Pain in my veins

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Atenção: essa história contém gatilhos sobre saúde mental! Caso seja sensível a isso, por favor, não leia.
Destaco que a história não busca romantizar de forma alguma o suicídio e a depressão! Reforço que caso você se identifique com alguns sintomas ou sinta que precise conversar, busque ajuda e disque 188. Sua vida importa!


Cecília Meireles escreveu: “Tudo em ti era uma ausência que se demorava:
uma despedida pronta a cumprir-se.”

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Tinha aquela constante dor que ninguém nunca o havia avisado antes. A sensação de vazio, de que nada tinha sentido em sua medíocre vida.

Dormia, acordava, ia trabalhar e repetia as mesmas coisas, os mesmos atos, todos os dias. Era tudo tão automático que nada o despertava alguma emoção.

Ninguém fala sobre como os problemas do mundo vão se juntando dentro de si, até se tornar uma combustão que toma toda sua fé e te destrói em uma tempestade de fogo. Ninguém avisa que o luto desencadeia uma constante saudade que rasga o peito.

Sentia-se sufocado com aquela angústia sem fim.

Havia perdido a pessoa que mais amava no mundo, e agora estava sozinho. Não havia nada; ele não era nada.

Seis meses de luto não haviam o livrado da dor. A licença que pegou do trabalho não o ajudou. Ele não tinha nenhum rumo.

Encarava o céu estrelado a sua frente. Imaginava que de algum lugar lá em cima, seu amado estava o olhando; talvez ele até estivesse esperando por sua companhia.

Olhava os desenhos que outrora havia se dedicado a fazer. Eram felizes, coloridos e mostravam o melhor do mundo. Os desenhos atuais eram diferentes. Tinham rabiscos grosseiros, fervorosos; nunca mais haviam sido coloridos.

Seus soluços eram o único som daquela imensa casa. A noite era silenciosa, um convite para que ele encontrasse paz em meio a escuridão. Uma paz que ele via cada vez mais distante.

Pegou um papel e uma caneta. Não tinha para quem escrever. Não tinha mais ninguém em sua vida. Sua família havia se ido; seus amigos só se importavam com sua fama e dinheiro, nunca se importaram de verdade com sua saúde e no momento que caiu no fundo do poço, todos o abandonaram. O que lhe restava? Somente um coração partido e a solidão de um mundo injusto.

Era apenas humano, não era justo que suportasse toda aquela tragédia e tivesse que fingir sorrisos. Era feito de carne, ossos, músculos e também sofria hematomas; também sangrava e morria a cada dia.

Suspirou. Engoliu suas lágrimas, porque até elas haviam secado em determinado momento. Até elas haviam desistido de si.

Jogou o papel em branco no chão. Largou a caneta com um baque. Aquilo era idiotice.

Se levantou da poltrona onde estava e foi em direção a adega. Olhou para um vinho específico, o favorito de seu amor. Estava na metade, pois ele não tinha tido tempo de terminar.

Jisung o terminaria por ele, naquela noite.

Sentou-se novamente, não se importando em pegar uma taça. Pegou sua cartela de remédios... aqueles que o psiquiatra disse que os ajudaria para sua depressão.

Misturou tudo, tendo plena noção das consequências.

Não se importou. Não pensou.

Bebeu no gargalo o vinho doce e o engolia junto às pílulas amargas.

Fechou os olhos e viu as estrelas mais perto. Elas o alcançaram.

Viu o sorriso conhecido de seu querido e enfim o pode ter de volta em seus braços.

Ele havia desistido de tudo; queria se libertar, e a dor se esvaziava de suas veias. Agora, ele poderia voar.

Não da maneira que ele sempre quis. Não vivendo em seu mundo colorido e dos sonhos. Por todo aquele tempo, ele só precisava que alguém o tivesse dado um abraço e um afago.

Por que as pessoas eram tão insensíveis com seus iguais?

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