorf.
Ele estava sentado na poltrona, braços apoiados dos braços da poltrona, o blazer do terno aberto para seu conforto, o terno azul de risca de giz se moldava a seu corpo, seu rosto estava duro, maxilar trancado, pele bronzeada, cabelos tão pretos quanto seus olhos, olhos que pareciam portas gigantes fechadas, lacradas e muito bem protegidas, teria um rosto perfeito se não fosse a cicatriz que começava acima da sobrancelha e descia até o queixo, ela não o deixava feio, o deixava assustador.
- Diga oi, Alysha - Meu pai falou em um tom arrastado, uma ameaça velada.
- Olá, Senhor Weldorf.
Meu pai saiu de trás de sua mesa e veio até mim, pousando a mão atrás da minha cintura, não consegui evitar de sentir o calafrio na espinha, fechei os olhos por um segundo para me manter firme e não me afastar de seu toque. Já fazia um bom tempo que meu pai parou de me bater, o dia em que seria entregue a Demon estava se aproximando, e ele não podia arriscar ter a minha pele marcada por seus socos.
- Alysha é um pouco envergonhada, como pode ver - meu pai falou me empurrando levemente para frente - mas é uma boa garota.
Ele segurou meu pulso e me fez dar um giro no lugar, estava me apresentando, mostrando o corpo da égua que estava vendendo de tão bom grado. Isso me deixava enjoada, e para não demonstrar isso, me refugiei no único lugar seguro que conhecia, na minha mente.
Lá era verão, uma casinha de madeira no meio das montanhas onde eu morava sozinha, as paredes eram recheadas de livros e sempre tinha cheiro de madeira cortada.
- Suas malas estão prontas? - Damon perguntou com a voz dura.
- Já estão sim - Meu pai respondeu por mim.

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Minha Salvação
RomanceAlysha nasceu em uma família italiana ligada a máfia e aos dez anos foi prometida em casamento, quando seus dezoito anos chegam, Alysha está conformada com seu destino, e apenas deixa ser levada ao desconhecido. Damon sempre odiou o acordo de casame...