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Caralho!

Essa era a terceira vez que Arlott palavreava de dor durante o tratamento médico mágico daquele dia. Doía, magia branca era pura demais para seres abissais, mesmo que ele fosse apenas o meio dos dois mundos.

Estes achou isso interessante, Arlott estava sendo uma espécie de boneco de teste: o rei elfo estudava incessantemente sobre como a magia de luz reagia no corpo dos filhos das trevas.

Já havia feito experimentos, todos os abissais morriam após ou durante o experimento. Talvez por Arlott não ser totalmente abissal a cura realmente curava ao invés de envenenar. O semi abissal apenas sentia a dor e ardência da pureza correndo pelas veias escurecidas.

— Não xingue! — Miya, sua salvadora, o repreendeu.

O rei apenas suspirou, revirando os olhos e dando um leve sorriso de canto. Miya e Arlott pareciam gato e rato, sempre implicando um com o outro durante os estudos/consultas dele. Apesar de Arlott ser extremamente calmo, beirando ao pacífico, era uma graça vê-lo revirar os olhos e mostrar a língua para a arqueira lunar. Pareciam duas crianças briguentas, mas de certa forma era fofo.

As mãos geladas de Estes foram preguiçosamente para o pescoço do meio demônio, enrolando os dedos finos, tateando o pomo-adão com as pontas. Arlott engoliu seco, ganhando um leve rubor nas bochechas e desviando o olhar, encarando o teto.

Essa reação era relativamente frequente para Estes, não era, nem de longe, a primeira vez que um paciente se envergonhava ao ser tocado por ele. O elfo não iria negar, era arrogante o suficiente para saber o quão belo era. Sabia que se quisesse, ele poderia causar uma guerra por tamanha beleza, nações entrariam em conflito pela mão de Estes. Arrogante talvez fosse pouco para descrever o rei.

Arlott fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, seguido de um grito dolorido quando Estes apertou-lhe com força o pescoço para checar a pressão. Céus, como alguém tão magricelo tinha essa força?! O meio demônio evitou resmungar, não queria parecer mal agradecido ou parecer estar reclamando de estar sendo cuidado.

Apenas estar vivo já era muito, ele deveria ter morrido com o ataque do príncipe Dyrroth, mas lá estava ele. Respirando, vivo e por causa de Miya, por causa dos elfos lunares, povo que ele não negava de ter matado alguns. O sentimento de culpa pelas mãos e pontas das lanças estarem cheias de sangue o fazia sentir algo ruim no peito.

Eles realmente deveriam tê-lo deixado vivo? Certo que ele tinha informações importantes para seus salvadores, informações de planos de Selena e Alice, de lugares que Balmont e Helcurt iriam atacar, de ainda mais povos que Dyrroth iria dilacerar.

Arlott sabia até mesmo de detalhes que poderiam trazer mais aliados para o lado da luz, como Terizla ter um filho que servia o império da luz. Levar o homem solitário para o lado do bem outra vez por causa do filho os daria uma enorme vantagem. Terizla era forte, um dos mais; ele era uma peça preciosa demais para o Império Moniyan.

O abissal sabia que ele seria uma peça importante naquele tabuleiro de xadrez, Arlott podia ser o cavalo ou o bispo, seria ele quem traria o xeque-mate.

Os cabelos monocromáticos caíram sobre o rosto, cobrindo-lhe a face ao abaixar a cabeça, sentando-se na maca hospitalar. Sua mente vagava em um oceano de lembranças, mergulhando em cada fossa mais funda para procurar informações importantes, pescando fraquezas e fragilidades de cada lutador que ele tinha conhecimento ou conhecera. Os planos do abismo não eram relativamente simples, todos tinham um objetivo em comum: enfraquecer o Império Moniyan, fragilizá-los ao ponto de romper a boa relação que o povo tinha com a monarquia.

Todo poder emana do povo.

Se a confiança do povo sob a monarquia se romper, a coroa ira cair, enfraquecendo ainda mais o império. E então,

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