Capítulo 14 - No Subconsciente

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Capítulo 14 - No Subconsciente

Os orbes que me encaravam não eram os azuis e gentis que sempre me ajudaram. Eram vermelhos e queimavam como uma fogueira.

— Chelon? — eu sussurrei.

Escutei um rugido baixo que fez os pelos da nuca eriçarem. Uma garra engatinhou para fora da escuridão. A cabeça esquelética de um animal com chifres se revelou, os olhos fixos em mim. Minha voz havia me abandonado e permaneci estática, apavorada demais para me mover.

A criatura se aproximou, pareceu me farejar por um momento e abriu a boca. Uma língua bipartida começou a tatear meu rosto, esfregando-se na minha bochecha e descendo ao meu pescoço.

Aquele não era Chelon, não podia ser.

— Não! — despertei. Hiz me olhava confuso.

— Está tudo bem? Você parecia sofrer. — Eu o encarei tentando entender o que acontecia. Hiz estava preocupado comigo?

— O que foi? Não posso me preocupar? — Ele ficou vermelho.

— Estou bem. — falei entre risos. Olhei para o lado e vi que Chelon dormia. O céu ainda estava escuro.

— É cedo, vamos deixar ele descansar um pouco mais. — Hiz me ofereceu um fruto de Mi e comemos nosso desjejum em silêncio.

O dia clareou e Chelon continuou imóvel.

Quanto tempo havia se passado desde que acordamos? Quantas horas? Era tão difícil calcular o tempo nesse mundo!

Hiz estava largado num monte de feno. Sabia que ele não dormia embora seus olhos estivessem fechados. Ele mexia a cabeça de um lado a outro, parecendo ponderar sobre assuntos que nem imaginava. Me perguntei se o Sombra se dava conta de que vez ou outra soltava um resmungo contido.
Será que ele estava preocupado?
Minha atenção deixou Hiz e se voltou para meus pés que sapateavam involuntariamente. Os dedinhos se moviam inquietos dentro da bota surrada. A lembrança do pesadelo me cutucava, dúvidas surgiam, questionamentos que, provavelmente, não encontraria respostas.

Depois de um tempo, comecei a ficar preocupada. Olhei para Chelon, ele sequer parecia vivo. A aparência de esqueleto não ajudava, se não fosse o corpo com aparência saudável, pareceria a carcaça de um animal.  Senti um peso no peito com esse pensamento cruel. Chelon não era nenhum animal...

Me aproximei do necromante e o observei em silêncio. O peito se movia, estava respirando.

— Ei! O que pensa que está fazendo?! — Hiz quase berrou ao me ver sentada ao lado dele.

— Só estou vendo se está tudo bem... Não devíamos acordá-lo?

—Não ! — ele rosnou.

Eu parei de falar de repente e o encarei. O arqueiro bufou.

— Pode ser uma reunião.

Aquilo não fez sentido algum. Reunião? Ele tá ficando biruta?

— Mas não é possível que nem isso você se lembre! Você pelo menos sabe que os necromantes são seres telepáticos, certo?

Hiz ficou esperando um sinal afirmativo que nunca veio.

— não ...? — eu murmurei. Ele revirou os olhos.

— Eles se comunicam com pessoas distantes usando esse poder. Incomodá-lo durante uma reunião, além de rude, pode deixar ele confuso, atordoado. Temos que esperar. Só por Oberon mesmo! Isso é etiqueta básica. Você parece que nem é deste mundo...

A TerceiraOnde histórias criam vida. Descubra agora