O monstro desapareceu

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Nota rápida da autora~
Feliz aniversário ao mineirinho 😔💖 esqueci de postar no dia 16 por estar correndo com várias coisas da minha formatura, mas não podia deixar de postar
Apesar de não ser foco no Rodrigão, aqui as estrelas são os dois maiores amores da vida dele (só perdendo pra dinheiro): São Paulo, o maridão, e BH, a filhinha amada adorada de ouro do papai

Essa fic foi baseada em um poema de mesmo nome, Noturno em Belo Horizonte, de Mário de Andrade~ e é simplesmente incrível como ele capta e narra a cidade como uma criança, protegida pelos montes da Serra do Curral, nascida nos primórdios da República, um sopro de renovação pro Estado de Minas ❤️ e o que melhor de representar, senão com o melhor padrasto do país (segundo o próprio Paulo)

Por isso, aproveitem a fic com amor no coração ~~~

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Caminhando de volta pelo caminho de pedras do jardim, São Paulo vinha com calma inusual, boca fechada para que não lhe escapasse nenhum som alheio ao da cidade ao seu redor, atenção sempre nos cílios pequenos do embrulho em seus braços. 

Maravilha de milhares de brilhos vidrilhos, 

Calma do noturno de Belo Horizonte... 

O silêncio fresco desfolha das árvores 

E orvalha o jardim só.

Isabela ainda não havia dormido. Lutava contra o sono com o rosto apoiado em seu ombro, mãozinha segurando sua gola como se na esperança de se segurar caso cambaleasse mais uma vez. O paulista estava segurando o riso mas não o sorriso, prendendo suas provocações enquanto fechava a porta e se dirigia às escadas, degrau a degrau mais perto de um calor mais quente que o doce frio noturno que se achegava pela Serra do Curral. 

Há uma ausência de crimes 

Na jovialidade infantil do friozinho. 

Ninguém. 

O monstro desapareceu.

Era a primeira vez que Belo Horizonte se deixava aconchegar com Paulo. A menininha arisca sempre fugia de suas íris, com passos apressados e presa em seu próprio mundinho embaixo da mesa, acariciando os cabelos de algodão de sua boneca favorita. Passos de tartaruga, Minas Gerais lhe diria com esgar consolador. Poucas de suas crias tinham comportamento tão introspectivo ao seu redor, tornando a experiência tão única quanto podia parecer. Talvez Rodrigo já soubesse disso, rindo baixinho toda vez que suspirou exasperado em outra expectativa frustrada de se aproximar.

Nos últimos tempos, havia se tornado mais fácil ser convidado ao universo misterioso de Isa. Os risos tímidos e olhares fugidios quando a chamava alegravam-no, na esperança infantil de entender o que as palavras ainda tropeças queriam dizer. Mas, naquela tarde, um telegrama de urgência tirou o mineiro de sua casa, deixando-os pela primeira vez a sós. Somente ele, Belo Horizonte e o silêncio do casarão. Só por algumas horas, porém a mineirinha não fez nenhuma outra tentativa grande de contato, agoniada ao olhar para a porta da sala a cada minuto. Foi um desafio fazê-la comer o jantar que as empregadas haviam preparado – contudo, não pestanejou quando perguntou em voz mansa se poderia lhe mostrar o “jardim do papai”. 

Torres torreões torrinhas e tolices 

Brigaram em nome da? 

Noturno de Belo HorizonteOnde histórias criam vida. Descubra agora