O homem no Mar

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A brisa soprava no mar calmo, o barco do homem solitário balançava devagar, não havia medo de que ele virasse, pelo contrário, era mais crível que o homem o fizesse. Ele, o rapaz, olhou para um lado, lá estava a praia que ele abandonou há três dias, do outro lado, com o dobro da distância, ele via uma ponta de terra. Uma promessa de algo diferente daquilo que ele abandonou. Sua comida estava escassa.

Então olhou para cima, o sol estava quente, sua pele descascava pelo ressecamento.

Então desceu sua visão para a água do mar solitário, tudo o que ele via era a loucura que aguardava ansiosa para tê-lo em seus braços. Seu reflexo não tremia. Ele podia ver sua alma do outro lado. Ver toda a insegurança que sentia, a dúvida que persistia, o arrependimento da viagem que embarcou. Abandonou tudo aquilo que lhe era garantido, aquela pequena, porém conhecida, ilha que foi o local onde cresceu, mas também que agora o sufocava, e que não lhe cabia mais, ou, então, aquela promessa de mudança, de recomeçar, de ver o novo.

Ele não tinha mais a praia, muito menos ainda tinha pisado na terra desejada. Tudo o que ele tinha era o mar, o mar e a si mesmo refletido na sua superfície. Uma imagem que não lhe agradava. Sua comida estava escassa, lhe restava por mais uns três dias, se ele racionar, poderia chegar perto do destino, mas não em terra firme, de acordo com seus cálculos, ele contaria com a ajuda de nativos que estivessem na ponta de terra para avistá-lo e oferecer resgate.

Horas depois de remar, a distância parecia crescer, porém o homem não desanimou. Passou agora a ouvir, além do som dos ventos, vozes, talvez fosse dos cidadãos dos dois lugares. Ou seria a loucura fazendo presença? Ele não saberia distinguir depois de tanto tempo sem contato com pessoas.

Mais tarde, um pássaro pousou em seu barco, ele o espantou, o animal roubou um de seus alimentos, o homem praguejou aos ventos, debateu-se em seu pequeno barco. Mais tarde ele viu o pássaro, e, aproveitando a noite, tentou capturá-lo, desleixou-se e caiu no mar, por conta do escuro, não conseguiu encontrar seu barco, de tanto debater-se – pois não sabia nadar, entregou-se ao mar, que sempre o acompanhou, o assustando e consolando-o, confirmando sua presença por todos os lados, era o mar, enfim, o seu destino.

Boiando, agora, o corpo do homem não debatia mais, muito menos respirava, sua vida já havia se esvaído, mas ainda estaria o homem vivo por todo esse tempo a deriva?

PARTES DE MIM - Daniel GomesOnde histórias criam vida. Descubra agora