Prólogo

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O céu estrelado pairava o reinado, cobrindo-o e levando seus bons ventos a cada esquina, a lua reluzente iluminava as ruas manchando com a sua luz branca cada ladrilho da calçada. Nas praças era possível ver muitas pessoas caminhando, rindo e cantando, nas casas os pais chegavam e jantavam com suas famílias enquanto cada um contavam seus dias. Era um reino calmo e harmônico, era possível sentir a magia no olhar de cada um.

Logo após estes lindos momentos, retornariam à sua cama, onde descansariam e se preparariam para o dia seguinte, o qual permanecia a rotina. O grande reino de Lawngreens, se uma palavra pudesse descrever este reino, seria magia. Um reino onde camponeses, nobres, andavam lado a lado e se reconheciam como iguais, era conhecido dentre milhares e milhares de nações e povos, alguns arriscavam dizer que era o próprio paraíso na Terra. Sua tecnologia, muito avançada para o tempo, havia uma luz própria presente no brilho de cada cor, sendo em maior destaque os verdejantes campos dentro e em volta do reino.

Todos os comércios estavam fechados, com a exceção da taverna Selos dos Encantos. Lá nobres e cavaleiros se encontravam para apreciar algumas bebidas, e por lá ficavam para papear ou matar o tempo. Os dizeres sobre a taverna seriam que ela existe desde a fundação do "Novo Reinado", então de praxe era lugar de comemorações, diversão e alegria.

Entretanto nesta noite havia algo novo, algo diferente do habitual, havia um bardo desconhecido, de reino desconhecido, que entrou no Selos dos Encantos. Devido sua extravagância, foi alvo do olhar de muitos cidadãos, quando de repente, em pasmo subiu em cima da mesa com sua viola e tornou a cantar:

"Escutai-vos essa história,

a lenda da maldição alaranjada,

a pobre garota Sophia da morte que foi calejada.

Também havia uma Lawngreens densa e perigosa,

que tinha uma vista horrorosa.

Ao longo do dia acendam seus lampiões,

e antes de dormir façam suas orações,

para não ser o próxima a ser levado,

pelo ceifador das almas dos condenados.

Dizem que seus olhos são frios,

e que ele anda entre vazios,

ninguém deseja ser seu alvo,

pois não estarás a salvo,

no cair da chuva ele aparece,

e sua fome por sangue cresce,

o monstro perdido no amor,

na sua trajetória conheceu somente dor,

aqui ele habitou,

o tal do monstro sem cor."

Estranhamente, os lúcidos queriam escutar o bardo, tinha alguma coisa que atraía a atenção das pessoas, talvez fosse o jeito de se vestir, tão diferente de qualquer outra pessoa já vista por Lawngreens, ou fosse uma convicção no seu falar, trazendo a curiosidade nos ouvidos e principalmente nas mentes de cada um, como poderia a tão mágica Lawngreens ser resumida a perigosa? Como poderia este majestoso reino iluminado, ser escuro ao ponto de ser necessário lampiões pela manhã? Existiriam mesmo "monstros"? E a mais importante, afinal, quem era Sophia?

Perguntas como essas, olhares como esses, circularam a taverna, mas ninguém tivera a ousadia de questionar o jovem bardo. A realidade que a bebida era ótima, então o denso cheiro do álcool poluía o local, a embriaguez das pessoas era evidente. A única prova viva ali era copeiro, que via o bardo em sua frente e sabia que era real. Não poderia ser miragem, afinal, ele nem bebia.

"Gloriosa seja a maldição,

que livrou-nos da perdição."

As notas da viola do pequeno bardo foram tocadas, soaram como uma inspiração de preparo, assim como os corredores se aprontam para suas corridas, ou como mergulhadores respiram fundo antes de adentrar o mar. Com o cantar deste último verso, o céu de maneira surpreendente escurece, as nuvens se juntam em formas pesadas e cinzentas, e por fim a água cai.

Era o início de um fim trágico que a lenda proporcionara.

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