Capítulo 01

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Sabe, não é como se eu quisesse todas as coisas boas do mundo para mim. Eu apenas queria algumas pequenas coisas boas, mas eu queria pequenas coisas completas, e as únicas coisas boas que eu tenho são meras migalhas de felicidade.
Certamente
os deuses tem um plano muito mirabolante para me fazer rodar o mundo e ainda ser infeliz. Tinha tudo para dar certo, mas não deu.
Me pergunto se o problema sou eu?  Continuará não dando certo?

                                                                                                                                                Diário de Luna

-AAAAAAAAAAAH, SHOUTO! Parabéns!!! Nossa, você está muito velho hahahahaha. Parabéns e felicidades! Quando nos vermos te dou um abraço... - Luna digitou a pequena mensagem com um sorriso nos lábios enquanto mexia a perna direita como se fosse furar o chão.


-Ei, obrigado. Sabe quantos anos anos estou fazendo, né.. -perguntou sabendo que ela sabia.
-Ah, para de ser idiota. É claro que eu sei que você está completando 22 anos. Há 22 anos Deus enviou você a esse mundo para me fazer companhia. Então, meu amigo, não duvide da minha capacidade. Você é muito especial para mim -digita enquanto morde o lábio interior com um pequeno sorriso sapeca.

-É sério isso? -pergunta surpreso.

-Sim, você é muito importante para mim. 

-Mano... não isso. -escreve desanimado.

-O que, pô? -pergunta dando uma de inocente.

-Eu tô fazendo 24 anos. -diz enfim.

-Como assim? Eu jurava que você era mais novo que eu... Mas tudo bem, parabéns de qualquer forma. Você continua sendo especial para mim com 22 ou 24 anos, tanto faz. -continua brincando.

-Ok.

-Ei, haha, tá chateado? Eu apenas esqueci... -Luna envia sorrindo.

-Não.

-"Não" o quê? -diz ansiosa

-Nada. Tô saindo.

-Para onde? -Pergunta curiosa.

-Para a rua.

-Fazer o quê?

-Depois a gente conversa, tô ocupado. -
escreve irritado.

-Okay, até depois. Abraço. - Luna envia por fim e espera pelo menos um "ok' de volta, mas a esperada resposta não vem.

     Ela, que até pouco tempo estava sorrindo e feliz por fazer uma brincadeira com seu amigo (único amigo), agora estava triste. Ele sabia como deixá-la triste. É claro que ela lembra a idade verdadeira dele. Ora, ela era apenas obcecada por ele. 

     Por mais que se conhecessem a apenas 1 ano e 9 meses, ela havia perguntado diversas vezes a ele quando era seu aniversário (já que sua memória era péssima). Ele deveria sacar que ela apenas o estava zoando. Para Luna, Shouto não tinha o direito de ficar chateado, porque quando era seu aniversário ele nem se esforçou para enviar um parabéns sequer. Ele a ignorou totalmente. Não deu importância. Ele não deu importância porque ela não era importante para ele. Mas ela o perdoou mesmo sem ele se desculpar. 

     Pensar sobre isso deixou Luna mais nostálgica e agoniada. De fato, ela não era tão importante para Shouto quanto o Shouto era importante para ela. Por que sempre tinha que ser assim? Sempre que Luna gostava de algum cara não era recíproco. Era incrível essa suprema capacidade que Luna tinha de gostar de pessoas inacessíveis. Será que em algum dia uma pessoa que fazia seu tipo iria se interessar por ela? Porque até agora só se interessou por ela pessoas que ela não curtia. 

     Muitos dizem que a aparência não importa. Dizem que a verdadeira essência está no interior de cada um. Dizem que devemos olhar para o interior das pessoas e ignorar o lado exterior. Infelizmente Luna não era um ser tão evoluído. Na verdade, ela achava isso tudo uma tese hipócrita. Luna acreditava que era necessário sim ter atração física.  Era necessário ter a química do amor, aquela química ocorrem nas pessoas quando estas sentem afinidade por alguém. Bom, Luna não acreditava que as pessoas só podiam ser amadas se seguissem e tivessem o padrão de beleza do mundo, mas ela teimosamente firmava um alicerce em seu coração de que as pessoas deveriam ser bonitas para o parceiro. Ela não acreditava que poderia se apaixonar por uma pessoa que ela achasse muito feia. Teria que ter algo que a impressionasse, que a fizesse se apaixonar.  Não precisava e não deveria ser bonito para os outros, apenas deveria ser bonito para os olhos de Luna. E Shouto, bom, talvez não fosse um homem tão bonito, mas para Luna, ele era simplesmente impressionante. Ele era um gato. Ele era incrivelmente, super, hiper, mega, incrível. Ela estava totalmente dominada por ele.

     Luna ainda olhava a tela do celular esperando a resposta. Já estava a alguns minutos assim, mas não havia resposta. Ele estava online, mas era o mesmo que nada.

- Você não é importante para ele, Luna. Cai na real. Supera, querida. Ele mora do outro lado do mundo. Você não tem chance. -Luna fala para si mesma. Era sério que ela estava fascinada por um cara que não dava bola para ela e que, pior ainda, morava no Japão?! Isso não podia ser sério. Com certeza era apenas um delírio mental. Luna estava delirando. Por que isso estava acontecendo com ela? "Será que isso acontece com outras pessoas também?" Luna se perguntava se apenas ela tinha esse fardo de gostar de quem não queria ela. 

     Ela não era totalmente feia, né? Será que seus padrões estavam altos demais? Ou talvez ela só não seja legal. 

     Ela decidiu apenas deixar o celular. Decidiu tomar um tempo para si e que não iria ligar para Shouto esta noite. Ao tomar essa decisão, Luna sente uma pequena tristeza invadir seu interior. Era sério que ela não iria ouvir a manhosa, rouca e gentil voz de Shouto hoje?

     Ela pensava se deveria dar um gelo para ver se ele a valorizava.. ou talvez ela começasse a desgostar dele. Mas e se ele parasse totalmente de gostar dela? E se ele deixar de gostar dela como amiga? Luna não poderia suportar...

     Realmente não era fácil viver um amor platônico. Ela estava consciente que o melhor que deveria fazer era apenas deixar para lá, mas essa era uma atitude tão difícil de tomar. Shouto estava em seus pensamentos em 60% do tempo, já que em 30% ela estava dormindo e nos outros 10% ela estava concentrava resolvendo seus próprios problemas dos quais Shouto nem fazia ideia. Ela se perguntava se Shouto pensava nela também. Okay, ela não iria pedir para ele pensar nela tanto quanto ela pensava nele, porque isso poderia fazer ele gostar ainda menos dela, porém é necessário que ele pense nela, para que assim ele passe a amar ela como mulher e não apenas gostar amigavelmente de uma amiga virtual.

     Não era a primeira vez que Luna pensava assim... na verdade, frequentemente ela tinha esses pensamentos e até mesmo fazia metas para conseguir deixar de gostar dele. Mas nenhuma de suas tentativas teve sucesso. Ela sempre se destabilizava ao receber qualquer sinal de vida dele. Talvez ela apenas não queria deixar de gostar. Bom, era isso. Ela gostava dele e gostava ainda mais de gostar dele. Ela, automaticamente, romantizava a dor que sentia por não ser correspondida e prosseguia com sua paixão alimentada por migalhas. Porém, não eram poucas migalhas que alimentava seu amor.  Não mesmo. Shouto fazia questão de dar muitas e muitas migalhas para ela. A ponto de deixá-la satisfeita. Pelo menos era o que Luna gostava de pensar. Shouto, com certeza, alimentava seu amor. 

Você é a pessoa certa para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora