five. goodbye means forever

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Abri meus olhos, assustada. Não me lembro como cheguei até aqui, e muito menos onde eu poderia estar. No entanto, assim que me sentei, percebi o conforto da cama de casal e o pesado cobertor me cobrindo.

Os raios de sol entravam pela janela semiaberta e o vento refrescante que chegou até mim me fez perceber a falta do meu casaco. Olhei em volta, ainda atordoada por ter acordado e não encontrei ele, mas percebi, então, uma fotografia pendurada na parede do meu lado esquerdo.

Era ela.

Mais jovem e irradiava uma felicidade distinta da atual, suas feições de criança traziam paz para mim, seu cabelo mais loiro e ondulado e os olhos azuis — ao seu lado havia uma garota de cabelos azuis, sorrindo abertamente: me levantei para vê-la melhor, e ela me lembrava muito alguém. Alguém que eu não via a muito tempo.

Na fotografia, que se mexia devagar e repetidamente, as duas pareciam estar em Hogwarts, por volta do segundo ou terceiro ano. A garota de cabelos tingidos puxava uma mexa loira de sua amiga, tirando-a do seu rosto, e logo após depositava um beijo em sua bochecha.

Trinquei meu maxilar e olhei em volta, percebendo então estar no quarto dela. Na casa dela. E agora eu percebo como fui ingênua ao pensar que essa garota pudesse me trazer algum tipo de consolação. E embora ela tenha, realmente, trago conforto a minha pessoa, ela não é meu marido.

Aquele que eu jurei conviver e amar por toda a eternidade, se assim, meus pais desejassem. Aceitei estar com ele há muito tempo atrás e não posso falhar como esposa. Não posso ser como ele.

Me virei, e ela estava parada na frente da porta aberta. Tentei não mostrar que eu me assustei, mas minha respiração saiu pesada da minha boca. Ela sussurrou um pedido de desculpas e eu concordei.

─ Que bom que acordou. Eu fiz café da manhã e se tiver com dor de cabeça ou algo do tipo, tenho uma poção para ressaca. ─ ela disse.

─ Estou bem. Só gostaria de ir embora. Quero ver meu filho e há algumas coisas que eu preciso fazer...

─ Não precisa se desculpar. Pode ir, minha porta está sempre aberta... para sair ou entrar...

Esperei ela me dizer onde meus pertences estavam. A garota de cabelos azuis não saindo da minha mente, embora nunca a tenha visto parecia-me muito familiar.

Olhei em volta, o silêncio desconfortável me incomodando. Ao lado da cama, meus saltos estavam postos em pé e alinhados — talvez ela tenha os colocado ali, depois de me colocar na cama. Com uma criança. Como Lucius nunca fez.

Apressadamente coloquei meus saltos e a olhei, vendo seu rosto cansado e um pouco pálido para o meu gosto.

─ Irei te levar até a porta, uh, seu casaco está lá embaixo. Não se preocupe. ─ ela sorriu sem mostrar os dentes, mostrando suas covinhas.

Concordo e passo por ela, devagar. Desço as escadas e assim que chego ao primeiro andar tento me lembrar por onde entrei, para assim, ir embora.

Pego meu casaco e o coloco, me agarrando a seu calor. Olho por cima do meu ombro e a vejo, novamente, parada como uma estátua, creio que com medo de se mexer, e quieta em seu lugar. Parecia pensativa, quase até apreensiva.

Gostaria de ler sua mente e saber o que há com ela.

─ Obrigada por cuidar de mim. E obrigada por fazer o café da manhã, mesmo que eu não tenha comido, o cheiro está ótimo.

Ela acena, envergonhada.

─ Tchau e... e não tem por que agradecer, foi um imenso prazer recebê-la aqui. Narcissa Malfoy.

Antes que eu passasse completamente pelo quadro, agora aberto, o silêncio sobre nós se fez presente – fiquei surpresa por sua coragem ao proferir meu nome tão suavemente e com tanta força de vontade. Saiu de seus lábios e chegou até mim como algo angelical.

Me virei, respirei e olhei para ela. No fundo de seus belos olhos, onde morava a esperança. Queria fazer uma pergunta, aquela eu sempre me esquecia quando estava com ela, sua presença me tonteando, e quando me lembrava já estava longe o suficiente.

Antes que eu pudesse dizer algo, ela murmurou em baixo tom, mais belo nome que eu pude conhecer: S/n.


...



Já faz mais de quatro meses desde que a vi pela última vez. Tentei ao máximo não sair de casa, mesmo que, agora com as festividades de final de ano chegando seja meio impossível me esconder dela se eu a encontrar pelas ruas.

Lucius e eu sempre fazemos uma grandiosa festa de Natal, que acontecerá em menos de uma semana, convidaremos, como sempre, a maior parte dos mais famosos bruxos. Nossa residência — ou a dele, como ele gosta de dizer —, está no momento ocupada por vários elfos domésticos colocando as decorações em seus devidos lugares para semana que vem.

Meus planos para hoje é comprar presentes para minha família — no caso, meu filho, Draco. Esse que chegará amanhã após o café da manhã, assim então terei bastante tempo para ficar com ele e aproveitar os poucos dias de suas férias.

─ Irei comprar os presentes para Draco. Voltarei antes do anoitecer. ─ eu disse para meu marido, que acenou e passou por mim, indo para seu escritório.

Suspirei e caminhei para as escadas, dizendo aparatar e logo me vejo em frente a famosa loja de roupa para bruxos. Entrei e fui procurar uma roupa para meu filho, me entretendo com os pequenos bruxos correndo pela loja com suas mães.

Eu sentia a falta desse sentimento. Quando Draco era pequeno e frágil. Ficava sempre ao meu lado, necessitando da minha presença para deixá-lo feliz – mesmo sabendo da inexistência disso, eu queria outro filho.

─ Sra. Malfoy, como posso ajudá-la?

Pisquei, assustada.

Olhei para o lado e vi a mulher que sempre me ajuda quando venho até a loja. Sorri para ela e neguei, indo em direção aonde as roupas de Draco, que pedi para serem feitas por medida, estavam.

Dei a quantia de galeões para o alfaiate e fui embora, segurando a caixa com a roupa do meu filho com um braço.

Caminhei por Hogsmeade, inerte as pessoas ao meu redor. Estou feliz por poder caminhar sem meu marido ao meu lado, somente com o intuito de me fazer ficar infeliz.

Vamos logo, Nini! ─ olhei para o lado ao ouvir a tão linda voz da garota que me acomodou em sua casa, e lá estava ela, saindo da loja Dedos de Mel com os braços cheios de doces.

Respirei feliz por vê-la, e um pouco receiosa. Eu queria falar com ela, saber se ela estava bem e perguntar como passaria o Natal, no entanto, quando dei um passo em sua direção, uma garota saiu da loja e se agarrou a ela.

A garota da foto, só que, mais velha e com a tonalidade de cabelo diferente. As duas pareciam felizes, com um sorriso grande no rosto.

─ S/n não entendo porque tanta pressa, seu aniversário não vai sumir de uma hora pra outra.

A loira deu de ombros, e resmungou algo, mas não pude ouvir pois elas já estavam longe o suficiente. Senti uma lágrima cai, mas limpei rapidamente, não querendo ser vista assim.

Um floco de neve caiu nas costas da minha mão, essa que eu tinha limpado meu rosto.

Ela merece a felicidade, não entendo porque estou triste, eu a deixei ir. Na verdade, nem a deixei me conhecer inteiramente.

𝐑 𝐔 𝐌𝐈𝐍𝐄,     narcissa malfoyWhere stories live. Discover now