UMA FILHA

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  Os dias voaram naquele cômodo em que me mantinham presa, não era uma novidade estar novamente em cárcere privado em um quarto com Lúcia. Meus pais mesmo o fizeram depois de que cheguei a puberdade.

Nunca soube o motivo pelo qual meu pai e minha mãe resolveram me trancar de repente, mas com o tempo me acostumei e como também não tinha amizades ou laços com ninguém fora da família, não havia por quem eu querer fugir.

Assim como em casa, em meu novo cativeiro haviam livros, uma linda vista para o jardim de trás da casa e muito tempo livre. Passei meus dias imaginando as histórias que lia, às vezes tinha a visita de Lúcia e nos horários pontuais recebia as refeições por uma passagem na porta.

Nada ali me incomodava ou me amedrontava de fato, exceto pelo mistério do comprimido.
Eu o estava tomando todos os dias após o jantar e sem estar doente, o que me deixava pensativa sobre qual a sua função.

Nada mudou em dois meses até que na última semana do quarto mês, segundo o guarda do outro lado da minha porta, uma febre estranha tomou conta da área em volta do meu seio.

Em um sábado, recebi a visita de Lúcia enquanto ainda recém despertava e foi pela expressão da mulher que eu soube haver algo errado.

Corri para o espelho do banheiro no quarto e notei aí que toda a minha camisola branca se via quase transparente por um líquido que escorria do meu seio.

Ela chamou os guardas pensando que assim eu poderia ser atendida por um médico, mas assim que abriu a boca, foi levada e meu tempo com ela naquele dia foi proibido.

No dia seguinte, fui bem alimentada, mais que o normal, me trouxeram um vestido e duas mulheres que jamais vi em minha vida surgiram no quarto com uma série de maletas.

A contragosto, me vestiram e pentearam. Mais tarde naquele  domingo, sai do quarto pela primeira vez. Desci às escadas da casa e me deparei com uma sala repleta de pessoas, todas me cumprimentando com sorrisos e me chamando de senhora.

Eu tinha apenas dezoito, nem mesmo havia passado pelo "senhorita" e já estavam pulando para o título de "senhora".

Tentei pedir ajuda a alguém, até que um braço enlaçou minha cintura por trás, quase me tirando o fôlego.

— Está linda. — Uma voz masculina diz ao pé de meu ouvido.

Me viro e o reconheço.

— É você!

— Não haja como se não me conhecesse. É minha esposa… — Ele me adverti.

— Como é?! — Tento me afastar.

— É o que ouviu. Você é a Sra. Belyaev, minha esposa.

— Não. Não sou!

— Se não se comportar bem, garanto que irá se arrepender se eu tiver que adestra-la.

Sua advertência vem acompanhada de um sorriso maníaco e que me causa arrepios por toda a espinha.

— Boa garota. — Beija minha bochecha e vamos para o centro da multidão.

  O observo ganhar a atenção de todos batendo uma faca contra uma taça que julgo ser de cristal. Assim que tem todos voltados para nós, ele volta a faca para uma bandeja que é entregue pelo garçom, e enquanto em uma mão segura a taça de champanhe, sua outra está de volta em minha cintura.

— Quero que conheçam Laura!

Lúcia aparece ao topo das escadarias segurando algo nos braços.

Quando ela chega próximo a nós, me entrega um pequeno pacote que se remexe em meus braços e de repente noto ser um bebê.

A governanta então se afasta e ele se volta para mim declarando a todos:

— Nossa filha!

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Amamentando LauraOnde histórias criam vida. Descubra agora