au gust

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o primeiro foi ele,
de muitas formas e todas raras,
intocável e a uma respiração de distância
fomos nós, distorcidos e prematuros
tantas feridas nas nossas peles
que causamos a nós mesmos,
que é difícil escolher um vilão.
eu fui, uma vilã em vários momentos
daquela história,
mas à minha maneira nunca deixei de amá-lo...
e fechados, os parênteses
encerrados os diálogos conturbados da minha mente
às três da manhã, era seu nome que procurava
seu número a quem ligava,
suas memórias que me pescavam,
sem cautela, me puxavam para aquele
momento da minha vida
em que o amei loucamente,
imensamente, sem fim...
e os fins, saíam dos seus lábios
seus olhos desconhecidos me encarando
dizendo
"querida, eu sou seu passado!"
e eu brincava que não.
me apegava àquele redemoinho feliz
de beijos e conversas,
carícias e promessas,
deleite e contemplação...
muito jovem,
com uma paixão novinha em folha,
avassaladora e colorida,
deus, como eu lutei para voltar!
todas as vezes em que fechava a porta,
guardava a chave colada no peito
e a usava, usava, usava...
incontáveis vezes em que abri meu passado novamente
lhe entregava os seios, os lábios e todo o interesse de uma vida
me escondia da realidade, uma princesa adormecida
um museu vivo, cujo coração batia, o sangue corria
e eu sorria, chamando, puxando, tragando...
num suspiro abrupto o passado saiu
do meu corpo,
"ela é a mulher da minha vida",
meu olhar se perdia
e não havia outra saída,
senão encarar.
"eu não sou o amor da sua vida".
e o passado,
lindo, quente no peito,
era só o passado.
não havia mais portas, não havia acesso.
só a liberdade...

depois da segunda década Onde histórias criam vida. Descubra agora