Odor das Rosas

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O enorme corpo do presidente afundava no líquido vermelho, a cabeça sem pelos repousando serena à borda da piscina

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O enorme corpo do presidente afundava no líquido vermelho, a cabeça sem pelos repousando serena à borda da piscina. Podia estar mergulhando em um lago de sangue, mas o aroma era agradável e o salão erguido em colunas gregas deslocava-o a um ambiente sagrado, olímpico.

As borbulhas a subir da água se juntavam à espuma para contornar o sujeito, até chegarem aos pés do rapaz do outro lado. Este, embalando o corpo com o único braço, encarava o outro com um ar de dúvida.

O presidente fechou os olhos.

— Não vai entrar, Jet? — indagou. — Não sinto o seu corpo na água também.

Jet engoliu em seco e mergulhou os pés nos degraus mais fundos da piscina, deixando que seu corpo longilíneo fosse coberto pela água.

— Estou aqui, senhor.

Um sorriso correu os lábios finos do mais velho.

— Estamos sozinhos, Jet... Pode me chamar de Acácio aqui dentro. Não tem ninguém olhando.

Jet estava sério, porém fingia uma expressão serena.

Deixou as costas tocarem a parede da piscina e olhou para o teto do salão, tentando relaxar. Ali dentro era diferente dos outros lugares da cidade: a fumaça era só o vapor da água quente, a luz era suave e esbranquiçada, música clássica tocava a um volume agradável e um aroma doce pairava, distinto de tudo que os sentidos do rapaz reconheciam. Parecia virtual, um lugar fora da realidade.

— É claro... Acácio.

O homem gordo repousou os braços na borda da piscina. Todo o corpo era carne e a pele num branco imaculado pelo sol.

Ele riu.

— Não seja tímido, rapaz. Fique à vontade. Agora que você vai ser um homem de sucesso, é melhor aproveitar — disse, mostrando os dentes brancos. — Está sentindo este odor? Gostoso, não é? Os cientistas chamam de rosácea. Um tipo raro de florescência que a minha família tem conservado através dos anos. Conto nos dedos os homens que o experimentaram no último século e agora você está entre eles. Espero que entenda o quão grande é isso.

Jet passou a língua pelos lábios.

— Eu só fiz o meu trabalho, senhor... Digo, Acácio.

O presidente finalmente abriu os olhos e o encarou. Parecia estar se divertindo.

— Vou dar-lhe um conselho que espero que leve para a vida, Jet. — Os olhos eram azuis límpidos e pareciam perfeitamente saudáveis. — A partir de agora, você deixa a humildade na porta.

O rapaz mordeu o lábio, sem entender. Acácio fez um meio sorriso.

— Um homem do nível que você está para alcançar não se pode permitir esse tipo de insegurança, sabe? — Riu novamente, balançando a cabeça. — Ah, é hilário vê-lo aí, nu como veio ao mundo, em águas vermelhas. Há dois anos, era só um hackerzinho, um pivete; agora veja só.

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