PARTES DE MIM - Daniel Gomes

Enclausurado

Correr não ajudaria. Não tinha nada atando seus braços e pernas, muito menos grades o mantendo em um determinado espaço. Tudo o que o cercava era escuridão. O homem tinha receio do que poderia vir do escuro, mas também desejava envolver-se em busca de uma saída. As vozes lhe asseguravam que uma hora a luz voltaria, o caminho lhe seria mostrado. Mas essas vozes nem sequer tinham rostos. Não pareciam estar no mesmo lugar ou sequer no mesmo ambiente. O homem se sentia sozinho, o homem estava sozinho. Sem saída, sem alguém, agora, sem esperanças. Ele pede socorro. Ninguém responde. Apenas mais uma voz o consolando sobre tudo se resolver e ele voltar para a luz. Mas o homem precisava de mais do que isso. Precisava saber como começar, qual passo seria o apropriado para encontrar a luz do seu caminho. Infelizmente não sabia quanto tempo estava ali, nem quanto tempo mais passaria naquele lugar. Sentou-se no chão e chorou, suas lágrimas não saíam, era atormentador, deveria conseguir chorar, ninguém estava ali para julgá-lo por ser fraco e perecer. Mas mesmo assim não conseguiu. Levantou-se, limpou as poucas lagrimas que conseguiram sair de seus olhos. E decidiu-se a ir por um lado, e foi. Três ou quatro passos no escuro ele encontrou uma luz, correu em direção dela, e percebeu que já estava lá antes, largou seu sapato  e correu na direção de onde veio, e encontrou seu sapato lá. Ele estava andando em circulos. Mais uma vez uma voz o consola. Ele agradece. Tudo vai dar certo. Quando levantou a cabeça ele percebeu que a sombra estava mais próxima de seus pés, levantou-se. E deu alguns passos para trás, a essa hora as vozes cessaram. O homem grita por alguém. Alguém que nunca chegou. E nunca chegaria para ajudá-lo. Gritou mais uma vez, mas sua voz não emitia mais som, seus pedidos de socorro não tinham mais valor, não tinham mais servidão, não eram mais notáveis. A escuridão consumiu o homem desesperado.