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Seu corpo pesava, não conseguia mais correr. Arlott olhava para trás, checando se o príncipe do Abismo ainda estava o seguindo como carrapato. Para sua talvez sorte, Dyrroth estava o seguindo mas estava muito distante pelo que escutava seus passos.

Agradecia mínimamente Alice por ter o treinado tão bem, ao menos podia avançar rápido. Porém sentia que não duraria muito tempo. A fadiga estava forte, sua respiração ofegava, ele mal conseguia se manter correndo.

Arlott cobriu a boca ao sentir um refluxo vir, sangue em excesso escorreu. Seus órgãos internos estavam danificados, ossos quebrados e diversas veias rompidas.

Não sabia como ainda estava vivo. Talvez fosse por ser metade demônio sua duração era um pouco mais alta que a de um humano normal. Porém ainda era mortal, estava por um fio de morrer.

Arlott corria pela floresta da lua o mais rápido que podia. As árvores altas de muitas folhas cobriam quase totalmente a iluminação da lua. Chegava a ser irônico, a floresta da lua quase não ter a presença da lua. Cada passo que dava amassava uma folha seca de outono, quebrava um galho ou pisava em sementes.

Amaldiçoava essa estação, tudo estava no chão e tudo fazia barulho. Chamava muita atenção, principalmente em momentos de fuga. Arlott respirou fundo, tentando se manter acordado e correndo do lado dominado pelo abismo.

Por um momento ele viu esperança quando notou o brilho azul das árvores luminosas não muito longe. Estava tão perto da parte não dominada da floresta. Mas a sorte nunca fora sua amiga, muito pelo contrário, a sorte o odiava. Ela amava fazer o azar o atazanar.

Dyrroth o alcançou. Aquele demônio maldito, Arlott quase não conseguiu o machucar devido a carapaça dura que protegia o corpo do filho de Alice. Num movimento rápido, o demônio avançou para frente e jogou o corpo quase morto contra uma árvore e o prensou ali. O príncipe segurou uma mecha de cabelo do seu servo.

— Então o ratinho pensa que pode fugir para o lado dos elfos? — Dyrroth ri, passando as garras afiadas pelo tronco de uma árvore lunar morta pela expansão do veneno do abismo. — Você é patético. Volte para o Abismo e te daremos uma nova chance!

Ele estava tão perto que Arlott podia sentir o quente infernal da sua respiração. Os olhos bicolores de Arlott quase não enxergavam, sua vista estava tão embaçada devido aos ferimentos que nem sequer conseguia ver o demônio. Apenas sua silhueta em borrão.

— Nunca... voltarei para quem me traiu — sua voz falhava ao falar. Estava despedaçado por dentro. Sentia uma dor imensa, tudo doía. Ele queria que essa dor passasse, ele implorava para isso. Suas pernas tremiam, Arlott fungou e vomitou uma quantidade considerável de sangue.

O líquido ferroso respingou no rosto roxo de Dyrroth, escorrendo por sua bochecha. Ele deu aquele sorriso de canto, interessado. Aquele rato parecia tão patético e desgastado. Dyrroth levou o dedão para o respingo de sangue em seu rosto, o arrastando até a boca e provando do gosto do rebelde.

Arlott fechou o rosto, enojado pelo ato de seu príncipe. Segurou com o restante de sua força na lança e atacou Dyrroth; não adiantava de nada tentar. Nem tinha forças para atacar de forma decente. E o garoto da pele roxa percebeu isso.

Ele riu. O de cabelos bicolor sentiu um arrepio na espinha com aquela voz maldita lhe rasgando os ouvidos.

— Você é tão idiota, Arlott — Dyrroth riu. Ele estava se divertindo muito com a situação que deixou seu soldado. — Por sua rebeldia, será punido com a morte! — seu tom de voz mudou rapidamente. Ficou mais sério.

Ele avançou para cima do lanceiro, chutando a lateral do braço direito, destroçando outro osso. Arlott gemeu de dor, fechando um dos olhos como reação. Empunhou com força a lança esquerda e contratacou, mirando a ponta de sua lança na perna do príncipe. Porém não teve quase nenhum efeito, aquela carapaça desgraçada era dura como obsidiana.

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