Recomeço || Xicheng

Capítulo 17 - Vejo enfim a luz brilhar

"Bolo de osmanthus! Aproveitem enquanto ainda estão quentes!"

O comerciante gritava enquanto recebia algumas famílias em frente a sua barraca, ele distribuía com orgulho como quem vende toda mercadoria em um dia. Mas hoje era diferente, ninguém estava vendendo nada, todas as comidas e bebidas eram distribuídas de acordo com a tradição, afinal era dia de celebrar o aniversário do líder de seita Jiang.
As crianças pareciam empenhadas em terminar de pintar as ruas, junto de suas mães e avós, antes do sol se pôr. Usavam de cores vivas para retratar símbolos que representavam Yunmeng e a seita Jiang, assim como toda sua família, isso fez com que a cor roxa acabasse rapidamente.
Para representar Jiang Yanli desenharam uma grande lótus com tons em amarelo, mesmo mudando de seita após o casamento ela ainda era lembrada por todos como a senhorita Jiang, aquela jovem amável que a vida levou cedo demais.
Até Wei WuXian foi representado, desenharam uma flauta preta com detalhes em vermelho, porém as notas musicais que saiam dela eram intercaladas com as cores roxo e branco.

Uma mulher de cabelos brancos que pintava ao lado de uma menina pequena conversava com ela enquanto dava os toques finais, "O jovem Wei cresceu aqui, como nós, sua magia carrega sua origem. Me lembro dele correndo com o líder Jiang enquanto ainda eram como você, chegava a ficar com dor de cabeça pelo barulho."

Ela contava rindo, sua feição alegre parando de desenhar e olhando a menina ao seu lado. A menina olhou para a flauta no chão e fez uma careta confusa, "Ele não é mal?"

A senhora mais velha negou com a cabeça, "Não escute os rumores, eu o vi crescer com meus próprios olhos. Ouça minha querida, daqui alguns anos vai perceber que as pessoas e suas relações são mais complexas doque apenas boatos podem nos contar, todos têm sua versão sobre os fatos e nunca vamos saber até onde cada história é verdade mas devemos confiar em nossos instintos."

Criança, "E oque os seus dizem?"

A senhora terminou de pintar e limpou os dedos em um pano sujo de tinta seca, "Bom, tenho idade o suficiente para saber que boatos podem tanto beneficiar quanto destruir alguém, então prefiro acreditar em mim e nas crianças que vi crescer e serem educadas em nosso meio. Ele me deixava com dor de cabeça como eu disse, mas também me ajudava com as compras e ajudou a consertar a barraca de seu avô quando um carrinho de nabos desgovernado bateu nela, ele se empenhou tanto que a barraca ficou até melhor depois da reforma. As pessoas não são feitas de bem ou mal, todos temos um pouco dos dois dentro da gente, só precisamos saber como equilibrar e acreditar que nossas pessoas queridas vão aprender também."

Os olhos da menina brilharam, "Que legal! Ele gosta da nossa família então eu também gosto dele! Não vou mais acreditar nos boatos."

A senhora riu dando um abraço em sua neta, "É assim que se fala minha querida! Terminamos aqui, vá brincar agora."

Jiang Cheng observava tudo de longe, ele queria ajudar porém todos negavam e pediam para que ele apenas aproveitasse seu aniversário. Os músicos se reuniram para tocar seus instrumentos na praça em um palco improvisado, não demorou para as pessoas serem envolvidas pelo som e se colocarem a dançar. Jovens rodavam com as mãos unidas a de seus pretendentes, as mais tímidas estavam pelos cantos conversando sempre acompanhada de um pai ou irmão mais velho, apenas as crianças fugiam das regras e brincavam entre elas sem distinguir sexo ou família, correndo umas atrás das outras com brinquedos de madeira em formato de espadas e escudos.

Um menino encurralou outro na parede, apontando sua espada de brinquedo, "Eu sou Jin Ling! Renda-se e se joelhe ou cortarei suas pernas!"

"Eu não falo assim."

Jiang Cheng se virou procurando o dono da voz. Seu sobrinho andava no meio da multidão seguido de jovens de sua seita. Com um mover de mão ele liberou todos para que fossem aproveitar a festa e seguiu sozinho em direção a seu tio, primeiro se curvou em respeito e depois se jogou em seus braços em um abraço apertado, "Feliz aniversário meu velho."