dinheiro

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a fumaça densa de argumentos se dissipa no ar
quem você está tentando convencer?
ruídos são incapazes de camuflar
quem você está querendo enganar?
cansada, esfrega o rosto e puxa o ar
cansada, esfrega os olhos
para que chorar?
cansada, revira o cômodo e toda a tralha do sótão
joga a poeira no ar, essas são as minhas justificativas
a sujeira paira no ar
quando vai ser suficiente?
quanto tenho que dar de mim,
do meu corpo, dos meus pensamentos, do meu dinheiro?
no fundo não dou nada,
dou cheque sem fundo,
juras levianas e palavras que voltam
ricocheteiam os lábios que as soltam
estapeiam o corpo que as escreveram
se no fundo, lá no fundo
fosse a Cinderela.
ah, a Cinderela jamais seria assim.
mas ele quer tudo de mim!
e eu deveria, decerto, dar mais...
os contratempos e os tormentos
as consequências dos pensamentos
e os lamentos da inconsequências
a areia movediça que se tornou o impulso
engolida pela ganância,
com a boca cheia do doce que pediu a infância.
ah, as vontades que não nego...
os limites rompidos e o ego? avulso.
à parte.
alimentando-se de si mesmo.
é um mal negócio.
o banco cobra a sanidade,
a responsabilidade, a maturidade
a adultice!
onde está o carro, a casa,
o trabalho voluntário,
metade de você na casa do seu pai
metade da sua conta no banco dele
o mínimo para sobreviver,
um pouco...
e volta a fumaça densa de argumentos do primeiro verso,
repetida e batida,
tamborilando no ouvido,
dizendo ao júri:
olha para mim! olha o meu lado!
mas, sua louca!, quem é o júri?
onde está o tribunal?
quem, raios!, precisa convencer?
e o medo de ser,
ruim.

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