Outra Lenda

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"Resolvi-me a vos dizer uma só verdade. Mas que verdade será está? Não gastemos tempo. A verdade que vos digo é que no Maranhão não há verdade."

Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, padre Antônio Vieira.


Há uma lenda antiga no nordeste do Brasil, protegida entre os lençóis maranhenses e escrita na areia clara das belas praias que banham a cidade de São Luis.

A lenda, assim como muitas histórias, foi escrita na mente do povo e contada por anos. Mas poucos sabem, que o que se conta, sobre a grande serpente mágica que dorme enroscada nos passeios subterrâneos da cidade e que com o passar do tempo nunca parou de crescer, é uma mentira. 

Sob o céu azul, Alhadef abriu os olhos

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Sob o céu azul, Alhadef abriu os olhos.

Estava no meio do mar, em sua pequena canoa feita de madeira. Observava a praia na distância, as ondas batiam de leve na areia. A brisa ali estava calma, como a leve respiração de uma besta dormindo.

Sabia que ela estava lá, e de alguma maneira isso o confortava.

Enquanto estivesse sob a cidade, estaria protegida. Nenhum conquistador seria louco de levá-la para longe, ou a colocaria em perigo.

Havia sido espalhado por toda parte, e a história continuava a correr na boca da gente miúda, que se despertasse, sua querida Ejo iria levar consigo toda a Ilha, destruir cada parte daquela terra abençoada e amaldiçoada.

Mas sabia a verdade.

E por isso ele nunca mais a veria, só sentiria sua presença.

Então o litoral sofreria com suas lágrimas todo dia em que Alhadef sentisse falta dela.

***


Ejo amava a natureza. E sabia que a floresta, toda a extensão de rios e árvores frondosas e das praias a amavam de volta.

Chamavam aquela terra de Upaon Açu, Ilha Grande, e toda sua volta era coberta pelo mar salgado.

Várias vezes a jovem espírito se deixava transformar em sua forma mortal, só para sentir a brisa dos ventos acariciar sua pele ou a espuma do mar beijar seus pés descalços.

Mesmo na pele mortal, seus olhos ainda lembravam o de uma serpente. Eram verdes como a mata profunda, as pupilas eram finas e podiam ver na distância. Toda a superfície da pele brilhava como escamas multicoloridas e os cabelos caiam como um manto de noite sem estrelas.

Era de Filha de Oxumarê e o povo nagô levantava cantos para ela e deixava presentes nas rochas polidas, para que abençoasse seus caminhos na mata alta.

Eles haviam sido tirados de sua própria terra e arrastados para aquele continente. Muitas noites, Ejo ia dormir chorando por cada uma daquelas almas partidas. Ela mesma havia decidido segui-los. Por toda parte, aonde quer que seu povo pisasse, sofria naquelas terras. E ela tentava, junto com os outros espíritos e Orixás, segurar a mão deles enquanto choravam.

A Serpente - Conto FolclóricoOnde histórias criam vida. Descubra agora