Nojo, descrença e raiva.
Era isso que Arlott sentia ao olhar para aquela maldita marca de submissão forçada. Nem a dor e a queimação de ferro aquecido contra a pele era mais doloroso, nem a rendição era mais humilhante do que ter aquilo cravado na pele.
Dyrroth era uma criança mimada, jamais aceitaria que seu brinquedo favorito fugisse tão facilmente. Aquela marca era a prova disso, mesmo que a energia maligna ali fosse quase escassa, resquícios jaziam cravadas nas entranhas do híbrido.
As garras do homem roçaram na marca, alisando o rubi proeminente no ventre, a peça vermelha com leves tons de laranja decorando a palidez da tez áspera. Era duro e gélido como se fosse vidro, aquela pedra preciosa seria a ruína de Arlott, algo que o prenderia entre o sim e o não.
Foi desesperado, foi imprudente, os dedos agarraram os lados do rubi e o puxaram, tentando arrancar aquilo de si. Doía pra caralho, mais que a surra que tinha levado de seu príncipe, mas a humilhação era muito maior e mais dolorosa que a própria dor.
Estes e Miya assistiram a cena com horror rapidamente segurando os pulsos do platinado e o impedindo de se machucar ainda mais. Mesmo querendo ajudar aquilo, só estava piorando a situação para o lado do herege. Ele queria se livrar das amarras de Dyrroth, ele queria ser livre e por isso fugiu. Mas e agora que ele estava preso, marcado, selado? Ele estava entrando em pânico, as memórias de sua infância passando como um filme qualquer.
A rejeição, algo que era humano demais para ser um demônio e um demônio demais para ser humano. Negado nos dois mundos, sem ter chance de ser amado ou cuidado, apenas uma criança faminta de amor.
Enganação, Alice o aceitando; falando que ele era bem-vindo no abismo com ela. E ele foi, ficou ao lado dela. Jurou lealdade, lutou, matou por ela, recebendo carinhos que faziam sua criança se sentir amada.
Traição, ao lado dos demônios, lutando com os seus e foi empulhado pelos seus. Traído, jogado para longe como lixo, descartado como uma arma quebrada.
Dyrroth, o príncipe tagarela e mentiroso que lhe disse que ele iria o acolher. Nojento, desagradável, hediondo, repugnante. Arlott não queria se lembrar de tudo o que seu príncipe o fez fazer e passar de cabeça baixa e sem reclamar, engolindo o choro e se afogando num poço sem fim de humilhação.
E por fim, a fuga. A busca pela liberdade apenas para descobrir que Dyrroth sequer tentou pará-lo de fugir e o deixou escapar como brincadeira, como um pega-pega, brincadeira de gato e rato.
Era aviltante que ele tivesse o marcado, não era audacioso, era apenas um babaca que não sabia ficar sem seu brinquedinho favorito. Um príncipe mimado jamais deixaria de ser assim, Arlott só percebera isso quando aquela marca se fez presente dele.
Os elfos olhavam para o homem de longas madeixas bicolores e onduladas com atenção, preocupação e até mesmo pena. Pena, o quão miserável ele estava para fazer um rei sentir pena dele? Muito, aparentemente.
Arlott estava sem energia, o tratamento que estava recebendo era uma faca de dois gumes: estava o ferindo ao mesmo tempo que o machucava. A luz não deveria tocar num ser marimbondo, era como funcionava a Terra do Amanhecer e assim seria.
— Você está bem? — a voz linear tirou o pensante do que dava-lhe o nome, agora focando no rei que apoiava a mão no ombro magro. — Essa marca...
Arlott engoliu seco dando um suspiro de vergonha.
— Sim, estou, acho. — Não fora uma resposta sincera, sequer ele sabia o que estava sentindo direito. Era ódio, nojo, revolta mas também era uma sensação de conforto de Estocolmo; depois de anos sendo renegado e largado, alguém o queria e o marcara como seu, mesmo que fosse daquela maneira.
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Azul - ArloTes
FanfictionSob o brilho azul da cura, Arlott sentiu o coração bater de novo. | Arlott x Estes | Mobile legends bang bang | Crack shipp