Capítulo 2. Vinicius: Mudanças

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Pela manhã cedo, sou acordado com o som do despertador alto no meu ouvido. Me levanto da cama e desligo o despertador e percebo que tem uma mecha do meu cabelo dentro da minha boca. Eu a retiro e passo a mão no rosto na esperança de que meu sono vá embora. Afinal não consegui dormir muito bem esses dias graças a minha nova casa. Sabe recentemente eu me mudei  aqui para a Pensilvânia junto à minha mãe e a minha irmã mais velha. Mas ainda não me acostumei, quase nem consegui desempacotar minhas coisas.
Vou até o banheiro, mas no caminho bato com o dedo mindinho na quina de uma caixa, quase dando um grito de derrubar o telhado.
Vou ao banheiro para tomar um banho e escovar os dentes. Arrumo o cabelo e fico apreciando meu rosto do espelho.
Minha mãe costuma falar que minha pele escura combina com meu cabelo cacheado e meus olhos âmbar. Realmente são muito bonitos, eles me lembram do meu pai. Fico muito triste em saber que ele não vai voltar mais, foi por isso que nós mudamos, afinal minha mãe não estava conseguindo dar conta de mim, da minha irmã e das contas de nossa antiga casa. Mas meu momento de saudade é interrompido por uma voz feminina gritando lá da cozinha.
— Vinicius, o café já tá na mesa!
Minha irmã tem uma voz muito alta e também tem músculos grandes e fortes, então é melhor eu ir logo antes que ela venha aqui.
Vou até a cozinha, vejo minha irmã Vanessa organizando algumas caixas e colocando algumas panelas no armário. Ela é uma garota alta, morena, olhos castanhos e  cabelos escuros trançados no estilo de lutadora. Afinal ela é uma ótima lutadora de muay thai, na verdade a melhor que eu já vi, ela já foi campeã cinco vezes no torneio de artes marciais mistas.
Ela também é super protetora, uma vez ela pendurou um valentão da minha outra escola pela cueca em um poste de luz, só porque ele soltou uma piada de mal gosto para nosso lado.
Dou uma risada de canto de boca.
— Vai ficar ficar aí rindo sem motivo ou vai vir me ajudar a arrumar a mesa para o café?
Tenho que admitir ela tem muita cara de durona mas ela é um doce.
Então finalmente termino de arrumar a mesa enquanto Nessa terminar de organizar os armários da cozinha. É então que estranho o fato da minha mãe não ter aparecido.
— Nessa, a mamãe não vai vir tomar café não?
— Então maninho, a mamãe teve que sair mais cedo para o trabalho e infelizmente não teve como ela tomar café com a gente.
A expressão dela não é uma das melhores mas então ela volta a mordiscar um pedaço de torrada com pasta de amendoim.
— Mas então maninho, não fica chateado com isso, você sabe que não tá sendo fácil para nenhum de nós.
— Eu sei Nessa, que não tá sendo fácil! Tá tudo mais difícil desde que o papai morreu! Não é fácil deixar o lugar onde você vivia, não é fácil deixar as pessoas que você conhecia, não é fácil começar tudo do zero. Sei que nada é fácil, mas isso não significa que eu precise passar por isso de numa boa.
Falo tudo que vem na cabeça e mal percebo que bem devagar cai uma lágrima no canto do olho.
— Não precisa chorar, vem cá — Nessa então se aproxima e me dá um abraço forte — olha maninho, vai ficar tudo bem ta? Isso é só uma fase difícil, que também é uma chance de um novo começo.
Essas palavras de Nessa são como um calmante para mim.
— Veja só, você vai terminar esse café e vai ir para a escola tá bom?
Ela então solta o abraço e fica olhando para min esperando uma resposta.
— Você quem manda. — solto um suspiro — mas vou ficar na minha ok?
— Ok então, mas já sabe né? Se aparecer algum valentão ou metido a besta para seu lado você me fala tá bom?
— Tá bom então.
Depois desse longo papo, finalmente eu termino meu café e pego minhas coisas para ir a escola. Então me despeço de Nessa e vou indo em direção à escola.
Tenho que admitir, mesmo esse bairro sendo bem simples, ele é bastante bonito, não tem tanto lixo no chão, tem bastante árvores, até o canto dos pássaros é bem bonito.
Passo tanto tempo distraido com as coisas, que mal percebo que já estava chegando na escola.
Ela é bastante grande, bem maior que a minha anterior, talvez eu goste daqui.
Ok. Retiro o que eu disse, esse lugar é muito assustador, quanta gente estranha olhando para mim, com certeza elas devem está me julgando.
Continuo andando pelo pátio rapidamente, para encontrar alguns lugar que eu possa sair dessa situação. Mas termino trombando com um garoto de pela clara, cabelos castanho escuro, olhos um pouco mais claro e que vestia o uniforme da escola.
— Você não olha para onde anda não garoto?!
Ele fala com uma voz alta e intimidadora. Eu tento pegar meus materiais que tinha deixado cair, mas quando me levanto para pedir desculpas eu percebo que ele não estava mais ali.
— Nossa que mal educado — suspiro e começo a me perguntar — Onde será que fica a sala 211?
Bom passo um tempo procurando alguém que me ajudase, até que encontro um zelador e ele me fala onde ficava a sala que eu deveria entrar.
Após chegar na sala indicada eu abro a porta e vejo uma grande quantidade de alunos e um professor que parecia está se preparando para dar uma bronca em alguns alunos.
— Aqui é o 211?— dirijo uma pergunta ao professor.
— Qual seu nome? —me pergunta o professor.
— Vinicius. — respondo enquanto fecho a porta atrás de min.
— Tá bom, Vinicius, pode se sentar do lado da Carla — ele aponta para uma garota loira com uma cara de popular.
Vou caminhando até a carteira atrás da garota até que percebo que o mesma garoto que tinha trombamdo em mim me encarava. Me sentei na carteira e percebo que o garoto ainda me encarava, então começo a encarar de volta como instinto de defesa, como se ele estivesse esperando eu piscar para fazer algo de ruim contra mim. Então pego um livro e começo a esconder o rosto com ele, na esperança dele parar de me encarar.
Passo tanto tempo sendo encarado por ele que mal prestei atenção no que o professor estava falando, até que o sinal toca anunciando o fim da aula.
Bom eu definitivamente não sei me localizar dentro desta escola, já faz uns 10 minutos e só foi agora que encontrei meu armário. Sabe eu não sei o porquê tive a ideia brilhante de trazer todos os livros hoje. Pelo menos o armário tem bastante espaço, diferente da minha escola antiga. Bom isso não importa por agora, preciso descobrir onde fica a sala de música.
Fico procurando alguém que possa me ajudar a encontrar a sala de música. Não demora muito até encontrar um garoto alto de pele clara, que vestia uma blusa preta, com um short jeans preto rasgado, com uma corrente fina como cinto, ele usa longas meia pretas e uma bota de couro escura. Podemos concordar que ele tem um estilo bem diferente dos demais, mas me pergunto como ele conseguiu entrar sem o uniforme.
— Oi, eu me chamo Vinicius, eu sou novo aqui na escola e estou com um pouco de dificuldade de achar algumas salas.
O garoto olha para mim, mas ainda assim não fala nada.
— Bom, você saberia me dizer onde fica a sala de música?
Ele continua olhando para mim por um tempo, até que ele fala.
— A sala de música fica no final do corredor a direita.
— Muito, muito obrigado!
Não penso duas vezes e vou na direção falada — afinal não quero chegar atrasado em mais uma aula — viro no corredor a direita e continuo andando mais rápido possível.
— Pelo que parece o garoto se enganou — continuo procurando a sala de música, mas não acho em lugar nenhum. Por sorte encontrei novamente o zelador que me mostrou o caminho correto.
Quando finalmente cheguei de frente a sala de música hesitei um pouco. Mas então criei coragem e abri a porta.
Por um instante a sala ficou completamente em silêncio. Todos me encarando como se julga-se cada perímetro meu. Enfim um homem alto, com um bélicimo cabelo vermelho afro, que usava uma roupa de manga longa e um par de óculos com armação em forma de coração e lentes rosa, que aparentava ser o professor estava segurando uma guitarra modelo "Ibanez gio 170 dx".
— Voltando ao assunto turma, depois conheceremos melhor o novo aluno — ele fala para a turma e continua explicando enquanto a atenção vai se voltando para ele.
Vou andando até um bequeno banco vazio no canto da sala.  O professor continuou dando o assunto, algo sobre campo harmônico. Eu não prestei muita atenção, pois estava bastante admirado com aquela enorme sala de música.
— Bom alunos, que tal conhecemos o aluno novo? — sugere o professor e todos concordam com a cabeça.
— Tem certeza que precisa disso? — Fico um pouco inseguro.
— Tenho sim. Falar de si não mata.
Então fico de pé e todos olham para mim. Fecho os olhos com força por um instante, mas quando abro os olhos percebo que o mesmo garoto que tinha tombado comigo e que ficou me encarando a aula de matemática inteira estava me fitando com um olhar de como quisesse me matar. Então crio forças e começo a falar.
— Olá, eu me chamo Vinicius Anderson. Sou novo aqui na cidade, eu...— gaguejo um pouco — eu tenho 15 anos e gosto de tocar guitarra.
— Eu também gosto de tocar guitarra — um garoto de preto no fundo falou.
— Por que você se mudou para cá? — uma pessoa no fundo da sala pergunta.
— Eu... Minha... — fico sem conseguir fórmular se quer uma frase — Minha família se mudou para cá para ter melhores condições.
De repente sou metralhado por várias perguntas.
— Você é pobre?
— Você é imigrante?
— Você tem pai e mãe?
— Pessoal, não sejam insensíveis com o colega de vocês — repreende o professor — bom acho que já deu de apresentação por hoje. Vinicius seja bem vindo a nossa escola. Sinta-se em casa.
Depois disso confesso que uma nova escola é assustador. O tempo se passa até que a aula termina.
Saio da sala, mas no meio do corredor eu escuto uma bélicima sequência de bateria e me faz voltar de fininho até a sala de música. Lá eu continuo ouvindo até que percebo que quem estava tocando era o mesmo garoto de antes. Ele tocando assim tão concentrado e de forma tão boa não dá para acreditar que ele seja um tremendo grosso.
O som da bateria para e eu percebo que posso ter caído descoberto então vou embora o mais rápido possível para minha aula de geografia.
A aula de geografia passa bastante rápido. Mal deu tempo de ficar me sentindo mal. Mas não posso falar o mesmo do almoço. Peguei meu almoço e fiquei procurando um lugar pera poder almoçar. Infelizmente não achei nenhum no refeitório. Então resolvi ir em direção ao o pátio onde encontrei um banco de madeira com vista para alguns garotos jogando futebol.
— Vinicius? Oque você está fazendo aqui fora? — me pergunta o sr Rocke.
— Boa tarde Sr Rocke. Eu só estava almoçando.
— Isso eu percebi, mas porque não está fazendo isso no refeitório?
Fico cabisbaixo e não respondo.
— Vinicius?
— Oi? — finjo que não escuto por um instante
— Eu te fiz uma pergunta.
— Sim sim... E qual foi mesmo?
— Porque você está almoçando aqui no pátio e não no refeitório?
Instivamente olha para outra direção.
— Entendi você queria ver os garotos jogando futebol? É isso?
Minhas bochechas ficam vermelhas e começo a suar frio com aquela pergunta.
— Não não não não é isso!
Ele dá uma risada de canto de boca.
— Estou brincando com você. Não vou incomodar você, isso de escola nova não deve está fácil.
Ele vai embora me deixando no banco enquanto.
— Professor espera! — seguro em seu braço.
Ele para e se vira para mim.
— Eu não fiz nenhum amigo ainda — solto o seu braço — por isso eu estou almoçando aqui fora.
Ele se senta ao meu lado.
— Não fique chateado com isso. Hoje é seu primeiro dia é comum não ter amigos assim de primeira.
— Você tem razão.
— Bom se eu fosse você terminava de almoçar falta bem pouco para o fim do almoço — ele se levanta, sai e fala ao longe antes de sair da minha linha de visão — não se preocupe Vinicius você já tem um amigo! 

***

As aulas se passam e finalmente chega a hora da saída. Mas diferente da maioria dos jovens eu não vou para casa. Retiro do meu bolso um pequeno pedaço de papel com um endereço marcado.
Caminho por alguns quarteirões até chegar de frente à uma pequena loja de música. Ela era bastante organizada, em sua frente era possível ver vários instrumentos, CDs e  vários discos de vinil.
O dono da loja se chama Sr Taylor, um homem alto de pele clara, cabelos marrons e olhos escuros escuros com olheiras fundas, daquelas de quem não dorme muito bem.
— Boa tarde Vinicius. Como foi o primeiro dia na escola nova?
— Foi tudo bem.
— Nossa, que cara é essa de desânimo?
Confesso que o senhor Taylor é um ótimo observandor, mas naquele momento eu realmente queria ter ido para casa depois da escola. Entretanto eu e a Nessa devemos trabalhar para ajudar nas despesas de casa.
— Não é nada senhor Taylor. Pode ficar tranquilo.
— Se você diz, não vou insistir, pode ir deixar suas coisas lá atrás e começar o trabalho — ele aponta para uma porta no canto da loja.

Bom o trabalho aqui não é pesado, isso eu devo adimitir. Limpar o chão e tirar a poeira das prateleiras é molezinha, ainda mais quando tem um o rádio tocando Metálica de fundo. Em dado momento enquanto eu estava tirando o pó de uma guitarra um senhor já de idade veio falar comigo.
— Olá meu jovem, você poderia me informar qual o preço desse disco? — falava ele enquanto segurava um discos da minha banda preferida dos anos 80 Os Mascarados do Rock.
— Os máscarados do rock volume 13, achei que não se vendia mais!
— Vejo que você também é um grande fã dessa banda.
— Claro, quem não seria fã dessa maravilha de banda? — falo um pouco empolgado.
— Isso aí garoto você é dos meus — fala ele bagunçado meu cabelo.
— Mas eu sou novo aqui e não sei o preço. Você pode perguntar ao dono da loja.
— Tá certo então garoto. Qual seu nome?
— Meu nome é Vinicius.
— Bom Vinicius, pode me chamar de Sr Borges.
Ele então vai falar com o Sr Taylor.
Com isso meu espediente acaba e eu começo a me preocupar para ir para casa, mas o Sr Taylor pede para falar comigo antes.
— Bom Vinicius, você trabalha muito bem eu tô gostando do seu serviço. Mas amanhã eu vou receber uma carga de coisa nova e eu queria saber se você poderia vir antes da escola para me ajudar a descarregar a mercadoria nova? Eu posso te levar de carro para a escola depois.
— Claro que posso.
— Então te vejo amanhã cedo.
Então me despeço do Sr Taylor e vou embora para casa. O caminho é bastante tranquilo. Com isso chego em casa, já tá bem escuro, entro, dou um oi para Nessa que tava preparado o jantar, vou para o banheiro tomar um banho e depois vou para o meu quarto.
Meu quarto está bastante bagunçado com caixas de mudança para todo lado. Vou desviando delas aos poucos e me deito um pouco na cama.
Depois de um tempo deitado percebo minha guitarra jogada do lado da cama. Então a pego e começo a traçar um pouco. Isso me faz lembrar de como eu ganhei ela. Lembro que a mamãe e o papai passaram um ano inteiro juntando dinheiro para compra–lá .
O tempo se passa e a Nessa me chama para para jantar. Mas percebo que a mamãe não estava na mesa me esperando para jantar.
— Onde está a mamãe Nessa?
— A mamãe só chega mais tarde, ela precisa passar mais tempo nesse trabalho.
— Mas ela sempre estava em casa antes do jantar!
— Mas agora ela não pode Vinicius! Você não percebe que ela tá fazendo de tudo para manter a gente sozinha depois que o papai morreu?!
Ela bateu com a mão em cima da mesa e me assustou um pouco.
— Você tem razão, tô só fazendo birra mesmo.
Termino o jantar em silêncio e volto para o quanto. Eu perco a noção do tempo enquanto estou deitado. Quando alguém bate na porta.
— Posso entrar? — uma voz doce e acolhedora fala por trás da porta.
— Pode entra sim mãe.
Ela abre a porta suavemente e é possível ver seu rosto com algumas rulgas, cabelo cacheado amarrado em um rabo de cavalo, olhos castanhos iguais os de Nessa, a pele escura e uma roupa simplis de quem acaba de chegar do trabalho.
— Vanessa falou que vocês tinham descuido mais cedo — falava ela enquanto se sentava do lado da minha cama.
— Não foi nada sério — Retruquei
— Olha Vini sei que não tá sendo fácil para nós, uma vida nova é bastante difícil de início, mas você logo se acostuma. Me fala como foi o seu dia.
Começo a falar como foi meu dia para ela quando menos percebo caio no sono, apenas sentido algo me cubir com o cobertor.
***
Acordo no dia seguinte bastante animado, vou para o banheiro fasso minha higiene pessoal, vou para a cozinha me desculpo com Nessa e pego minhas coisas e vou em direção á loja de música. O caminho é bastante rápido, o sol brilhava forte no céu eu estava tão eufórico que mal podia esperar para chegar na loja.
Finalmente viro a esquina e consigo ver o Sr Taylor de frente a loja com uma caminhonete, mas vejo que ele está com a mão no cabeça com uma expressão não muito boa. Quando me deparo com uma visão horrível, a loja do Sr Taylor toda pichada...

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⏰ Última atualização: Jul 14, 2023 ⏰

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