"Aquele que te alimenta, controla você"
- Thomas Sankara.Prévia.
R O D R I G U E SRodrigues encarava o mundo como se pudesse simplesmente ressignifica-lo. Almejava dominar aquilo que não tocava, de alma revoltosa, de caráter critico e poderosamente sínico. Era o tipo de pessoa que comandava as revoluções, tinha a sedução da palavra e uma honra inestimável.
Mas ele nasceu sem. Nasceu indigente, fruto do quarto de despejo. "Brasil o país dos pobres e da fama, Brazil o país do samba e futebol". Rodrigues cresceu nos becos sombrios, onde a luz do sol mal tocava, e a esperança era um luxo raro. Ele sabia desde cedo que carregar grandes sonhos nas costas era uma carga quase insuportável para quem vive à margem. Porém, la dentro, o súbito do seu peito agonizava por lembrança. Tinha aquele desejo inalcançável de querer ser lembrado, de deixar uma marca na história. Para ele, não bastava simplesmente viver; ele queria transformar o mundo com suas ideias e ações. A busca por imortalidade através de seu legado era uma força constante, alimentada por um orgulho intrínseco e a necessidade de reconhecimento. Sentia uma responsabilidade, quase um destino, de cumprir algo grandioso.
No Brasil, terra de contrastes brutais, ser pobre é enfrentar a cada dia um abismo de desigualdade. A vida nos cortiços e nas favelas era uma batalha constante contra a invisibilidade.
Rodrigues experimentava o cotidiano em que a fome era uma presença constante e a miséria uma companhia inevitável. Nas vielas estreitas, a educação era um privilégio distante, e a dignidade, um sonho impossível. As palavras de Rodrigues, impregnadas de crítica e ceticismo, eram moldadas por essa realidade dura. Ele compreendia que no Brasil, o país do "jeitinho", a ascensão social para um indigente era mais mito do que possibilidade.
Cada passo para fora dessa bolha imposta pela burguesia era uma luta contra o estigma. Ser marginalizado significava ser visto como incapaz, como uma sombra na periferia da sociedade. Mas Rodrigues, recusava-se a ser silenciado. Ele nutria um desejo feroz de ressignificar sua existência, de transformar o cenário de exclusão em que nascera. Seus sonhos, tão vastos quanto o céu, eram constantemente confrontados pela realidade dura do Brasil desigual.
A cada dia, Rodrigues via a opulência dos ricos contrastando com a desolação dos pobres. Ele observava os morros cariocas onde a vida era uma dança constante entre a alegria do samba e a tristeza da fome.
E assim, entre o brilho do carnaval e as sombras da favela, Rodrigues continuava a ressignificar sua existência, alimentando seus sonhos com a esperança teimosa de um dia comandar a revolução que tanto almejava.
"Tudo é do demônio"
Engraçado, quando o neguinho pinta a unha e se veste de preto, ele 'tá endemoniado. Mas quando o branquinho boa pinta faz a mesma coisa, ele é quebra os padrões da sociedade. Quando o preto se humilha por respeito e resiste à opressão, ele é marginalizado. Mas quando o branco armado leva pra vala os inocentes, ele é amigo da sociedade..
Quando o neguinho levanta a voz, ele é agressivo, vai preso e precisa morrer, se não, ele é um perigo para a comunidade. Mas quando o branquinho grita, ele só está exercendo sua liberdade de expressão. Quando o preto corre, ele é suspeito. Mas quando o branco corre, ele está apenas se exercitando. Quando o preto tem sucesso, é sorte. Mas quando o branco prospera, é mérito.
A hipocrisia é tão visível quanto o sol ao meio-dia, mas poucos a reconhecem, pois o conforto da ignorância é um véu conveniente. A sociedade que se orgulha de sua evolução, muitas vezes, fecha os olhos para as cicatrizes profundas que sua injustiça cria. E assim, o ciclo de desumanização e desigualdade continua, mascarado por narrativas convenientes que perpetuam a supremacia de uns sobre a desvalorização de outros.
Antes de Seu Zé Carlos sair pra comprar um cigarro e nunca mais voltar, Rodrigues sempre escutava seu pai dizer que: "Rico é rico e pobre é pobre". E quanto mais ele crescia, mais ele dava importância pra esse aprendizado. Também, foi só 'pra isso que o 'véi serviu mesmo.
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AFETROPIA - transferência de almas.
RomanceRodrigues era dono do mundo, dono da razão. Dono de tudo, menos de si mesmo. Sua cabeça martelava pensamentos e lembranças que poderiam não lhe pertencer. A tempestade incontrolável o tocava, sem poder nenhum dentre os ventos e os sonhos, lá encontr...