Tudo em silêncio

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— Você disse o que pra ela?

— Que ela vai com você de carro.

A peça de Iolanda iria passar o final de semana no teatro de uma cidade próxima, a oportunidade perfeita para ficar um pouco mais com Davi. Desde que sua peça tinha entrado em cartaz alguns meses atrás, sua vida tinha se transformado em um verdadeiro caos, quase não pisava em casa com a correria e quando chegava a noite estava cansada demais, apesar de gostar de toda essa loucura, percebeu que não estava dando  atenção aomarido. Davi não reclamava entendia que ela estava vivendo um de seus maiores sonhos, porém nas últimas semanas Iolanda sentiu ele distante. Sequer a procurava, o que era estranho.

Para melhorar toda essa situação e se aproximar mais do dele, convidou-o para viajar no final de semana para  acompanha-la nas apresentações. Sugeriu que fossem da mesma forma que eles faziam antes quando se conheceram e queriam viver experiências. Pegando estrada de carro e dormindo em hotéis de procedência duvidosa. A viagem não era tão longa assim, porém uma parada à noite era inevitável. No entanto, ela não contou com um pequeno detalhe, imprevistos acontecem.

— Mas era para ser algo nosso, ficar um tempo juntos já que depois que você virou diretora de peça seus horários com os meus não batem  — Davi fala coçando a cabeça incrédulo com o que Iolanda acabara de lhe noticiar — Não é melhor ir todos de avião, no caso você e ela? Eu fico. 

Iolanda o encara sem entender o porquê de tanta relutância, Davi sempre fora compreensível, estava animado para a viagem, chegou até tirar uns dias de férias só para acompanhar a pequena temporada da peça na cidade vizinha.

— Davi, você tirou férias para isso, não é porque não vamos juntos como havíamos planejado que não vamos ficar juntos lá.

— Por que ela não vai de avião amanhã?

— Ela até tentou, mas não conseguiu nenhum voo e você mais que ninguém sabe que preciso da minha figurinista comigo, os atores já foram hoje pela manhã, se soubesse do imprevisto como o teatro eu teria ido com eles e não precisaria usar a passagem dela.

Havia se passado duas semanas  desde o jantar que não aconteceu. Com a correria do dia de todos,  não foi marcado outro para o alívio de Davi. Por mais que tentasse ignorar tudo que aconteceu naquela noite, vez ou outra se encontrava pensando em Isadora, era como se ela invadisse sua mente, ele não tinha controle sobre, o que ele achava completamente ilógico, mal a conhecia. Entretanto foi apenas um caso isolado e se evitasse vê-la a sós novamente uma hora outra iria esquecer tudo isso. Porém Iolanda acabou com os seus planos.

(Droga!)

— E eu tenho que bancar o motorista dela?

— Davi, ela me cedeu a passagem por causa do problema que teve no teatro, sem teatro sem peça, sem figurinista sem peça. O que deu em você? — Iolanda faz uma pausa, pôs as duas mãos no balcão da cozinha, Davi a encarava do outro lado — O que deu em você e na Isadora, ela relutou quase igual quando disse para vocês irem juntos... aconteceu alguma coisa naquela noite que você não me contou?

Davi sentiu um frio na barriga quando ela terminou a pergunta (Sim Iolanda, aconteceu, quase beijei sua amiga e desde então, ela passeia pelos meus pensamentos,  não queria ter que vê-la, quanto mais viajar mais de 11 horas a sós com ela)

— Não, aconteceu nada, foi tranquilo — Respondeu baixo se desviando o olhar e se aproximando dela — Desculpa, só estava animado em ir com você.

— Também queria, era o que eu mais queria — Iolanda responde com o rosto triste e beija Davi – Mas compenso você quando chegar lá, prometo. Tá bom?

O marido da minha amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora